Rodrigo Janot – do golpe ao “acordo possível”.

Nos próximos movimentos do discreto Rodrigo Janot pode estar a saída imaginada pelo poder para contornar o golpe e tentar voltar à presidência da República. A antecipação das eleições.

janot

O impeachment não é mais interessante ao poder. Não que o golpe esteja afastado. É que Eduardo Cunha, por paradoxal que seja, é um complicador para a execução desse golpe.

Vamos concordar em algo sobre Eduardo Cunha, que não se trata de um idiota. Assim, aceitar o impeachment de Dilma nunca esteve em seus planos, e, tampouco, deixar de cultivar a sua iminência.

Esse era seu jogo e sua forma de angariar a simpatia do poder. E o poder é opositor desde que o PT está no governo. O poder busca anular as eleições de 2014 desde o momento em que Willian Bonner engoliu em seco, encarou as câmeras e pronunciou: “Dilma Rousseff está reeleita presidente do Brasil”.

Cunha sempre soube que lado assumir.

O que tinha a oferecer era o impeachment. O que queria, no entanto, era ele próprio ser alçado à presidência da República. Os desdobramentos da Lava Jato e o Ministério Público da Suíça invializaram seus planos. O poder não queria Cunha desde o início, mas precisava dos seus préstimos, logo, mantinha-o. E, nesse jogo em que os dois lados jogam com blefes e cartas marcadas, o impasse seria inevitável.

Esse é o momento atual.

E assim, é possível que Janot tenha sido convocado para destravar a partida.

Não foram os votos do PT no Conselho de Ética que precipitaram a aceitação do pedido de impeachment por parte de Eduardo Cunha. Suas manobras nesse conselho mostram que ele não o teme. Foram as sinalizações de Janot de que pediria ao STF seu afastamento da presidência da Câmara dos Deputados.

Sem a presidência, sem o poder de usar a chantagem do impeachment em benefício próprio. Não que o poder de chantagem de Cunha se reduza. Mas muda o foco, sai do executivo e volta-se contra os seus “aliados”. E aí o jogo é muito mais perigoso.

Logo, o movimento seguinte de Cunha foi o previsível. Dar ao poder algo que atraísse novamente sua simpatia. Por via de consequência, criar diversionismo suficiente para sair de cena. Ganhar tempo para costurar algum acordo. Virar novamente o jogo.

Deu certo em parte.

Reverteu a seu favor as posições do PSBD e de seus “movimentos sociais”. Picou Michel Temer com o ferrão da mosca azul, atraindo para si o grupo do vice-presidente dentro do PMDB.

Sintomaticamente as pressões de Janot refluíram.

Ocorre que aos poucos o poder foi percebendo que apostou no cavalo errado. Um impeachment de Dilma leva Michel Temer ao poder. Não que Michel Temer não tenha feito sinais de confiabilidade ao poder, mas Michel Temer é um fraco. Nunca teve o comando sequer do PMDB paulista, que foi de Quércia enquanto este viveu. Michel Temer no poder é Cunha no poder. E Cunha não é confiável, a partir do ponto em que possa se tornar mais poderoso que o poder.

Cunha precisaria ser afastado.

Michel Temer, além do mais, tem um inconveniente. Pode disputar sua própria reeleição. E um acordo em que ficaria no poder somente até 2018 não pode ser levado a sério. Não após sua “cartinha”. Temer joga mal, bateu o carimbo de traidor na própria testa.

As melhores fichas estão em Gilmar Mendes e o “seu TSE”. Gilmar é confiável ao poder, já deu provas disso. A cassação da diplomação da chapa Dilma-Temer e a posse de Aécio Neves seriam o ideal para o poder. Mas é de difícil palatabilidade. É golpe demais.

O Brasil parece ter se tornado muito complexo para um golpe “paraguaio”.

