Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Em outubro, por Rui Daher

Deu-se no que se dá. Esperar que em outubro a cura deste câncer seja, finalmente, descoberta

por Rui Daher*

Um território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, banhado por 9.200 km (consideradas as reentrâncias) de águas oceânicas, clima temperado. Seria impossível que dentro dessa imensidão não fossem encontradas bacias hidrográficas abundantes, jazidas minerais, matas e florestas ricas em fauna e flora. A mais voluptuosa biodiversidade do planeta. E gente, claro. Gentios e intrusos.

O pontapé inicial foi dado pelos povos indígenas. Conhecem? Não? Há uns poucos espalhados por aí. Corram e os encontrem, antes que dizimados ou aculturados. Gente boa. Para muitos brasileiros, inclusive autoridades, eles produzem e vendem apetrechos artesanais para serem usados em desfiles no Carnaval ou enfeitam formosos corpos burgueses ou de intelectuais ativistas que se esmeram em mostrar de forma pictórica que defendem suas causas.

Tão valioso tesouro, logo foi cobiçado pelo desenvolvimento da navegação marítima europeia, que esperou zerar o século 16 para aqui chegar e iniciar um processo de colonização. Bom observador do Velho Mundo perceberia serem portugueses. Grelhavam na brasa deliciosas sardinhas.

Por tudo o que me ensinaram e li, os malfeitos dos lusitanos deveriam fazer-me odiá-los, como nação invasora, imperialista, traficante de bens naturais, escravos negros e malcheirosos estupradores.

Pelo contrário, talvez por vir a conhecê-los tardiamente, admiro-os. Não sei bem quando isso se deu. Talvez na infância, quando em calçolas, sem camisa, meias cumpridas, descalço, eu corria um quarteirão até a padaria, para buscar três pãezinhos, a pedido de minha mãe.

Outras hipóteses? Amália Rodrigues, em gravações 78 rpm? Comerciantes da Rua São Bento, em São Paulo, que me enfeitiçavam com figurinhas e quinquilharias? A confeitaria do Sr. Valentim Diniz, ao pé da Praça da Sé? Ou mesmo, nos dias de hoje, as sardinhas na brasa?

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Não sei. Nem mesmo o que lhes coube no impulso desenvolvimentista que chegou ao Brasil pelo processo imigratório. Mas uma coisa sei e louvo: letras, palavras, frases e junções que deram formosura à linguística brasileira. Esplendor que ouso mal usar, embora, imodesto, reconheça piores.

Ainda em 2017, adquiri uma doença, que a partir do ano seguinte tornou-se crônica, e parece-me fadada a persistir até a minha morte: Bozojeriza.

Ojeriza por quem apoiou, se absteve ou votou em Jair Messias Bolsonaro, para presidente da República do Brasil.

Avisava: “qualquer um, mas #EleNão”.

Afora os convictos (?) – poucos, os esperançosos desavisados e os antipetistas, havia o costumeiro ranço provinciano herdado do patrimonialismo de nossos colonizadores.

Mesmo sabedor disso, eu insistia: “ficará como o lixo da História”.  Pressentia que o que viria não teria volta até que a destruição estivesse completa. Da mesma forma, percebia falar a moucos ouvidos e que o golpe engendrado em 2016, para derrubar Dilma Rousseff, reunia a fina-flor das elites financeiras locais, a classe média crente que a corrupção nascera na Petrobras, e eflúvios do Departamento de Estado norte-americano.

O Brasil perdeu. De minha parte, o fato de ter passado anos menosprezando o caráter do País chamando-o de Federação de Corporações passou a elogio. Jair nos fez uma Federação de Seitas Menores.

Deu-se no que se dá. Esperar que em outubro a cura deste câncer seja, finalmente, descoberta.

Inté.

*Rui Daher é administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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3 Comentários

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  1. Abençoados Portugueses que propiciaram a Nação mais miscigenada do planeta. De Iracema a Peri. De Luiz Gama a André Rebouças. De Presidente Negro enquanto o Mundo incitava o Nazismo e Fascismo. Voltaremos a ter esta Nação perdida há 92 anos. Não à toa a volta de um Paulista ao Poder depois de quase 1 século. Não é coincidência esta ausência. É Projeto de Poder que instaura a Cleptocracia a partir de 1930 com sua NecroPolitica. O resultado?? Nação Potência Continental, Farol da Humanidade entre sua História e seu Povo Miscigenado se rende ao Higienismo, Racismo, Fascismo enterrando-se na Latrina da Humanidade como Terceiro Mundo, Anão Diplomático. O Nepotismo dos Familiares Párias do Ditador Assassino Fascista entre eles : Tancredo Neves, Alzira e Ivete Vargas, JANGO, Aécio Neves, Leonel Brizola,…e Satélites Lacaios da Década Ditatorial Fascista UNE(38), USP(34), OAB(30), ABI(32), MEC(30),…A partir de 2018 estamos retomando pelas mãos do Povo Brasileiro esta Nação dos Povos Indígenas (como nenhum outro no planeta) preservados pela miscigenação, pelas ações de Marechal Rondon ou Irmãos Villas Boas. Um Brasil que foi roubado de seus Cidadãos por um Projeto Abjeto instalado por Facínoras. Finalmente volta às mãos dos Brasileiros. ÀS RUAS !! 7 de SETEMBRO. O BRASIL DOS BRASILEIROS. Não existem coincidências. DO POVO PELO POVO PARA O POVO !!!

  2. Se me permitirem. Vejo aqui ao lado “…O Homem que amava os Livros…” E ontem vejo os Policiais do RJ tentando enfiarem no porta malas das Viaturas os Quadros de Tarsila ou Di Cavalcanti, devido a um crime e golpe familiar. Parecia que empurravam alguma tralha velha para levar à Delegacia. Culpa dos Policiais?? Mostrou toda Consciência Nacional e Cultural instruída ao Povo Brasileiro nestes 92 anos, prolongados nestas décadas de farsante e corrupta Redemocracia. E a Riqueza Cultural Nacional já está comprada pela Argentina de onde dificilmente voltará. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

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