Eleições México: Ética, nacionalismo e políticas sociais, por Sonia Fleury

Ginnette Riquelme/Reuters/Agência Brasil

Por Sonia Fleury

Ética, nacionalismo e políticas sociais elegem Obrador no México

Nos dias atuais, há quem pense no Brasil que o combate à corrupção é uma bandeira da direita e, pior ainda, que acabando com os corruptos resolveremos os problemas dos brasileiros. Quanto engano! Se não houver mudanças no sistema que permite a corrupção ela não será reduzida, outros corruptos aparecerão. Já os problemas dos brasileiros precisam de políticas públicas que resgatem a capacidade estatal para implementar políticas que levem ao desenvolvimento e estejam direcionadas para a redistribuição da riqueza. Políticas concretas com objetivos e metas, não apenas intenções.

A eleição de Andrés Manuel López Obrador no México neste último domingo mostra que a desilusão com a política deve ser combatida com propostas éticas e compromissos efetivos de mudança social. Foge do ideário neoliberal que grassou na América Latina recentemente, a eleição de um político de esquerda que se apresenta com um projeto reformador do sistema político corrupto, resgatando as propostas do desenvolvimento nacional, e que se propõe a governar primeiramente para os pobres e combater a violência. 

Sua eleição, com ampla maioria de votos, respaldada pela conquista da maioria no Parlamento e de alguns governos estaduais, é vista com temor por seus opositores, já que terá mais facilidade de ver aprovadas suas propostas.  Ela é o resultado de um longo processo, no qual o candidato foi derrotado em três eleições anteriores, denunciando a fraude eleitoral. Foi agora eleito, só depois de percorrer todo o país, discutindo suas propostas e mobilizando novas lideranças para o partido que criou, o MORENA – Movimento de Renovação Nacional, além de buscar um arco de alianças maior, com um discurso menos provocador de rejeições.

Quais foram as propostas que o elegeram?

  1. Um Estado de Direito que não esteja a serviço de qualquer facção, em que a lei valha para todos e que respeite os direitos humanos, com garantia de eleições livres e sem fraudes. Política exterior que respeita a autodeterminação dos povos, sem aceitar atitudes racistas e hegemônicas de outros governos.
  2. Convocar o povo para fazer da honestidade uma forma de vida e de governo. Acabar com a corrupção, suprimir foros e privilégios, reduzir os salários do presidente e outros funcionários públicos que ganham muito e aumentar progressivamente os salários dos professores, enfermeiras, médicos, policiais, soldados e outros funcionários públicos com baixos salários.
  3. Promover o desenvolvimento em todo território nacional, com radical descentralização da administração do Governo Federal, para evitar a concentração e os riscos ambientais da cidade do México.
  4. Resgatar o campo e camponeses da pobreza e dar prioridade aos indígenas.
  5.  Modernizar e investir no setor energético do país, incluindo petróleo, eletricidade e energias renováveis.
  6. O Estado promoverá o desenvolvimento econômico e o fortalecimento do mercado interno. Amplo programa de habitação, obras e serviços públicos, Internet gratuita em instalações e espaços públicos.
  7. Os jovens terão garantido o direito ao estudo e ao trabalho. Os que estão cursando o ensino médio superior receberão bolsa de estudos e as famílias de universitários de baixos recursos receberão apoio financeiro. Programa de contratação de jovens nem/nem com bolsas para cursos de aprendizes.
  8. Dobrar o valor da pensão dos idosos, que será universal e poderá ser acumulada com pensões do Seguro Social. Todas as pessoas pobres com incapacidades receberão pensões.
  9. Garantia de educação gratuita em todos os níveis de ensino. Aprimoramento da qualidade revogando a reforma educativa que estabeleceu parâmetros produtivistas para aferir a qualidade do ensino.
  10. Valerá o direito universal à saúde, o que implica garantir atenção média e medicamentos gratuitos a toda a população. 
  11. Atenção ao combate à violência, buscando atacar suas causas econômicas e sociais e desenvolver um sistema eficiente de segurança e medidas que promovam a paz.

É de dar inveja aos brasileiros ter um candidato que se coloque fora do torniquete dos ditames da economia neoliberal e se posicione com tanta clareza em relação a sua orientação nacionalista, desenvolvimentista e comprometida com o combate à corrupção e melhoria do bem-estar da população. Muitos dirão que é um discurso ultrapassado e populista, mas podem ter certeza de que estas são as prioridades da população e por isso votaram maciçamente por este candidato.

AMLO, sigla pela qual é conhecido o novo presidente, afirma que poderá realizar estes compromissos sem ameaçar a estabilidade fiscal, usando os recursos provenientes da redução da corrupção. É claro que haverá dificuldades, em especial tendo-se em conta a relação com os EUA, tanto econômica como política.

Mas não menosprezem as propostas de Obrador, nem sua capacidade de realizá-las. Em sua gestão como governador do DF, teve como secretária de Saúde Asa Cristina Laurell, sanitarista de grande prestígio internacional. Sua secretaria criou a Pensão Alimentar universal para idosos e a cobertura gratuita de saúde e medicamentos para todos que não estavam cobertos pelo Seguro Social. Essa experiência tão exitosa terminou sendo alçada a uma Lei Federal com cobertura de toda população idosa do México.

Só nos resta torcer e aplaudir: ARRIBA MÉXICO! 

 

*Sonia Fleury é pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos.

Redação

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