A solução parece estar sendo encaminhada para algo mais sofisticado. Um “acordo possível”. Com o país em frangalhos devido à longa crise política, com o processo de impeachment inviabilizando a continuidade do atual governo, afastar Dilma e Temer e convocar novas eleições seria uma solução aceitável até pelo próprio PT, desde que devidamente acuado.

Mas aqui Cunha é problema novamente. Nessa situação, um impedimento de Dilma e Temer, Cunha assumiria a presidência da República durante a transição.

Cunha precisa ser afastado.

Surgem novamente os sinais de Janot à Cunha. Por enquanto está cortando suas asas na condução do impeachment.

Vamos concordar em algo sobre Eduardo Cunha, que não se trata de um idiota. Deve ter entendido o recado.

Mas qual seria o acordo possível para Cunha?

Renúncia ao cargo de presidente da Câmara e apoio de seu grupo ao nome indicado pelo poder para assumir em seu lugar. Em troca, uma sanção no conselho de ética que lhe preservasse o mandato e o fórum especial, mantendo-o a salvo de Moro.

O novo presidente da Câmara manteria o processo de impeachment pelo tempo necessário à costura do acordão com o TSE cassando a chapa Dilma-Temer e definindo novas eleições. Cassados Dilma e Temer, findar-se-ia, por conseguinte, o processo de impeachment. Um nome confiável ao poder conduziria o executivo até as novas eleições.

Nelas, quem ganhasse levaria. Imagino que o acordo também preveja a não participação de Lula como candidato. A Policia Federal parece estar cuidando desse detalhe. 

Em 2016, inclusive, já estão previstas eleições para as prefeituras. Por que não aproveitar-se a oportunidade?

Acontece que, neste instante, o clima de traição contaminou de tal modo a cena política que para garantir esse “acordo possível” seria necessário um fiador externo acreditado por todas as partes envolvidas.

Se fosse imaginar um nome, diria: Rodrigo Janot.

 

PS: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia acredita que somente as eleições de 2018 legitimariam o próximo governante. Portanto, continua apoiando o Movimento Golpe Nunca Mais.

golpe nunca mais1

Redação

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Devir
    Sergio,
    que situação lamentável a que chegamos. Hoje O Globo ofertou a cabeça de Salomé em seu editorial, liberando-se dos liames a ligá-lo ao Sr. Cunha e à sua, espúria, serventia.
    Tua análise nos leva por um caminho muito triste para o nosso processo democrático, mas a realidade tem se mostrado realmente muito difícil. A todo momento, fiadores transformam-se em cúmplices, partícipes, responsáveis anulando o capital moral – portanto político – necessário para garantir um “acordo possível”, conforme colocado por você. Voltamo-nos a todo instante para este cenário de “terra arrasada” e é desolador perceber que não há a quem recorrer e muito pouco a se fazer. Os nomes escasseiam sob o enxame de denúncias e, pior, de suspeitas e ilações em permanente insolvência e renovação. A confiança, chama de qualquer construção, desaparece, afogada pela lama e pelo mar sem fim de suspeitas.
    Não sabemos que quadros dantescos advirão e daí a angústia e, em alguns casos, apatia de analistas, articulistas, jornalistas e pensadores da realidade brasileira, frente a este inóspito deserto de valores, a esta famélica e abandonada sociedade, vazios de palavras de alento e esperança – chuva salvadora para a lavoura ressequida – que possam nos manter, a todos, comprometidos com a construção e consolidação de nossa democracia.
    Obrigada por compartilhar tuas impressões. Te desejo um transcorrer dos dias pacífico e alegre nas Festas que se aproximam e no nascente 2016. Em franca oposição a tudo que temos visto e vivido.
    Abraço.
    Anna.

  2. Se o PT for um dos que

    Se o PT for um dos que acredita em Janot, então merece deixar o governo mesmo.

    Parece precisa sua análise; como você não incluiu nenhum lance do PT, penso que considera que este está perdido como cego em tiroteio não? Não tem nehuma estratágia por parte do governo? Nada, nadinha?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador