Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Nem silêncio obsequioso e nem verborragia, por Francisco Celso Calmon

Dino cometeu algumas idiossincrasias indignas de sua cultura e origem partidária, afinal, como declarou, é um comunista graças a Deus.

Nem silêncio obsequioso e nem verborragia

por Francisco Celso Calmon

O Ministro Dino é um gigante, ocupa com maestria todo o palco, numa exposição e debate. Cativa os seus pares e a plateia.  Contudo, as vezes extrapola.

Sempre que há muita exposição é necessário um pouco de recolhimento.

O ministro falando de tudo, com recursos de passagens bíblicas, fica numa postura de guru da sociedade, embora, algumas vezes, pareça o alter ego do governo.

Nesse diapasão cometeu algumas idiossincrasias indignas de sua cultura e origem partidária, afinal, como declarou, é um comunista graças a Deus.

Recolho dos meios de comunicação:

“A hegemonia asiática representa perigo para a democracia, governos de países da Ásia apresentam incompatibilidades com princípios “assentados na democracia ocidental, com sistemas baseados em múltiplos partidos políticos e realização de eleições…”

As democracias ocidentais trouxeram felicidades aos seus povos, acabaram com a fome, com a injusta distribuição de renda, com a ignorância cultural e política conveniente à manutenção do status quo?  Quantas guerras as democracias ocidentais deflagraram e quantas os governos da Ásia?

Ademais, o Brasil tem na asiática China sua parceira preferencial no comércio e no caminho da desdolarização e fortalecimento dos Brics.

A conjuntura e o periscópio da história indicam, caro ministro, que devemos estudar os regimes da Ásia, recolher o que tiverem de saudável, consoante à concepção original de democracia (governo do povo), em vez de manter o alinhamento, tão ao gosto dos três M (militares, mídia corporativa e mercado), que não trouxe felicidade ao povo brasileiro, mas acarretaram uma dezena de golpes à democracia.

“O Alexandre de Moraes e outros ministros do Supremo correspondem, estão para o Poder Judiciário, hoje, como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, para citar alguns, estiveram na esfera política em outro momento. Eles não são de esquerda, mas são democratas. Protegem a Constituição. Protegem o jogo democrático”.

Nem Alexandre de Moraes e nem os outros ministros são comparáveis aos políticos citados e nem as conjunturas se equivalem.

Ulisses, Tancredo e Montoro, democratas de centro, se insurgiram contra a ditadura oriunda do golpe de 1964, os ministros do STF foram cúmplices do golpe de 2016 e, por um período, aliados do lavajatismo e da golpista Globo, ao ponto do Ministro Gilmar Mendes, sozinho, apoiado em informação da Globo, ter mudado o curso da história ao impedir a nomeação de Lula para um cargo no governo Dilma. 

Confete fora do carnaval não cai bem.

“O Alckmin, esse quase um Fidel Castro, quase quatro mandatos lá. Camarada Alckmin”, disse o ministro Dino, em tom de blague.

Outra comparação infeliz e até ofensiva à memória do comandante Fidel Castro.

Pelo sorriso constrangido do ex-governador por “quase quatro mandatos” de São Paulo, penso que também não deve ter entendido a pertinência e nem gostado. 

Ou entendeu como uma associação queimativa para quem no futuro próximo pode estar disputando a cadeira de Lula com ele?

 “Dino avalia que a entrada do Centrão é positiva para o governo, pois tende a aumentar a fidelidade desse grupo político ao Palácio do Planalto nas votações no Congresso, e justifica o movimento com a “ética do resultado”. A tese, porém, vai de encontro ao que defende o presidente do partido do ministro, Carlos Siqueira, que critica publicamente a aliança com siglas que deram sustentação à gestão de Jair Bolsonaro.”

Ética de resultados ou pragmatismo, é aquela que abandona os princípios éticos, inclusive os estabelecidos pela Constituição, art. 37, pela máxima maquiavélica de que os fins justificam os meios, própria da lógica do autoritarismo, stalinismo e outros ismos oportunistas.

