Versos de Natal, por Manuel Bandeira

A professora Cleonice Berardinelli relembra as palavras que disse ao poeta Manoel Bandeira no dia do aniversário dele:

 em todo caso, eu gostaria de começar por um “poemazinho”  seu que é aquele em que você diz que em criança punha os chinelinhos, os sapatinhos perto do fogo e que então lá ficavam e no dia seguinte ia ver o que tinha ganho. Você e seus irmãos.

“ Então, eu me lembrei de lhe dizer, muito brevemente, que amanhã de manhã você pode ir lá, nesse lugar onde você ia por os sapatinhos, deixe os sapatos hoje, porque amanhã você vai lá e vai ver que então estão cheios de nossos corações.”

 

Versos de Natal

Manuel Bandeira

Espelho, amigo verdadeiro, 
Tu refletes as minhas rugas, 
Os meus cabelos brancos, 
Os meus olhos míopes e cansados. 
Espelho, amigo verdadeiro, 
Mestre do realismo exato e minucioso, 
Obrigado, obrigado! 

Mas se fosses mágico, 
Penetrarias até o fundo desse homem triste, 
Descobririas o menino que sustenta esse homem, 
O menino que não quer morrer, 
Que não morrerá senão comigo, 
O menino que todos os anos na véspera do Natal 
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.

© MANUEL BANDEIRA 
In Lira dos cinquent’anos, 1940

Redação

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