‘Memória da dor’ entra no cardápio nacional, por Fabianna Freire Pepeu

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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‘Memória da dor’ entra no cardápio nacional

por Fabianna Freire Pepeu

Basta por descuido a pessoa levar uma pequena queimadura, ao roçar o dedo numa panela muito quente, pra sentir uma dor única. Agora, imagine isso numa dimensão maior quando o corpo fica todo comprometido?

Há cerca de uma década, tive queimadura gravíssima em 70% do corpo causada por medicamento, dentro das características da ainda pouco conhecida Síndrome de Stevens-Johnson.

Embora faça muito tempo já, sem entrar em detalhes sobre as graves sequelas oftalmológicas que carrego, a mera leitura da palavra ‘queimadura’ leva meu corpo a entrar no modo memória de dor.

Estou trazendo esse assunto à tona porque soube hoje que, somente nesses últimos dias, no Recife, sete pessoas deram entrada no Hospital da Restauração (referência em tratamento de queimados), em razão de acidente por uso de álcool na cozinha.

Há meses a imprensa pernambucana vem denunciando casos e mais casos de episódios similares, mas a tragédia encontra eco em muitos outros estados. Tudo por conta da alta indecente do preço do gás de cozinha.

Não.

Tudo por conta da política praticada na Petrobras que está ligada ao conteúdo do depoimento do ex-advogado da Odebrecht, Tacla Duran, que diz, com todas as letras, que a força-tarefa da Lava Jato usou de esquemas ilegais para obter depoimentos que interessavam ao Sérgio Moro para quebrar esse país.

Moro, esse criminoso, não fez isso sozinho. Que os créditos sejam devidamente compartilhados com a alta casta do Judiciário, do Ministério Público e da imprensa, que perdeu de vez a perspectiva histórica.

Também é digno de nota o apoio de parte da população que, mesmo tendo exaustivos elementos pra rever conceitos, continua apoiando esse golpe devastador.

A dor que essas pessoas empobrecidas estão passando, nesse momento, em um leito de hospital, deve ser somada a outra dor que aparece, mais sutil, no rosto dos que perambulam pelas ruas, com fome, em busca de trabalho, depois de terem começado a experimentar uma vida mais digna.

Todas essas dores estão na conta dos que elegeram a desumanidade como princípio, esquecendo, talvez, que a roda sempre faz o seu giro completo e perfeito.

Para essas pessoas, o trechinho famoso da inscrição na porta do Inferno de Dante: “Deixai toda esperança, vós que entrais.”

Fabianna Freire Pepeu é jornalista. Trabalhou como repórter no Jornal do Commercio e TV Globo, no Recife, e na TV Cultura, em Brasília.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. É terrível esta síndrome de Stevens-Johnson

    Mas  a autora desse triste texto  nos lembra que perder o emprego ou sofrer uma queimadura por álcool em razão de não mais dispor de gás de cozinha pode, sim, deixar sequelas também terríveis.

    O que diz a respeito da síndrome a Wikipedia:

    Síndrome de Stevens-Johnson é uma reação alérgica grave, que causa lesão da pele, olhos e mucosas. É um tipo de hipersensibilidademediada por células CD8 citotóxicas. As erupções cutâneas podem afetar olhosnarizuretravaginatrato gastrointestinal ou trato respiratório, ocasionando processos de necrose.

    É uma forma grave, às vezes fatal, do eritema multiforme ou polimorfo, que acomete o tegumento e as mucosas oral, genital, anal e ocular. Apenas 10% dos casos diagnosticados são leves (menos de 10% do corpo afetado) e com rápida recuperação. Entre 30 a 60% dos casos evoluem para a forma ainda mais grave de necrólise epidérmica tóxicaconhecida como síndrome de Lyell.[1]

     

    https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_Stevens-Johnson

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