Fernando Horta
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O fascismo nosso de cada dia … ou quem será comido primeiro?, por Fernando Horta

O fascismo nosso de cada dia … ou quem será comido primeiro?

por Fernando Horta

Muitos colegas, professores e pesquisadores da área de humanas torcem o nariz quando ouvem o termo “fascismo” para descrever o momento atual do país. Pensam que é uma demasia. Respeito opiniões em contrário, mas creio que já estamos sim dentro do espectro do fascismo. O fascismo não é um estado em que a sociedade entra, de uma hora para outra, com líderes gritando em microfones, matando pessoas, fazendo guerras, atacando os direitos das minorias e etc.. Isto é muito clichê. As imagens, normalmente em preto e branco, com um líder fardado falando e uma massa organizada respondendo, formam uma estética característica que, quando comparada com as cores atuais, manifestações de ruas e a ausência de uma liderança forte, parecem demonstrar que as duas coisas não são semelhantes. Daí as pessoas acharem “demasiado” se falar em fascismo.

Ocorre que o fascismo, tem algumas linhas clássicas de explicação. Uma delas passa pela análise da psicologia dos indivíduos e argumenta que o fascismo é um comportamento. Não é algo inoculado no indivíduo, de fora para dentro. Mas algo que é pré-existente em muitas pessoas, embora silenciado quando em uma sociedade sadia (com limites e regras igualitárias, respeito pelos direitos individuais e etc.). Durante muito tempo, os historiadores se perguntaram como uma sociedade como a alemã, cujo lastro cultural remonta à Idade Média, sucumbiu ao irracionalismo tão abruptamente? Uma das explicações – que hoje é bastante repelida – falava da genialidade maléfica de Adolf Hitler. Um indivíduo extremamente inteligente, sagaz e com uma retórica insuperável. Este “mal encarnado” teria hipnotizado toda uma nação e criado o nazismo.

Este tipo de explicação, que até hoje tem adeptos, foi se alastrando e aprofundando. Saíram livros sobre a sexualidade de Hitler, sobre sua “brilhante retórica” entre outros assuntos. Também, para reforçar a tese das “lideranças maléficas”, se publicou sobre Göring, Goebbles e Himmler. Cada vez com mais evidências do “mal insuperavelmente inteligente”. Este tipo de narrativa servia aos interesses do ocidente naquela época. Retirava das costas da Alemanha (que tinha virado aliada do ocidente contra a URSS) o peso da culpa pelo nazismo e prometia que o mal havia sido extirpado. A verdade, entretanto, é mais complicada. Hitler se mostrava bastante limitado em sua inteligência. Nada ali sugeria genialidade. Os estudos sobre a história da Alemanha no entre-guerras mostravam o lento processo de fortalecimento do nazismo, que surgia pela polarização política e crise econômica. Os partidos de centro passaram a ficar esvaziados de votos, enquanto a extrema-esquerda (o SPD, partido comunista alemão) e a extrema direita (o nacional socialismo nazista) começaram a concentrar as votações.

Neste processo, a classe média e as elites, temerosas da retirada de seus direitos como os partidos de esquerda prometiam, acabavam aliando-se ao espectro da extrema-direita. Esta é a explicação política que ganhou fôlego na década de 70 e ainda hoje é bastante utilizada. Ocorre que ela usa argumentos estruturais. Invoca o “conservadorismo da classe média”, o “anticomunismo”, os interesses do “grande capital”. A partir da década de 80, os pesquisadores passaram a desconfiar destas grandes generalizações e foram buscar entender os processos mentais que levavam o indivíduo a escolher o caminho A ou B em determinadas situações. Aí se chegou ao viés psicológico do fascismo. Individualmente, o narcisismo mesclado com um autoritarismo e um desprezo pelo diferente eram apontados como características que poderiam ensejar o fascismo. Assim, o fascismo poderia existir mesmo sob uma capa “liberal”. Este é o argumento clássico de Deleuze e Guattari em “Mil Platôs”. O Fascismo seria como uma predisposição psicológica que certos indivíduos apresentam que, quando encontrando um ambiente social favorável, se desenvolveria até o processo de estabilização do autoritarismo.

