A volta da política do Ministro do Exército, por Sergio Saraiva

Não pergunte quem será eleito presidente em 2018 – pergunte quem será o comandante do Exército.

central do brasil

A volta da política do Ministro do Exército, por Sergio Saraiva

Os que esperam as eleições de 2018 como forma de promover a retomada da normalidade democrática no Brasil devem estar atentos a março próximo. Nesse mês, passa para a reserva o general Villas Bôas que tem sido o fiador do legalismo dentro do Exército e das Forças Armadas, por via de consequência. A escolha do seu sucessor pode representar – como nos anos 70 do século passado – um avanço ou um retrocesso na causa democrática.

Quem viveu a Ditadura de 64 sabia como era importante prestar atenção no Ministro do Exército para entender os rumos que a política nacional tomaria.

Do nome do futuro presidente ou da sua capacidade de governar a se haveria ou não reuniões estudantis e à segurança do público presente em um show de música popular – passando pela vida ou morte nas selvas do Araguaia ou nas redações dos jornais – não havia assunto em que a opinião do Ministro do Exército não fosse decisiva. Até seu gosto musical era importante.

Os partidos políticos tinham pouquíssima ou nenhuma relevância perto da política que se praticava nos quartéis.

Não que os quarteis tenham abandonado a política como assunto interno, mas, com a redemocratização, parecia que o Comandante do Exército passara a se ocupar das manobras militares e não mais das manobras políticas do Congresso Nacional. Isso até o Golpe de 2016.

A barafunda política e judiciária trazida com o Golpe de 16 fez com que o aval dos militares a questões relacionadas à condução da vida institucional do país voltasse a ser considerado. Mesmo com respeito ao respeito ao calendário eleitoral.

Até pouco tempo atrás, os sinais eram tranquilizadores: “ordem do dia: todo poder emana do povo”.

Ocorre que aparentemente a política volta a ferver no meio castrense; e com ela a inevitável polarização ideológica. E as divisões dentro da Arma. Um exemplo foi o embate entre as posições legalistas do Comandante General Villas Bôas e o intervencionismo do General Mourão. Resolvido com a elegância do general Villas Bôas, mas não sem arranhões ao seu comando.

Sinais também de disputa tampouco deixam de existir na atual e intempestiva intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro – colocada desnecessariamente nas mãos de um general da ativa. Desnecessária porque a presença dos militares já era rotineira na administração da segurança pública carioca e fluminense – e de outros Estados – sem que houvesse uma intervenção para tanto.

Desnecessária, sem dúvida – mas, talvez, intencional.

Que um militar no papel de interventor não foi encampado pelo comandante do Exército não parece haver dívida – ”a elegante radio verde-oliva”.

Mas talvez tenha o apoio de um outro grupo dentro do Exército – o do general Sergio Etchegoyen – Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. E que não se acuse o general Etchegoyen de pendores legalistas irrefreáveis – a maneira como tratou a Presidente Dilma Rousseff durante a interinidade de Michel Temer lhe servirão de defesa.

Trago essas reflexões em função do alerta que nos é dado pelo jornal El País Brasil – um exemplo de bom jornalismo feito entre nós – lembrando-nos de que o general Villas Bôas passa para a reserva daqui a alguns dias – no próximo mês de março de 2018.

A intervenção federal no Rio de Janeiro pode ser antes uma forma de buscar protagonismo do grupo de Etchegoyen para contrabalançar a ações de Villas Bôas em influenciar o nome de seu sucessor – que a depender de Villas Bôas seria o general Fernando Azevedo e Silva – chefe do Estado Maior do Exército. Ambos indicados por Dilma Rousseff.

Foram mantidos por Temer. E se Temer, que demitiu até o garçom que servia Dilma, os manteve nos cargos foi por falta do poder de removê-los – com certeza.

Além disso, não é preciso muita pesquisa na internet para perceber que ambos são uma unanimidade entre aqueles que pregam uma intervenção militar como solução para o Brasil. Imagino quanto essa unanimidade não tenha agravado a enfermidade do general Villas Bôas.

tvban

Tudo isso estará circundando a nomeação do próximo comandante do Exército.

Por óbvio que quem nomeará o próximo comandante do Exército não será Temer. Não lhe resta qualquer resquício de reserva moral para tanto. Quem nomeará o próximo comandante do Exército será o próprio Exército. Temer – o presidente – apenas assinará a nomeação, outro não poderia fazê-lo. Por isso a busca de protagonismo junto à corporação é tão importante para os grupos políticos que dividem os quartéis.

Grupos políticos atuando dentro das Forças Armadas foram uma constante durante a Ditadura de 64 e a sua volta era tudo o que não precisávamos.

Pior ainda quando a nomeação do novo comandante do Exército pode ser decisiva para a realização das eleições de 2018. Pior ainda quando o grupo que patrocinou o Golpe em 2016 não tem a menor chance de conservar o poder pela via democrática. Muito pior quando a quadrilha que tomou o poder precisa desesperadamente de um acordo que os livre da cadeia a partir de 2019.

