O REI ROBERTO CARLOS E EU: UMA RELAÇÃO TRAUMÁTICA

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Do Facebbok do historiador Luiz Antonio Simas

https://www.facebook.com/luizantonio.simas/posts/1194909270598572

Bom, eu não vi a entrevista do Jô Soares com o Roberto Carlos. Admito: não gosto de Roberto Carlos e nem do Roberto Carlos. Faz parte. Sim; já tentei gostar. Escutei, conheço muita música, mas acho rigorosamente detestável. Faz parte (peço encarecidamente que evitem tentar me fazer gostar do rei. Acho uma bela de uma bomba).

Dito isso, quero admitir que essa minha aversão vem da infância e a culpa provavelmente é do programa natalino do rei, exibido na Globo desde os primórdios da televisão no patropi. Para que as amizades entendam o que afirmo, e deem um desconto, reproduzo um texto que escrevi, lá pelos idos de 2007, sobre um trauma que me acompanha.

O especial do Roberto me exaspera. Em todos os programas – rigorosamente todos – Roberto Carlos é surpreendido pela participação especial do parceiro Erasmo Carlos. A cena é a seguinte: a orquestra começa a tocar a introdução da música Amigo. Quando o rei inicia a canção, Erasmo entra sorrateiro pelo fundo do palco. Comovido com a inesperada aparição, Roberto chora.

Isso vem acontecendo praticamente desde Pedro Álvares Cabral – e ainda assim é uma surpresa para o rei. Pois bem, a minha falecida Tia Lita também era – todos os anos – surpreendida pela entrada do Erasmo e, emocionada, dava chilique, passava mal e ameaçava empacotar. Era ver a cena e cair em prantos:

– Ai, meu Deus, o Erasmo foi. Ai, eu não aguento. Eles estavam brigados. Fizeram as pazes. Eu vou morrer. Ano que vem não estou mais aqui com vocês (todas as velhas da família, aliás, costumavam anunciar no Natal a própria morte. No ano seguinte a coisa se repetia).

O fato é que resolvi em certa ocasião, numa daquelas cismas de garoto, impedir de todas as maneiras que o espetáculo dramático da minha queridíssima tia se repetisse no próximo especial do Roberto. Bolei uma estratégia muito simples: comecei desde agosto a falar pra velha que o Erasmo era presença certa no Natal do parceiro.

No dia do programa espalhei uns cartazes pela casa com uma frase curta e grossa: o Erasmo vai ! Na hora em que a coisa ia começar, falei pra tia que o Erasmo já estava no estúdio, preparado para cantar com o rei. Não tinha como falhar.

Falhou.

Aconteceu o seguinte. Na hora em que a orquestra atacou a introdução de Amigo – pápara pápara pápara – a velha virou-se para mim e, sinceramente comovida, disse:

– Lula (apelido de infância), obrigado por querer me deixar feliz contando uma mentirinha boba. Eu sei que o Erasmo e o Roberto estão brigados e não se falam mais. Li na Amiga do mês passado.

Meu avô, que não tinha a menor paciência pro rei nem pros piripaques da cunhada, falou na hora:

– Já deixei um copo de água com açúcar na mesa da cozinha. Quando ela der chilique, é só pegar.

Foi tiro e queda. No que o Roberto começou a cantar o você meu amigo de fé, ainda joguei a última cartada:

– Tia, o Erasmo vai entrar pelo fundo do palco.

– Que é isso, garoto. Hoje ele não vai, não. Eles estão bri…ai, meu Deus. Não é possível. Erasmo!

E a cena – inédita e surpreendente- se repetia pela décima vez.

Tenho até hoje, acreditem, a firme desconfiança de que não gosto muito de dezembro em virtude daqueles melodramas provocados pelo encontro dos parceiros da Jovem Guarda e das ameaças de infartos da minha tia. Nunca superei o troço.

A coisa é tão feia que termino essas mal traçadas fazendo uma revelação forte, daquelas que só pretendia relatar depois de morto, numa carta psicografada por um médium de mesa espírita.

Recentemente tive um pesadelo natalino. Sonhei, vejam só, que estava na gravação do especial do Roberto, na primeira fila do auditório. Quando o rei começou a cantar Amigo, me levantei e gritei feito doido: o Erasmo vai aparecer! Ninguém no teatro me escutou.

Subitamente adentrou o palco, com a roupa, os medalhões e as pulseiras de pregos do Tremendão, a minha tia. Mortinha da silva, com algodões nas narinas e o escambau. Acordei aos berros, tremendo feito vara verde. Nunca durmo tranquilo no mês de dezembro e não assisto aos especiais do Roberto desde o século passado.

