Atentado contra Cristina Kirchner é mais um duro golpe na democracia, por Cláudio Antunes

A política armamentista implantada no Brasil nos últimos anos é mais um capítulo dessa novela que deve ser analisado com cuidado.

Atentado contra Cristina Kirchner é mais um duro golpe na democracia e na luta pelo contraditório

por Cláudio Antunes

Às vésperas do processo eleitoral que definirá as novas lideranças políticas do Brasil, a tentativa de assassinato da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, escancara ainda mais a escalada da violência, da intolerância e de atentados contra a democracia. Apesar do crime ter ocorrido na Argentina, o caso diz muito sobre o sentimento que boa parte do mundo vive hoje, movido por discursos de ódio; por leis que pregam a intolerância e contra sentimentos de pacificação, de ponderação e de respeito às divergências e ao contraditório; além do discurso de líderes políticos que fomentam o terrorismo e o autoritarismo.

Como maças podres em um cesto, pessoas, grupos e organizações criminosas com este perfil têm comprometido a sociedade, ameaçando o Estado democrático de direito no Brasil e no mundo. No Brasil, este “apodrecimento” é notado pelos constantes ataques feitos pelo governo de Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF); ao sistema eleitoral brasileiro; à tentativa de golpe de Estado em caso de derrota nas urnas; ao ataque sistemático às minorias e à imprensa; o culto à ditadura militar, além de outros mecanismos que Bolsonaro e seu clã têm adotado para disseminar sentimentos como o que vimos em Buenos Aires.

A política armamentista implantada no Brasil nos últimos anos é mais um capítulo dessa novela que deve ser analisado com cuidado. O acesso mais fácil a armas amplia as chances de casos como o que aconteceu na Argentina e de um possível golpe de estado em caso de derrota do atual governo no processo eleitoral acontecer. Segundo pesquisa, em três anos o Brasil chegou a 46 milhões de permissões para a compra de armas. A política foi propalada como um direito à defesa da população, mas ao contrário do que prega Bolsonaro, a cada dia a violência, a discórdia, a intolerância e o ódio aumentam, se espalhando pelo país inteiro.  

O culto à violência defenestrado pelo governo federal tem proliferado de forma assustadora, sentimentos estimulados por um discurso odioso que encontra na violência, no desrespeito à democracia e na coação, a solução para os mais diversos tipos de problemas que o país passa atualmente. Ao contrário da luta por um país melhor, mais justo e contra a corrupção, o que esses grupos nazifascistas, neoliberais e de ultradireita querem é impor o medo e o desrespeito como base para esta suposta sociedade.

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Não permitiremos que exemplos como de Marcelo Arruda, militante do PT covardemente assassinado durante uma festa de aniversário em Foz do Iguaçu, se torne uma constante, e que nosso direito à democracia seja abafado pelo grito da intolerância. Continuaremos lutando por um discurso apaziguador, pelo respeito às divergências e ideologias políticas, e que o povo seja o único protagonista das eleições de 2022. O que precisamos é de união pelo Brasil, não de uma divisão cercada por sangue e lágrimas.

Mesmo assistindo com preocupação e repúdio o crescimento exorbitante de ações terroristas e autoritárias de grupos oportunistas que não querem respeitar as divergências e a diversidade, o amor e a esperança vencerão. Voltaremos a ter um Brasil mais igualitário, mais justo e com um povo feliz. A bravata regada ao ódio será derrotada nas urnas.

Cláudio Antunes – professor da rede pública de ensino e diretor do Sinpro-DF.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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