Salvio Kotter
Salvio Kotter passou por formações bem variadas, como Administração de Empresas, Música Erudita, Grego Antigo e Latim. Publicou vários livros, de ficção e não-ficção e é editor da Kotter Editorial, especializada em literatura, filosofia e política.
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A Flexibilidade Espinhal da Mídia Hereditária, por Sálvio Kotter

No fim das contas, o jornalismo hereditário, ao se dobrar à vontade de agradar poderes e prepostos, acaba por sacrificar a essência de sua função social

Luanda, Angola, 26.08.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, faz balanço da viagem à Angola. | Imagem: Canal Gov

A Flexibilidade Espinhal da Mídia Hereditária

Por Sálvio Kotter*

Uma Imprensa na Contramão

A reação dos meios de comunicação hegemônicos no Brasil diante das declarações do Presidente Lula na Etiópia desvela um fenômeno editorial que estremece os pilares do jornalismo consequente e isento. O episódio em que Lula traçou paralelos entre as ações do atual mandatário israelense e Hitler provocou um frenesi entre jornalistas, que, precipitadamente, pintaram um quadro de represálias internacionais e estimaram impacto na diplomacia brasileira. Essa abordagem sensacionalista e a pressa em condenar revelam uma imprensa demasiadamente ávida por validar narrativas convenientes.

A mídia hegemônica do Brasil, cega por seu próprio viés, não viu a realidade internacional reagir com a mesma veemência que antecipou. O silêncio global diante das declarações de Lula, interpretado como consentimento nas máximas populares, somente evidencia a discrepância entre a cobertura nacional e a percepção mundial sobre o tema.

A Comédia de Erros da Imprensa Tradicional

Os dias que seguiram à declaração controversa do presidente só tornaram mais evidente a inconsistência da reação da imprensa tradicional. O tão esperado alinhamento entre a reprimenda prevista pelos meios de comunicação e a reação da comunidade internacional simplesmente não se concretizou, deixando a descoberto uma comédia de erros jornalísticos.

Como em um enredo tragicômico, a esperança dos veículos tradicionais de ter suas narrativas confirmadas encontrou seu fim quando, e isto por ter sido instado por um jornalista, o porta-voz do governo americano se limitou a apontar uma discordância diplomática. A imprensa, que almejava a retribuição por seu zelo em seguir o roteiro, deparou-se com a necessidade de se recompor diante de uma realidade que contradizia as especulações alarmistas.

A Mídia Alternativa como Farol

Em contraste com a cobertura tendenciosa e mal concebida da imprensa hegemônica, a mídia alternativa brasileira, da qual o GGN é prócer, surge como um farol de profissionalismo e independência. Ao oferecer análises ponderadas e um jornalismo pautado pela qualidade, esse segmento da imprensa tem compreendido o verdadeiro papel do Brasil no cenário internacional e buscado preservar sua autonomia editorial como pressuposto para o exercício do jornalismo.

O extraordinário crescimento dessa imprensa alternativa nada mais é do que o reflexo da demanda de uma população sequiosa de relatos fidedignos e de coberturas que atendam os critérios jornalísticos mínimos, tão frequentemente negligenciados pelo mainstream midiático. Esse movimento paralelo reflete não apenas um desejo por uma imprensa confiável, mas também uma resposta natural à erosão da influência dos grandes veículos.

Flexibilidade Espinhal

O episódio nas relações internacionais e sua subsequente cobertura na mídia brasileira são indicativos de uma era em que a flexibilidade espinhal parece ter se tornado uma característica no jornalismo praticado por grandes corporações de mídia. A insólita evidência da conjetura que antecipava repreensões duras em um cenário diplomático inusitado apenas demonstra o quão equivocada pode ser a postura da imprensa que se curva demais aos seus próprios preconceitos editoriais.

O Jornalismo e a Acidência ao Respeito

No fim das contas, o jornalismo hereditário, ao se dobrar à vontade de agradar poderes e prepostos, acaba por sacrificar a essência de sua função social. As recentes coberturas deixam claro que, ao perder respeito por seus leitores e espectadores – levados a ver as costas curvadas de seus veículos de notícias – a grande mídia sofre uma corrosão em sua autoridade e em sua capacidade de formar uma cidadania informada.

No episódio, os grandes veículos demonstraram um sintoma de uma crise de identidade jornalística, na qual a imprensa se vê presa entre a necessidade de fornecer notícias acuradas e o desejo de satisfazer os caprichos dos que detêm o controle.

*Sálvio Kotter passou por formações bem variadas, como Administração de Empresas, Música Erudida, Grego Antigo e Latim. Publicou vários livros, de ficção e não-ficção e é editor da Kotter Editorial, especializada em literatura, filosofia e política.

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Salvio Kotter passou por formações bem variadas, como Administração de Empresas, Música Erudita, Grego Antigo e Latim. Publicou vários livros, de ficção e não-ficção e é editor da Kotter Editorial, especializada em literatura, filosofia e política.

1 Comentário

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  1. A solene esnobada que Blinken deu nos jornalistas que perguntaram sobre Gaza foi a pá de cal na sanha histérica da mídia hegemônica. Ficou nessa abraçada com Netanyahu e com a extrema-direita brasileira, sem dúvida duas ótimas companhias.

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