Essa defesa do Centrão é para compensar a identificação que estava tendo com a esquerda entusiasta das invertidas e “aulas técnicas” dadas aos bolsonaristas do Congresso? Como disse um amigo: Dino é o trombone da bolha psicodélica da esquerda festiva.

O plano de Segurança pública apresentado por ele está focado em integração das forças com armas, modernização e mais armamentos.

O Investimento em inteligência investigativa integrada não ficou claro, onde e como. 

Reputo que não é de mais armamentos que a PM necessita, mas de ser desmilitarizada, conforme recomendação de número 20 da Comissão Nacional da Verdade.

Atualmente a polícia mata por dia no país mais de 20 jovens da periferia, que não chegaram aos 21 anos. Entre esses 80% são de negros.

Sendo que a PM da Bahia lidera o vergonhoso e trágico ranking.

Os governos petistas na Bahia não tiveram uma política eficaz para reduzir esses índices funestos.

Recomendação 20 da CNV.  Desmilitarização das polícias militares estaduais.

“Para a CNV, a estrutura militar da Polícia Militar dos Estados e sua subordinação às Forças Armadas é uma herança do regime ditatorial que não foi alterada com a Constituição de 1988. Segundo a Comissão, essa estrutura não é compatível com o Estado democrático de direito e impede uma integração completa das forças policiais. A Comissão recomenda que a Constituição seja alterada para desmilitarizar as polícias.”

Dino saca rápido, é bom de duelo, bateu levou, mas o risco da síndrome de onisciência pode levar a uma rápida desidratação, que não será boa para o governo.

Ele palmilha a sua eventual candidatura, seja à presidência da república, seja ao STF, aspiração legítima, porém, o açodamento não é compatível com o momento.

O peixe morre pela boca, não desejamos que o leão marinho do governo se desgaste por assertivas imprecisas, basta conter um pouco o ego e o entusiasmo.

Somos todos mortais, portanto, limitados.

Por fim, me associo àqueles que não encontraram justificativa técnica para a busca e apreensão na casa dos agressores do ministro Alexandre de Moraes e familiares. E creio que a PF extrapolou e alargou uma agressão e xingamento a uma família, mesmo havendo conotação política, como se fosse ao Estado democrático de direito.

Também estou contrário ao projeto de lei que prevê punição de 40 anos a quem atentar contra os mandatários dos três poderes.

Punitivismo escancarado!

Na ditadura houve uma lei, dita de segurança nacional, que considerava crime ofender o ditador de plantão. Estamos inspirados em quê? E o amanhã?

Xingar faz parte de muitas culturas nacionais, inclusive a brasileira, e seu uso deve ser visto e encarado como manifestação cultural de indignação legítima e válvula de escape em lugar de violência física.

O Brasil não deve caminhar retrospectivamente na rota do moralismo punitivista.

O moralismo anacrônico e falso nos remete a Jânio Quadros, cuja moral caricata de proibir os biquínis e as rinhas de galos escondia o não enfretamento aos problemas reais do país e cuja renúncia, num provável estado etílico, precipitou o golpe de 64 com o apoio dos mesmos setores.

Lembremos do Collor de Mello, o falso caçador de marajás, cassado pelo Congresso e absolvido pelo STF.

Brizola alertava para a UDN de macacão, imagino que no presente ele alertaria para a UDN de terno, gravata e toga.

Está bem recente na memória social o moralismo anticorrupção da lava jato, trincheira dos maiores entreguistas e ladrões do país e parideira do bolsonarismo.

Recordemos que da extrema direita a setores da esquerda houve entusiasmos e apoio aos biltres de toga – Moro e sua gangue. 

Os três M (militares, mídia e mercado) apoiaram e se aproveitaram da lava jato.

Se Moro e a canalhada estão indo para o cadafalso da política, os êmes estão de pé, infiltrados e conspirando.

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

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