O país que voltou aos holofotes diplomáticos em 2023 por ser vital para a China e os EUA na Ásia  

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Os presidentes Joe Biden e Xi Jinping o visitaram este ano alterando o status das relações comerciais e diplomáticas mútuas

Estátua de Ho Chi Min na cidade que leva seu nome. Hoje, o Vietnã não é mais aquele país “atrasado” que resistiu aos franceses e aos norte-americanos. Foto: Ministério do Turismo do Vietnã

No início deste ano, o presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, visitou o Vietnã e declarou que a parceria entre ambos os países seria elevada ao nível de “estratégica abrangente”. Nos dias 12 e 13 de dezembro, o presidente chinês Xi Jinping esteve no Vietnã para anunciar um novo capítulo nas relações entre os dois países. 

O que tem feito EUA e China se voltarem ao pequeno país asiático, palco de duas guerras anticoloniais, uma contra a França (1946 a 1954) e outra contra os próprios norte-americanos (1959 a 1975), no transcorrer do século XXI?  

Aparentemente, a lógica prevalece: o secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã, Nguyen Phu Trong, declarou, durante a visita de Xi, que as relações com a China como a sua principal prioridade e “opção estratégica”.

Ocorre que o cenário é contraintuitivo, com nuances: os interesses de China e EUA na Ásia passam invariavelmente pelo Vietnã do lendário líder comunista Ho Chi Min. 

De qualquer maneira, os chineses procuram manter o Vietnã como um vizinho neutro e não hostil especialmente tendo em conta a doutrina fundamental da política externa dos EUA de instigar a divisão entre Pequim e os seus vizinhos como forma de contenção. 

Relações complexas 

O cientista político russo Timur Fomenko, ouvido pela Agência RT, destaca que a relação entre a China e o Vietnã é muito mais complicada do que parece, já que o Vietnã também é importante para os Estados Unidos.

Portanto, as iniciativas de Xi em Hanói se somam às vozes das grandes potências que procuram “ganhar” o Vietnã, devido à importância geopolítica que desempenha na luta pelo poder na Ásia.

“Embora o Vietnã seja um Estado comunista, isso não significa que a sua relação com Pequim seja amigável. Embora, claro, não seja abertamente antagônica ou hostil, a opinião popular no país desconfia da China, porque grande parte da história vietnamita envolve uma luta pelo poder para manter a sua independência das dinastias imperiais chinesas”, disse Fomenko.

O Vietnã reconhece a China como o seu parceiro econômico mais importante. Por outro lado, esforça-se por evitar a “hegemonia chinesa”. Isto não é apenas histórico, mas também moderno. Em 1979, a China invadiu o Vietnã como retaliação à invasão do Camboja pelo próprio Vietnã. 

Além disso, ambos os países têm reivindicações territoriais mútuas no Mar da China Meridional. Segundo Fomenko, isto leva o Vietnã a prosseguir com sua política de não-alinhamento e a desenvolver relações com muitas potências estrangeiras, incluindo os EUA, a fim de melhorar a sua posição estratégica.

Comércio: a milenar abordagem da China 

A China, em contrapartida, tem se disposto cada vez mais ao Vietnã com a sua arma milenar: o comércio. 

Do ponto de vista chinês, o Vietnã é um elo importante no comércio global e na cadeia de abastecimento porque lhe permite esconder o rótulo ‘made in China’ para evitar várias restrições comerciais impostas pelos EUA. 

Centenas de empresas chinesas investem no Vietnã precisamente por essa razão, e é por isso que o comércio chinês com a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) disparou para substituir o comércio com os EUA.

As empresas chinesas fabricam peças e componentes essenciais, enviam-nos para as suas fábricas no Vietnã, onde a montagem é concluída, e depois os produtos são enviados para os EUA e permite a continuação do comércio indireto da China com os EUA, acelerando a integração das economias vietnamita e chinesa.

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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