 

Redação

20 Comentários

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  1. Não aguento mais o Roberto Carlos. . .

    Não aguento mais o Roberto Carlos no final do ano, mas sou obrigado a assistir por minha esposa não abre mão do show do rei no final do ano. Mas o Rei subiu no meu conceito ultimamente, por condenar o golpe sofrido pela presidenta Dilma. E meu caro Simas seu texto é muito engraçado, parabéns.

    1. Onde? Quando? Como?

      Jofran, vc diz que RC subiu no seu conceito “por condenar o golpe sofrido pela presidenta Dilma.” Isso aconteceu? Estranho, muito estranho, pois Roberto sempre foi a coxinhice encarnada. Pode me dizer onde viu essa notícia? 

      1. Respondendo. . .

        Oi ana s. vi na internet, não me lembro mais a fonte, fiquei tão supreso como você, pois se nao achava o rei Roberto Carlos um coxinha,  sempre o considerei um alienado político, ou alguém que sempre ficou em cima do muro por conveniência. Historicamente ele ainda leva uma ligeira vantagem sobre o Pelé, que sempre se manifestava a favor do governo que estivesse no poder, pelo menos R.C não abria a boca para falar de política.

  2. humor de primeira

    Implacável,

    Escolha perfeita.

    Finalmente um texto gozado, ou melhor, gozadíssimo, prá servir de contraponto à lixarada de notícias que domina o noticiário nacinal já há muitos meses.

    Hoje em dia, piadas e bom humor podem ser considerados artigos politicamente incorretos, e não duvido que apareça algum idiota prá reclamar do “velhas da família” ou coisa que o valha, porque esta doença chamada politicamente correto contaminou a quase todos. 

    Como eu já disse, este trololó, bullying e sei lá o que mais existisse na época da minha adolescência, eu teria conseguido uma prisão perpétua. O único “mal-feito” que ainda é tolerado fica por conta das piadas do joãozinho, pois há unas anos trouxe um lote com cerca de vinte piadas, a maioria delas de salão e, sabe-se lá o motivo, não apareceu ninguém prá reclamar, aliás, o que teve foram alguns elogios.

    Um abraço

  3. Que rei sou eu

    Nos anos 60 alguém criou uma equação que no lugar do tal de “X” era colocar um nome ou mais, criando o perfil do “queridinho” das meninas (os). O mundo inteiro fez assim e a indústria fonográfica, televisiva e imprensa de phoffoca agradecem. Rolou muita grana, drogas e “roquenrrol” e aqui na bananolândia não foi diferente e tinha prá tudo o quanto é “gosto”.

    A partir de Rio e São Paulo o bananal era invadido nas “radias” durante a semana e nas TV’s as melancólicas jovens tardes de domingos que cultuavam os RC’s e seus espelhos neuróticos tipo Wanderley Cardoso, Jerry Adriano (este quando saia do repertorio da tal JG e depois de dois “ uisquis” é, sem dúvidas, a melhor cópia de Elvis tupiniquim) e muitos outros, cada um para atender a “demanda” de determinado seguimento. Tinha os muitos “bregas” tipo Odair José, o Eduardo Braga, o lado “sertanejo” do outro Eduardo, o Araújo e sua muleta Silvinha.

    As Martinhas e Wanderleias , Nilton César e Gilliardi e muitos outros, e o Chacrinha (chato prá c…) intermediava todo$ e faturava muito. Todos podiam se “enquadrar” no que hoje se alcunha “coxinhas”.

    Como o tal de Roberto Carlos e o “amigo” Erasmo duraram tanto??

  4. Se me permite aprofundar

    Se me permite aprofundar filosófica e pernosticamente a questão, colega, a aparição do Erasmo, bem como a luta de telequete (é assim que se escreve? Aquelas lutas-livres, também do tempo do patropi, lembram? Eu adorava, sobretudo quando ganhei bala juquinha das mãos do Fantomas num circo) poderiam ser consideradas o rudimento mais rude das políticas de manipulação de massas ao estilo global. Explico: você sabe qe é mentira, sabe o que vai acontecer, mas quer ter a sensação outra vez. O previsível, seja bom ou ruim, nos dá um alento, um sentimento de que as coisas não são tão insólitas quanto parecem.Estou errado? É como historinha pra dormir. A criança até repete as palavras do lobo mau, canta as canções da Chapeuzinho Vermelho e, ciente de que o fechar dos olhos não será o fim do mundo, dorme tranquila, até a próxima noite.

