Religião, Democracia e Direitos humanos, por Adriano Lima

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Religião, Democracia e Direitos humanos

por Adriano Lima

O ano é 2015. A cidade é o Rio de Janeiro; e a religião da vítima é o Candomblé. Uma garota de 11 anos de idade foi apedrejada na cabeça e insultada por dois rapazes que portavam a Bíblia na mão e se diziam cristãos pertencentes à igreja evangélica, de tradição pentecostal. Aproximadamente um ano após o acontecimento, jovens de todo país estavam refletindo sobre ‘os caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, na redação do ENEM 2016.

É um domingo ensolarado na capital do Paraná. Eu leio no Jornal Estado de São Paulo no dia 12/11/2017, que o Brasil registra uma denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas. A notícia do jornal Estado de São Paulo traz detalhes da pesquisa e informa que as religiões Umbanda e Candomblé são as maiores vítimas da violência religiosa. Porque o Brasil, um país formado de maioria de pessoas que pertencem à uma religião (mais de 90% da população) comete tanto crime de intolerância religiosa? Onde uma pessoa religiosa encontra base para a prática da violência?

Como cristão, confesso ser absolutamente incompreensível que alguém pratique atos de violência em nome de Jesus. Não há absolutamente nada na pessoa de Jesus que seja um incentivo à prática da violência religiosa. É exatamente o contrário: Jesus promoveu a paz, colocou o amor pelo próximo como mandamento constitutivo da fé cristã e ensinou que devemos amar incondicionalmente até mesmo aqueles com quem não concordamos.

Por outro lado, é bom lembrar que o ser humano religioso é também cidadão da República e está submetido à Constituição. Esta, afirma que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença” e é regida pelo princípio da prevalência dos direitos humanos. A violência religiosa é um caso escancarado da falta de respeito pelos direitos humanos fundamentais. Por isso, constitui uma necessidade urgente ampliar as campanhas de combate à intolerância religiosa.

A pessoa que optou pela pertença à uma tradição religiosa precisa saber que existe um altíssimo nível de compatibilidade entre a sua religião e os direitos humanos. Eu destaco três elementos que considero suficientes para fundamentar esta tese. O primeiro diz respeito àquilo que caracteriza o Estado brasileiro: a laicidade, o pluralismo e o respeito à diversidade. O segundo motivo é aquele interno de cada tradição religiosa: compaixão, promoção da paz e solidariedade são traços características de todas as religiões.

Finalmente, em terceiro lugar, podemos mencionar a regra de ouro, que perpassa muitas tradições religiosas. A expressão “não fazer aos outros o que gostaria que lhe fizessem” pode ser encontrada nos Analectos de Confúcio, no Tao-Te-Ching, na Bíblia Hebraica do judaísmo, nos Evangelhos de Jesus, ou no Nobre Caminho Óctuplo do Budismo. Portanto, fica claro que compaixão, solidariedade e respeito podem conviver de forma harmoniosa num Estado Democrático de Direito, pautado pelo princípio da laicidade, do pluralismo e do respeito à diversidade. Assim, é possível afirmar que não há autêntica vida religiosa sem um absoluto comprometimento e observância dos direitos humanos fundamentais.

Adriano Lima – professor no Centro Universitário Internacional – UNINTER, na Faculdade Batista do Paraná e na Faculdade Cristã de Curitiba.
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. São preconceituosos porque ignorantes

    Interessante observar no YT que os videos com musicas que remetem ao candoblé ou à umbanda têm muitos pontos negativos e, em alguns, uns comentarios preconceituosos de quem desconhece a importância dessas musicas e intérpretes como Os Tincoãs, Clementina de Jesus e até os afro sambas de Baden e Vinicius.

  2. A base da violência

    Onde uma pessoa religiosa encontra base para a prática da violência?

     

    Nos próprios textos religiosos.

    Nas religiões abrahâmicas (judaismo, cristianismo, islamismo) sempre  existe a distinção entre “nós” e “os outros”, fiéis e infiéis, povo escolhido e gentios.

    Ou vc se converte ou será perseguido. Se não for do grupo, pode ser morto sem dó.

    Matar os inimigos do povo escolhido aparece como perfeitamente normal em várias passagens da bíblia, e depois que Paulo ex-Saulo começou a pregar para os gentios,  aparece na tradição cristã e no corão também.

     

    As religiões apenas dividem os povos.

     

     

  3. Josué, por exemplo…

    Os hebreus inventaram uma religião – monoteísta, xenofóbica e misógina – e a aplicaram no “mundo”, ou seja, mataram quem eles queriam. Tomaram as terras, suprimiram os templos, saquearam as terras… 

    No velho testamento não tem Jesus. Tem Josué, por exemplo, que matou geral! “Não podia ver imagens!”

    O politeísmo do candomblé – e seus rituais cheios de imagens – é considerado, em pleno 2017, um prato cheio para fanáticos e ignorantes considerarem “proibido por Deus”, aí… “se autorizam” à violência.

    Em “nome de Deus” hoje é mais fácil atacar um terreiro do que uma mesquita, uma sinagoga, um prédio da maçonaria…
    Até mesmo porque muita gente da mesquita, da sinagoga e da maçonaria APLAUDEM!

    “Eu quero iBagens!” “Põe na tela!”

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