Discutiu-se a viabilidade dos ex-possíveis estados de Tapajós e Carajás. Divulgou-se a vitória do “não”. Mas o mais relevante não é muito comentado : na realidade há uma divisão de desejos, a eleição captou isso e não resulta em nada.
Independentemente de considerações sobre justiça histórica, custos de implantação, benefícios, interesses políticos, etc, etc, o Pará é dividido. Como se lidará com isso?
E, quando se fala em novos estados, qualquer discussão vira tempo perdido. Com a sistemática atual de consulta a respeito, quando a população da região a ser desmembrada for muito menor que a do estado original (e é sempre esse o caso), o resultado previsível será o mesmo: as populações da capital (quase sempre a maior de um estado) e dos municípios que ficariam no estado original, facilmente decidirão pelo não desmembramento.
No caso paraense, a população não-desmembrável era 2/3 do total. E quase absolutamente votou pelo “não”. Não faz diferença argumentos pró-separação nessa situação: se forem ruins, o não naturalmente ganha. Se forem bons, é fácil convencer pelo sentimento de perda e o não também ganha.
Não cabe comentar Tocantins ou Mato Grosso do Sul, em suas épocas ou a decisão foi do governo federal ou apenas a população da área a desmembrar foi consultada. O que é necessário para que a discussão sobre novos estados (e municípios) seja produtiva é discutir primeiro qual população deve ser consultada.
Eu não sou favorável a desmembramentos de modo geral. Nem do Pará. No caso brasileiro, em que a cultura já é tão homogênea no nível nacional, e costuma ser ainda mais no nível estadual, provavelmente há soluções administrativas para atender às demandas sub-regionais. Questão de conversa e sensatez.
Contudo, se mesmo assim houver algum sentimento por maior autonomia em um distrito ou grupo de municípios, e pretende-se levar a consulta popular, seria melhor que não virasse uma comédia.
No que seria Tapajós, com menos de 2% de brancos/nulos, 98% dos válidos de Santarém foram pelo “sim”.
No que seria Carajás, igualmente com poucos nulos, 93% dos votos válidos em Marabá foram pelo “sim”.
Já em Belém, o “não” decidiu tudo com cerca de 95%.
Os números não são finais, são de ontem à noite com 78% das urnas apuradas. Levaria a longas discussões se as votações fossem 60, 70, 55%. Mas é claro pelos números, para o bem ou para o mal, que, pelo menos nesse estado, há um desejo pelo desmembramento, que não consegue ser sancionado pelo modelo de consulta adotado.
Então, por que consultar?
O título da matéria diz “eleitores do Pará”. Não seria mais correto falar em “eleitores do que ficaria como Pará”?
Em plebiscito, eleitores do Pará rejeitam divisão do estado
Maioria dos eleitores disse ‘não’ à criação de Tapajós e Carajás.
Resultado do plebiscito encerra trâmite para a divisão do estado.
“Diante do cenário atual, matematicamente, os eleitores do estado do Pará decidiram pela não divisão”, afirmou o presidente do TRE paraense.
A apuração foi concluída por volta de 1h20 desta segunda (horário de Brasília). Com 100% das urnas apuradas, o resultado indicou que 66,59% escolheram “não” para a criação do estado de Carajás e 66,08% rejeitaram a criação do estado de Tapajós.
A apuração terminou por volta da 1h20 (horário de Brasília) desta segunda-feira (12) e o resultado final foi de 66,6% votos para o “não” à criação do estado de Carajás e 66,08% contra a formação do estado de Tapajós.
Foram apurados os votos das 14.249 urnas do estado. A abstenção foi de 25,71% do eleitorado paraense.
Do total apurado em relação a Carajás, pouco mais de 1% era de votos nulos e 0,41% de brancos. Em relação a Tapajós, 1% foi de votos nulos e 0,49% de votos.
Os eleitores responderam a duas perguntas “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado de Carajás?” e “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Tapajós?”. O número 77 correspondeu à resposta “sim” para qualquer uma das perguntas. E o número 55 foi usado para o “não”.
Com a decisão das urnas, o trâmite para a divisão do estado se encerrou junto com o plebiscito. Dessa forma, a Assembleia Legislativa paraense e o Congresso Nacional não precisarão analisar a divisão do território e criação dos novos estados.
Resultado parcial do TRE do Pará, de 21h20 (horário de Brasília), indicava que as possíveis capitais de Carajás e Tapajós – caso ocorresse a divisão – votaram pela divisão. Marabá (Carajás), com 70,57% das urnas apuradas, tinha 93,26% de ‘sim’ para a divisão, e Santarém (Tapajós), com 100% de urnas apuradas, tinha 98,63% para dividir. Belém, no entanto, com 99,96% de urnas apuradas, tinha 93,88% para o ‘não’ em relação à criação de Tapajós e 94,87% de ‘não’ para Carajás.
(no site a matéria continua)
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