”Impeachment ou não?” e os tais “espaços de mediação…?” – O que a Globo e a classe média têm a ver com isso?, por Eduardo Ramos

Como reagirão a Globo, o "mercado" e a classe média se Bolsonaro for afastado em nome da governabilidade mínima do país? Quem são as pessoas aptas a costurar todos esses interesses e forças sociais...?

Foto Agência Brasil

”Impeachment ou não?” e os tais “espaços de mediação…?” – O que a Globo e a classe média têm a ver com isso?

por Eduardo Ramos

Li atentamente os dois artigos do Nassif, tanto o “A escolha de Sofia”, sobre o impeachment de Bolsonaro ser ou não o melhor caminho para o Brasil sair desse inferno em que fomos todos atirados, e esse último, sobre as disputas de ruas e a hora de se avançar no que ele chama de “espaços de mediação”.

Se no primeiro o Nassif “abdica” de uma resposta objetiva, devido à complexa questão que é decidir sobre “o mal menor” (e, convenhamos, entre Bolsonaro e Mourão,não é tarefa fácil…), o segundo artigo representa, na verdade, quase que uma TENTATIVA DE RESPOSTA AO PRIMEIRO, uma resposta que afirma: “sem um diálogo abrangente, objetivo, assertivo e urgente entre as lideranças civis responsáveis, a ÚNICA resposta será dada pela disputa entre os “militares de Mourão” e “as milícias + os militares de Bolsonaro”. Essa passa a se a questão, se a política não trouxer a solução CONSTRUÍDA, na verdade, se é que ainda há “tempo e ambiente” para tal solução….

Nos poucos minutos em que assisti a Globo News, curioso de ver como apresentariam à nossa classe média as manifestações de ontem, confesso que fiquei fascinado com o pragmatismo cínico da família Marinho. E compreendi por que Bolsonaro AINDA não está sendo totalmente aniquilado pela mídia. Porque NADA mais importa ao “stablishment” econômico das grandes oligarquias que realmente mandam em nosso país, do que a Reforma da Previdência nos moldes apresentados por Paulo Guedes. Por isso a Globo tem segurado as rédeas na quantidade e intensidade de seus ataques a Bolsonaro, Queiroz, etc., e evitado a todo custo a criar um ambiente de TENSÕES SOCIAIS que pudessem, de repente, tirar do estado de catatonia a parcela da classe média que detesta Bolsonaro, mas SEM ODIÁ-LO ou dele sentir NOJO, como é o caso de LULA.

Para quem sabe “ler” a mídia, isso ficou absolutamente claro pelo tom adotado pela Globo na cobertura das manifestações.

1 – Todos os jornalistas aparentavam uma NEUTRALIDADE absoluta, era como se uma notícia rotineira, uma manifestação “comum nas democracias” estivesse ocorrendo – ou seja, do tipo “nem boa, nem ruim” para quem quer que seja.

2 – Várias vezes os repórteres e comentaristas MINIMIZAVAM eventuais faixas contra o STF e o Congresso, os discursos falavam de “apoio político ao presidente E ÀS SUAS REFORMAS….” – um modo de EXCLUIR um sentido “maligno” ou ditatorial do evento, ao “deixar claro que a maioria não estava lá para combater essas instituições” – uma “operação limpeza” da Globo, ao tornar quase cândida a manifestação.

3 – Aqui é que entra o jogo pesado da Globo: um verdadeiro MASSACRE SEMIÓTICO “mostrando” o quanto a “ênfase” daqueles brasileiros (de novo, nem “do bem” e nem “do mal”, “apenas brasileiros”…) ERA APOIAR A REFORMA DA PREVIDÊNCIA.

A parcela da sociedade que está confusa sobre o tema, ou a maioria que ignora totalmente a complexidade do mesmo, certamente vão demonizar muito menos a reforma depois da manipulação da Globo. Em uma das falas, um repórter chegou a AFIRMAR que “A manifestação é como um RECADO aos políticos que façam as reformas que o Brasil tanto precisa….” (sic…) – mais canalha impossível!

Foi aí que compreendi o quanto um impeachment é QUASE IMPOSSÍVEL, nesse ambiente artificial criado pela Globo, onde as loucuras, as violências, o horror que implica em termos como presidente um tosco-despreparado ligado a milícias assassinas É APRESENTADO QUASE COM DOÇURA pelo maior grupo de comunicação do país. Nada da histeria, do catastrofismo, dos paroxismos provocados pela mesma Globo, quando injetou “nas veias” dos brasileiros, o nojo, o medo, o ódio, por Lula, por Dilma, pelo PT….

Ora, essa classe média, totalmente VICIADA em ter seus pensamentos, emoções, visões da realidade, falas e comportamentos, manipulados pela Globo, tornou-se INCAPAZ de raciocínios e ações políticas próprios, independentes. Acostumados ao tratamento de gado humano, de rebanho, jamais reagirão diante do que lhes foi mostrado como “uma pequena e pueril manifestação de alguns brasileiros em um ambiente democrático”….. – o que a Globo FILTROU para o seu público cativo.

Temos inclusive aí, um paradoxo: na verdade, a classe média DIVIDIDA, não é “a parcela que apoia Bolsonaro e a parcela que o rejeita”…. Porque, na mente e no coração de ambos, “SATANÁS” segue sendo o mesmo: LULA! Tanto que convivem bem e em harmonia, amigos e familiares “de direita”, desde que sigam tendo em comum esse inimigo a ser odiado. Ainda não é o caso de Bolsonaro nesse segmento social.

Toda essa reflexão para finalmente responder às questões levantadas pelo Nassif, com outra pergunta: “COMO ESCOLHER ENTRE IMPEACHMENT OU NÃO IMPEACHMENT, OU, COMO PROVOCAR OS AVANÇOS NOS ESPAÇOS DE MEDIAÇÃO, sem que a nossa classe média deles participem…? Porque a impressão que tenho, é que enquanto a crise econômica não começar a AFOGAR em dificuldades essa classe média, eles estão dispostos a seguir exatamente do jeito que estão: “Bolsonaro é uma bosta… Mas pelo menos nos livramos de Lula e do PT…” – síntese do sentimento de nove em cada dez “coxinhas” que eu conheço.

Talvez “não haja solução”, mais uma vez, como foi no fim da ditadura de 64, que foi “morrendo por inanição”. Na verdade, os militares só entregarão o poder “se quiserem”, na prática, é isso. Ou se a tal “mediação” que o Nassif fala for tão absurdamente bem executada, envolvendo os bons articulistas do Congresso, como Maia, Renan e outros, gente séria e digna como um Bresser Pereira, e a ala racional dos militares que apoiam Mourão, fazendo ver aos militares a INSANIDADE que representa para o Brasil e sua imagem no mundo, uma ditadura recrudescida, e que sim, NOSSA ÚLTIMA OPORTUNIDADE DE SAIR DO ABISMO DA BARBÁRIE é tirar Bolsonaro, interromper o entreguismo desenfreado iniciado por Temer, enquadrar os doidos da Lava Jato para que as instituições voltem a um mínimo de normalidade e terem a DECÊNCIA de conduzirem o país até 2022 com os estragos minimizados, para que iniciemos o doloroso e difícil “caminho de volta” aos princípios democráticos e civilizatórios.

Terá Mourão essa grandeza? Haverá ao seu lado militares com essa consciência cívica?

Como reagirão a Globo, o “mercado” e a classe média se Bolsonaro for afastado em nome da governabilidade mínima do país? Quem são as pessoas aptas a costurar todos esses interesses e forças sociais…?

Eis a grande questão.

Redação

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador