O Crescimento Político do Pessoal da Quinta Série, por Jorge Alberto Benitz

Ironicamente as redes sociais, uma ferramenta democrática disponível a todos, se tornou, na pratica, um escoadouro do discurso antidemocrático e até fascista

Jair Bolsonaro – Foto: Isac Nóbrega/PR (Brasília – DF, 26/01/2019)

O Crescimento Político do Pessoal da Quinta Série

por Jorge Alberto Benitz*

Porque a extrema direita mundial cresce? Porque os idiotas de todas as latitudes e longitudes – aqueles que Nelson Rodrigues vaticinou que herdariam a terra. Não pela qualidade, mas pela quantidade. Gente com um conhecimento e mentalidade do nível de um aluno da quinta série que só sabe repetir como papagaio o que leram no WhatsApp. Geralmente fake news, mentiras mesmo –, se empoderaram com o advento das redes sociais. Este tipo de gente, que continua, depois de tudo que se descobriu, bolsonarista nunca se viu tão bem representada do que com estes sujeitos desqualificados políticos vindos do baixo clero da Câmara Federal, como Bolsonaro, que refletem “in totum& rdquo; seus preconceitos, sua tosquice cultural, sua ignorância do nível de um jovem de quinta série do ensino fundamental e seu ressentimento contra a cultura. Para quem conhece história sabe que isso sempre aconteceu. Um exemplo, Adolf Eichmann, criminoso nazista, que trabalhava na gestão de campos de concentração, quando interrogado no Tribunal de Nuremberg disse – não sei se para Hannah Arendt – que admirava Hitler por ser ele um cabo que mandava e desmandava em generais. Imagine um sujeito que pouco tempo atrás só via novela de TV e não passava da leitura da parte de esporte, de futebol, nos jornais, que, de repente, se vê refletido por um político com uma mentalidade de quinta série fundamental?

Ele pensa igual a mim, é a primeira reação. E o encanto aumentou quando eles viram que ele usava o seu linguajar chulo e truculento. Muito melhor que os tucanos com seu estilo professoral. Abagualado como nós, pensaram e logo gamaram com este novo tipo de político; que de novo não tem nada, mas para este tipo de gente ignorante, sem noção, não importa. Quanto mais mentiras falar, mais parecerá no quesito hipocrisia com esta gentalha. Esta gente que acredita em tudo que lê no WhatsApp é uma reedição atualizada da Velhinha de Taubaté. Só que ao contrário da Velhinha de Taubaté que acreditava em tudo que dizia o governo, eles acreditam em tudo que dizem os seus companheiros de quinta série participantes da sua bolha do WhatsApp.

O que nunca aconteceu antes do advento da internet foi a perda do senso de ridículo desta ralé que está como pinto no lixo nas redes sociais, como disse Umberto Eco, com sua sagacidade e gênio, “A internet deu voz aos imbecis”. Quanto mais seus comentários forem destrambelhados e sem nenhuma relação com a verdade for, mais serão curtidos nas redes sociais. Comentários e imagens onde cabem discursos totalmente “fora da casinha” como a tentativa de contato com ETs para pedir que eles os ajudem a implantar uma ditadura no país, rezas a pneus, exaltações iguais a feitas pelos nazistas clamando por Deus, Pátria e Família.

Para ser justo, a elite brasileira que tem sua ideologia neoliberal difundida por todos os meios de comunicação (jornalões, revistas semanais, rádios, noticiários de TV) pouco ou nada fez para elevar o nível cultural e ideológico de seus leitores, ouvintes e telespectadores. Convinha a ela fazer um discurso maniqueísta ideológico de direita com pauta agressiva contra o inimigo comum, a esquerda e o PT, pouco se lixando que isso “levasse água ao moinho” de uma extrema direita que veio, pegou esta onda e mostrou que sabia surfar a baixaria melhor que os tucanos e caiu no agrado do tosco e alucinado novo consumidor de notícias políticas, que, como disse antes e não custa reiterar, até então só via novela de TV e lia, quando lia, apenas as páginas dos jornais sobre futebol.

Defender pautas de direita faz parte do pluralismo de uma vida republicana e democrática. O que não deveria fazer parte foi abandonar um mínimo de preocupação com a liberdade para o  pluralismo das ideias, tão cantado em discursos em editoriais nos jornalões e noticiários de TV e tão negado na prática, na era da hegemonia tucana na mídia brasileira. Comparando o jornalismo brasileiro com o americano e europeu, naquela época e menos agora, por razões obvias, fica evidente a disparidade, pois, nestes últimos, a despeito da hegemonia do discurso neoliberal, o espaço para um discurso de oposição ao neoliberalismo; significativamente maior. 

No Brasil, foi avassalador a adoção deste discurso.  Praticamente não havia espaço na mídia para um discurso de oposição ao “pensamento único” neoliberal, termo criado por Ignacio Ramonet, Diretor de Redação do jornal Le Monde Diplomatique, para denominar a hegemonia deste discurso na imprensa mundial cuja “bíblia sagrada” é o documento chamado Consenso de Washington.  Discurso que não tinha e não tem nenhum compromisso com uma pauta em defesa de valores democráticos e em defesa da soberania de um país, ao contrário. Tanto isso é verdade que um dos pontos chaves é o &ó e;dio a política e aos políticos, a louvação desabrida ao empresário empreendedor e a privatização de todas as empresas deixando ao Estado o papel de mero coadjuvante, despido de qualquer função importante na economia. O Mercado, para estes celerados, se encarrega de tudo.

Comecei pretendendo refletir sobre o crescimento mundial da extrema direita. No entanto, o “Case” da extrema direita no Brasil é tão exemplar que me detive em falar mais ou apenas sobre ela. A razão é simples, pois, através da reflexão sobre a extrema direita brasileira pode- se extrapolar para a cena mundial suas principais linhas de formação e ação, excetuando as peculiaridades inerentes a cada país, dado que muito do nela existente reflete as características da extrema direita mundial, a começar pela obsessão de Bolsonaro em imitar o seu mito, Donald Trump. Até na tentativa de acabar com o Estado democrático de Direito através de um golpe.

A possibilidade de sair deste paradigma rebaixador do nível da política e cultura, que é potencializado e retroalimentado nas redes sociais cada vez mais pelos interesses das plataformas big tech, que lucram com este nivelamento por baixo, implicaria em mudanças através de regulação deste habitat que, do jeito que está, é perfeito para o adestramento, empoderamento e formação de idiotas e analfabetos funcionais. Ironicamente as redes sociais, uma ferramenta democrática disponível a todos, se tornou, na pratica, um escoadouro do discurso antidemocrático e até fascista.  Habitat que reflete o dito de Adorno, com outras palavras.Na Sociedade de massa somos adestrados e, por consequência, reproduzimos o senso comum conservador e/ou reacionário porque só se usa o pensar em tarefas que resultam em ganhos financeiros. Nas demais atividades humanas fora do ganha pão, do trabalho, as pessoas ao invés de usar a razão crítica, agem como “Maria vai com as outras”, seguindo a “boiada.”

A propósito, a hegemonia da cultura visual hoje está em linha com o analfabetismo funcional. Um exemplo: O esvaziamento do Facebook, que bem ou mal ainda valoriza o texto escrito, para o Instagram que se pauta mais por imagens, fotos, é uma sinalização de que estamos indo em direção ao grunhido, como vaticinou Saramago, mas isso é outra história, que apesar de ter tudo a ver, demandaria um outro artigo.

*Jorge Alberto Benitz é engenheiro e escritor.

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