Não espero nada de íntegro de um títere como Temer, não creio que nossas classes dominantes cultivem valores democráticos e não gosto de ver tropas militares se movimentando – tomo tais movimentos como sinais de mal agouro democrático.

Paranoia de quem viveu a ditadura?

Pode ser. Mas há quem possa afirmar hoje que as eleições serão respeitadas?

Então, creio ser prudente prestarmos atenção ao nome de quem será o Comandante do Exército a partir do mês que vem.

Infelizmente pode ser que a política do Ministro de Exército tenha voltado.

 

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia mantendo a vela acesa que é para o bruxa não voltar.

Redação

11 Comentários

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  1. Etchegoyen e seu grupo já controlam o Exército

    Pouco ou nada adianta tentar levantar a bola dos generais Eduardo Villas Bôas e Fernando Azevedo e Silva. Há mais de dois anos eles já não têm o comando da FFAA, controlado por Ségio Etchegoyen e outros que pensam como este filho e sobrinho de toturador.

  2. a volta….

    “Hipócrita !! Primeiro tire a trave do seu olho, para que possa tirar o cisco do olho de seu irmão”.  Normalidade Democrática? Quando tivemos isto em 40 anos de Redemocracia? Quando construimos isto depois da Anistia de 1979? Ainda não conseguimos sair de 1964. E já estamos em 2018 !! Com este discurso, depois da mediocridade produzida por Covas, Montoro, Lula, Ulisses, Arraes, Brizola, Teotonio, FHC, Serra, Campos, que querem prosseguir a partir das Eleições de 2018? O 3.o golpe em 5 mandatos presidenciais, empossou novamente outro Presidente sem a anuência das urnas. E estamos falando em Urnas Eletrônicas e Ditatoriais da Obrigatoriedade de Biometrias. ‘Lobo em pele de cordeiro’, nesta farsa de Democracia. Normalidade Democrática?! Estamos perdidos mesmo.  

  3. Eh…o trem tá dando marcha à

    Eh…o trem tá dando marcha à ré. Esse negócio de mexer com azeitonas que estavam quietas  na carrafa é complicado. Vira revira, tira a rolha emborca a garrafa, nada, as bichas ficam entaladas querendo sair ao mesmo tempo. Basta a primeira sair, pronto. Ninguém segura mais.

    É isso que os filhos da puta queriam. Espero e desejo estar enganado.

    Orlando

  4. O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever

    Esperamos que o exército cumpra o seu dever constitucional, pense no país, nos nossos filhos e no seu futuro. Que nação queremos? De foras da lei?

  5. As ameaças reais ao futuro

    As ameaças reais ao futuro próximo do País, aí incluídas as perspectivas de reversão da maior crise da sua história, não virão do Forte Apache, mas do eixo Fazenda-Banco Central-Avenida Faria Lima. É aí que tem se situado o centro do poder real, pelo menos desde o início da década de 1990.

  6. Estamos ferrados

     A equção é de primeiro gráu um só incognita. Os jornalistas tentam raciocinar e resolver o sistema como se fora uma integral complexa. Para mim está claro, infelizmente. Não há esperanças de se contar com alguém do alto comando das forças armadas que não esteja com o mesmo objetivo. Por que? É simples. Olhem para o seu comandante em chefe. Vejam o nível das  acusaçãoes gravíssimas contra ele e contra todos do seu entorno. E o que acontece? Os militares fazem uma intervenção contra os favelados do Rio. Precisa calcular o valor de x?

  7. O usurpador Michel Temer e

    O usurpador e seus esbirros revogaram o direito de ir e vir dos cidadãos. Quando os cidadãos revogarão o direito a vida dos membros da quadrilha que assaltou o poder em 2016?

  8. O general

    interventor disse que o Rio seria uma espécie de laboratório para o Brasil. Muito estranho. Será que nesse cálculo entrou a prisão de Lula e diante de uma possível revolta popular, aproveita a situação, decreta o estado de sítio, suspende as eleições e promove um expurgo no campo progressista? Relembrando, o nacionalismo das forças armadas brasileiras é manter o status quo.

  9. O ministro do exército era uma deformação

    Durante décadas, do fim do império à criação da pasta de defesa, o ministério do exército foi uma espécie de comando paralelo das forças armadas. Isso é uma deformação, pois a natureza do cargo é político-administrativa, e por isso mesmo deveria ser ocupado por um civil. Era assim no tempo do império, mas depois da república quase todos os ministros do exército (ou da guerra, como se dizia) eram militares. Isso deu origem a uma enormidade de conflitos e quebras de disciplina que não raro terminaram em golpes de estado.

    O comando das forças armadas é exercido pelos oficiais-generais da ativa, do comandante geral aos chefes do estado maior, e não pelo ministro do exército, cujo cargo é por natureza político, e imiscuindo-se no comando, contamina de política as forças armadas. Isso só acabou após a criação do ministério da defesa, quando o cargo retornou ao escopo original.

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