Panurge, os juros e a imprensa brasileira

Duzentos e cinqüenta anos depois que Rebelais publicou sua obra, a derrama (cobrança do quinto devido à Coroa) era considerada essencial para o sucesso da Inconfidência Mineira. A mão que paga não é amada, mas nunca é rejeitada. A que cobra, porém, quase sempre desperta ódio no devedor.

A rebelião da imprensa contra a taxa de juros tem um ranço colonial. Cheira a mofo como os livros bons e velhos que os novos colunistas da Folha raramente tiram da estante. Por isto resolvi recorrer a Pantagruel para falar sobre os juros que a imprensa cobra do governo Dilma Rousseff:

“- Mas (perguntou Pantaguel) quando você se livrará das dívidas?

– Lá pelas calendas gregas, respondeu Panurge quanto todo o mundo for contente e eu serei herdeiro de mim mesmo. Deus me livre de me livrar delas. Pois então não mais encontraria quem uma grana me emprestasse. Quem de noite o fermento não deixa à mão não tem como de manhã fazer o pão. Quando se deve para alguém, este rezará continuamente a Deus para que nos dê uma vida boa, longa e feliz, temendo sua dívida perder; sempre bem de você falará para todas as companhias, sempre lhe arrumará novos credores para que você consiga tapar o buraco de um com a terra do outro. Quando outrora, na Gália, por instituição dos druidas, os servos, criados e camareiros eram queimados vivos nos funerais e exéquias de seus mestres e senhores, não tinham eles um belo medo de que seus mestres e senhores morressem, pois junto lhes era forçoso morrer também? E não rezavam continuamente para seu grande deus Mercúrio e para Dis, o pai dos escudos, a fim de que os conservassem longamente com saúde? Não se preocupavam em tratá-los bem e servi-los? Pois poderiam viver, ao menos, até a morte deles. Acreditem, pois, que em mais fervente devoção seus credores rezarão a Deus para que vivam, temerão que morram, da mesma forma que amam mais a gorjeta que a mão; e o dinheiro mais que a vida. Testemunha disso são os usurários de Escarlandina, que outrora se enforcavam quando viram o trigo e o vinho baixarem de preço e os bons tempos retornarem.”  (O terceiro livro dos fatos e ditos heróicos do Bom Pantagruel, François Rebelais, Ateliê Editorial, São Paulo, Brasil, 2006, p. 63/64)

O Brasil toma dinheiro no mercado para cumprir suas obrigações, mas alguns credores preferem que o país quebre. Foram estes que ficaram espantados, estupefatos, irritados e coléricos porque a taxa de juros não aumentou. Eles agem como se a mesma fosse muito baixa.

A  taxa de juros, contudo, foi mantida em níveis escandalosamente elevados. Baixar os juros seria a coisa certa a fazer, especialmente agora que os mercados estão sendo sacudidos pela crise financeira da China e pela falência da França que coloca em risco a existência da Europa (provocando um verdadeiro tsunami financeiro que certamente chegará ao nosso país).

Como sabiamente diz Panurge, os credores amam mais o dinheiro do que a mão que efetua o pagamento. Analogamente, podemos concluir que eles preferem a mão que paga um pouco àquela que nada mais poderá pagar. Raramente os credores matam seus devedores, muito embora o neoliberalismo tenha feito exatamente isto onde quer que tenha sido implantado. É evidente, portanto, que os investidores-gafanhotos (aqueles que gostam de lucro rápido e fácil e não tem qualquer compromisso com o bem estar dos povos que saqueiam ou pretende saquear) abandonarão a Europa e a China assim que deixarem de ganhar dinheiro ou que começarem a perdê-lo. Logo, se não queremos perder nosso país assim como franceses e chineses perderão os deles, devemos prestar atenção aos conselhos do interlocutor de Pantagruel.

“Matemos nosso devedor antes que nós mesmos sejamos mortos.” Esta é a lógica do Estadão e de todos os veículos de comunicação que criticaram o Banco Central. No entanto, os Barões da mídia não são apenas credores do Estado brasileiro. Eles devem ao Brasil dezenas de bilhões de dólares em razão de enviarem dinheiro ilegalmente para o exterior. Não é exatamente o devedor que eles querem matar e sim o credor que ousou cobrar as dívidas que eles não gostariam de pagar.

Dilma Rousseff fez a derrama que Tomás Antônio Gonzaga não ousou fazer. Este é o verdadeiro crime pelo qual ela está sendo submetida a duas devassas (uma em Brasília, chamada de Impedimento; outra em Curitiba, vulgarmente chamada de Lava a Jato). Ela é culpada por suspeita e, sobretudo, suspeita porque fez o que deveria ter feito. De uma forma ou de outra os devedores do Brasil querem esquartejar ou degredar a presidenta eleita pelos brasileiros. Impossível dizer como os credores do Brasil ficarão quando o país for incinerado durante as exéquias do governo petista e do PT. A conferir.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

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