Países árabes usam a questão palestina, mas não costumam se envolver, analisa Reginaldo Nasser

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Para o professor Reginaldo Nasser, a Palestina segue sozinha e diferente do que ocorreu com a Ucrânia, não há correlação de forças

Para o professor Reginaldo Nasser, a Palestina segue sozinha e diferente do que ocorreu com a Ucrânia, não há correlação de forças. Foto: Reprodução/TVGGN

Arábia Saudita, Líbano e Irã se manifestaram criticando de forma dura a reação assimétrica do governo israelense ao ataque terrorista promovido pelo grupo Hamas, mas não devem ir além disso. 

A análise é do professor Reginaldo Nasser ao jornalista Luís Nassif, no programa TV GGN 20 horas, que foi ao ar nesta quarta-feira (11). Ele acrescenta ainda que a narrativa “árabes versus judeus” foi lançada na década de 1960 pelo governo de Israel para dizer ao mundo que o país estava cercado pelos árabes hostis. 

“Países árabes sempre usaram a questão palestina e efetivamente o último envolvimento junto à questão foi em 1973. É um padrão. Nenhum país árabe entrou na guerra do Líbano, por exemplo”, explica. 

Além disso, o professor reflete: os principais parceiros comerciais de Israel são China, Rússia e Índia. “Não interessa a ninguém se envolver nesse conflito porque tem muita coisa em jogo. A questão palestina só se resolve com as potências internacionais dando um basta ao que ocorre e garantindo um Estado aos palestinos”, opina. 

Nasser explica que os palestinos estão isolados há muito tempo em termos de ação governamental por não haver um Estado. Recebem ajuda humanitária, mas nada passa disso. No caso da Ucrânia, aprofunda Nasser, houve uma correlação de forças estabelecida ao redor do país, o que não é o caso para a Palestina, que segue sozinha. 

Em todo caso, a causa palestina encontra eco nas populações árabes, o que obriga os seus governos ao menos a emitirem posições diplomáticas de repúdio às ações militares de Israel. Mesmo assim, Nasser aponta a notória rejeição aos palestinos por esses mesmos governos.

“No Líbano, 25% da população é de refugiados e lá existe uma lista de atividades profissionais as quais os palestinos não podem exercer. Na Arábia Saudita, há inúmeros casos conhecidos de palestinos que chegam no aeroporto, ficam lá três dias e são mandados de volta”, conta. 

Hamas inflado  

O professor também é enfático ao afirmar que a mídia Ocidental e o governo de Israel têm aumentando o tamanho do Hamas, sobretudo após o grupo ter furado o cerco de um dos países com mais proteção do mundo e tecnologia de inteligência militar para se precaver de ataques. 

Acontece que até mesmo em Israel a capacidade do Hamas tem sido questionada dando lugar a especulações de que o governo de Benjamin Netanyahu sabia que o ataque aconteceria, mas não agiu para usá-lo como forma de lidar com a rejeição e críticas internas sofridas pelo primeiro-ministro.

“Israel levou 7 horas para reagir. O Haaretz (principal jornal israelense) divulgou documentos da inteligência egípcia alertando Netanyahu de que um ataque estava para ocorrer. Nada foi feito. Então agora o governo diz que o Hamas atirou nas câmeras de vigilância, uma piada”, diz Nasser.  

Para o professor, não há o que se discutir quanto ao ataque do Hamas ter sido um ato terrorista criminoso. 

No entanto, o uso midiático de notícias falsas e imagens de outros eventos, como o enxame de paraquedistas descendo em Israel, cuja única foto que se tem com comprovação de veracidade é da BBC e mostra apenas um homem chegando de um salto em território palestino, leva a crer que o Hamas é um grupo que justifica o tamanho da reação israelense. 

“Crescer a importância (do Hamas) para Israel justificar o massacre, o cerco. Aonde isso vai? Israel exporta armas e de repente agora os EUA estão mandando armas para Israel (…) atacar uma rave? Além de ser um crime bárbaro, não é estratégico a meu ver. Acredito que falta informação pra gente entender muita coisa”, encerra Nasser.  

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

2 Comentários

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  1. Pelo menos aqui vemos um pingo de humanidade. No OperaMundi defende-se sem meias palavras o massacre contra civis israelenses e exalta-se o terrorismo do Hamas como método para uma ‘solução final’ contra os judeus israelenses que são metade dos judeus do mundo. Eu não entendo como pode-se defender o vale tudo bárbaro de um lado e de outro lado pedir comedimento à reação israelense. Em nome de uma causa justa entraram em um abismo moral. José Dirceu ameaçou, ao vivo, abandonar o programa do Breno caso este jornalista insistisse na tese de que contra o presumido invasor vale massacrar e sequestrar civis.

    O Reginaldo Nasser faz uma análise bem mais profunda da situação do Oriente Médio, em particular sobre a responsabilidade dos países árabes na situação dos palestinos. Israel absorveu a maior parte 800 mil judeus expulsos de países árabes, mas os países árabes não deram plena cidadania aos palestinos por motivos evidentes. Cmo mostra o testemunho do Nasser, os palestinos têm seus direitos cerceados dentro dos países árabes que são hostis a eles. Pelo que fala, em alguns casos, os palestinos têm menos direitos em países árabes do que têm em Israel os árabes muçulmanos que possuem cidadania israelense e são 20% da população do país. E que, além disso, os países árabes não contribuem diretamente para o avanço da questão palestina. Dito isso, é evidente que a não criação do Estado palestino tem bem mais do que um culpado (além dos governos de Israel, é claro).
    Sobre a importância do Hamas, o comentarista se equivoca. O fechamento da fronteira de Gaza tem o Hamas como CAUSA que entre 2000 e 2008 matou mais de 1000 civis israelenses com seus ataques à bomba contra mercados, restaurantes e ônibus quase sempre em locais de aglomeração de civis. O Hamas sempre foi o que se viu no dia 7/10 e é sim um elemento importante para o não avanço de qualquer negociação.

    1. Ocorre que em países Árabes os Palestinos são estrangeiros, na Palestina, são reféns em um xampu de concentração a céu aberto criado por Israel que, existe apenas pelo pode do sionismo colonialista apoiado por países que queriam se livrar dos judeus.
      E o Ópera Mundo não apoia o Hamas, apenas demonstra que o a Hamas não é causa, mas consequência do Apartheid, para dizer o mínimo, promovido por Israel. Lá mesmo no Opera Mundi o judeu Breno Altman, tem um vídeo de 1h40 contando a história do sionismo desde sua fundação no século XIX e se não basta consulte o historiador judeu Ilan Pappé, refugiado na Inglaterra diante das ameaças de morte que sofria em Israel.

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