    Daí, ser tão difícil às pessoas romper com as coisas que lhes dão este alento, por pior que sejam. Comunista tem seu lugar na história: o comedor de criancinhas; o príncipe é sempre um príncipe, a bela é sempre recata e do lar, o juíz é justo, o preto é vagabundo, o índio é o vilão do faroeste, a família é sempre Doriana, o heroi tem sempre queixo quadrado e um charmoso “pega-rapaz”… E o galã jamais – JAMAIS! – é deficiente físico com perna de pau.

    Pequenas mentiras, grandes consequências.

    Os que dominam sabem usar estas pulsões a seu favor como ninguém. Os que rejeitam uma vida centrada na ânsia por poder é que deviam aprender a controlá-las. Aliás, a própria pulsão pelo poder talves possa ser enquadrada neste mesmo processo.

  5. Eu não curtia Roberto Carlos

    Eu não curtia Roberto Carlos na época da Jovem Guarda por entender que mais importante era ficar antenada com os garotos que surgiam com suas músicas de protestos. Pra começar era vizinha de Chico Buarque e via com frequência Gal Costa, que se hospedava num apartemento mixa no Leblon, etc. Ou seja, eu era totalmente contra o regime militar, e precisava ouvir e ver todos que formavam um conjunto de compositores mito inteligentes, estudiosos do momento político, e que, poranto, falava por nós com suas canções. Enumerá-los seria impossível.

    Com o passar dos anos, porém, me dei conta de que estava enganada quanto a Roberto e Erasmo, sobretudo quanto a Erasmo. Roberto não existiria sem Erasmo. Este é profundamente inteligente, a meu ver. Conseguiu fazer três letras com a mesma música, falandodo dos pássaros, das aves, e outra coisa, com uma sensibilidade profunda demais sobre a ecologia. 

    A presença de Erasmo nos finais de ano ao lado de Roberto, é triste porque o Rei levou esse nome de forma meio injusta se considerarmos que o amgo de fé é tão ou mais imporante que ele. Acho que são coisas de sorte, que a razão não explica.

    De qualquer forma, eu hoje valorizo muito esses dois, embora não curta de jeito nenhum aquele show do final do ano, porque só tem superficialidade. Uma mesmice. 

    Quanto ao post de Luiz Antônio, está maravilhoso. Adorei,  e me ri muito.

    1. RC&EC

      maria rodrigues,

      Quando um artista completa 25 ou mais anos de carreira, se eu não gostei dele é porque eu não alcancei o talento que ele possui,  pois ninguém é capaz de enganar o público durante 25 anos anos.

      Quanto a Erasmo Carlos,nunca tive simpatia por ele até o momento em que prestei um serviço para ele,é pessoa extremamente simpática e educada.

       

       

  6. Impressiona tambem a grande

    Impressiona tambem a grande quantidade de cantores que fizeram suas carreiras imitando o Roberto Carlos. Amigos de juventude chegaram a acompanhá-lo em algumas gravações, não seguiram a carreira musical mas foram influenciados pelas músicas do rei. Nesse vídeo, João Dória no contra baixo….

    https://www.youtube.com/watch?v=5IkIr55_rVE

  7. Falsos idolos

    Um produto da REde Globo , tal qual Pelé (questionavelmente o maior goleador de todos os tempos) ,  Xuxa e toda essa tralha de cantores sertanejos que apareceram na década de 90, começando com Xitãozinho e Xororó e chegando nos dias atuais a Luan Santana . Refugos que ascenderam com o motor da Globo .  

    Um país carente de história e cultura , carência preenchida com falsidades de ídolos históricos como Tiradentes, no passado , e ídolos de merchandising na época atual , citados acima.

    Coisas absolutamente distintas da consagração de idolos autênticos como Elis Regina , Airton Senna , Villa Lobos . 

  8. O segredo do RC

    O grande segredo de Roberto Carlos foi ter obedecido á risca as ordens da midia. Tem um documentário que fala isto, que o Tim Maia era rebelde, não obedeceu, e por isto não foi pra frente na carreira tanto quanto o Roberto. RC, disciplinado, prosperou na carreira.

    Roberto tinha sim, muitas músicas com militância ecológica, como ” As baleias ” e ” Amazônia ” , mas a sua militância nunca foi além dos limites que a midia lhe traçava.

    A midia premia seus colaboradores regiamente.

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