Em sociedades que quisessem manter-se longe deste perigo, impunha-se algum tipo de controle sobre as “liberdades individuais”. A liberdade de expressão não poderia acobertar o racismo e o preconceito. O livre pensamento não poderia dar guarida às ideologias que não respeitassem a democracia. A livre associação não poderia ser usada para constituição de milícias que visassem atacar grupos minoritários. E assim se reconstruiu a Europa. Lá, é punível imediatamente, declarações fascistas. Por quê? Porque se reconhece que esta “predisposição” se encontra latente na sociedade e, uma vez deflagrado o processo de fortalecimento do fascismo, ele era de difícil contenção. O problema é que este controle social foi completamente anulado pelas redes sociais. Indivíduos totalmente autoritários e violentos se retroalimentam sem controle com discursos de ódio e preconceito em qualquer canto da rede mundial de computadores. “Empoderados” estas bestas-feras saem para as ruas formando grandes grupos políticos articulados. E o monstro surge.

O fascismo inicia-se com a conjuminância de três fatores: uma negação da política como ferramenta de solução dos conflitos sociais, um desprezo pelo que é diferente cultural, política ou socialmente e um fortalecimento do ideal punitivista jurídico ou físico, sempre resguardando o fascista como “reserva moral” do mundo. O fascista crê que está certo, que sua moral é superior à dos outros, que ele é o único que trabalha e que preza pelos “valores tradicionais”. E ataca tudo o que é diferente disto. Tudo vira “corrupção”. Todos são “farinha do mesmo saco”. Esta desconstrução político-social enseja a violência. E através da violência o indivíduo fascista sacia suas duas outras necessidades: minora seu sentimento de inferioridade, porque se vê parte de um coletivo “moralmente superior” e satisfaz seu sadismo através da agressão.

Se o leitor me seguiu até aqui, não pode deixar de ter observado as similaridades com o Brasil atual. Polarização política, as crescentes agressões às minorias, o retorno das ideias conservadoras de “família”, “religião”, “padrões éticos”. A negação do papel social da política, como se algo pudesse (e até devesse) ser “apolítico”. O ativismo jurídico com corte moralizador, pensando em “reconstruir o brasil” pelas mãos togadas. Enfim, é o retrato do Brasil atual. De onde estamos para um fascismo aberto e sem medo de se afirmar não há muita distância. Os discursos contra os direitos humanos já são “normais”, contra os direitos das “mulheres” também. As minorias cada vez mais agredidas e ultimamente até ameaçadas de extinção, afinal quilombolas e índios “não servem nem para procriar”. O quadro é aterrador.

O que agora fica ainda mais evidente, com as denúncias atingindo o PSDB e o PMDB em cheio, é que os que soltaram os monstros, serão comidos primeiro por eles. Tais partidos tinham financiados grupos fascistas como MBL, “Vem pra Rua” e assemelhados contra Dilma, agora serão engolidos pelos mesmos grupos. O problema é que ao serem comidos pelo monstro que soltaram, eles se tornam parte e fortalecem o fascismo. Suas carreiras políticas acabadas nada significam frente à violência que será gerada em nossa sociedade. Todos pagaremos pela irresponsabilidade de lideranças como Temer, Aécio e outros. Afinal, “se todos são iguais”, se “todos são ladrões” quem nos governará? Algum impoluto líder que se diz apolítico e que tem “valores” nacionais, que luta pela “família”, pelos “bons modos”, pelo “bom senso” e que tem capacidade de “gestão”? … Daqui, só falta ter um bigodinho aparado, falar alemão e fazer péssimas pinturas de vasos, pensando ser um artista incompreendido.

Fernando Horta

Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.

30 Comentários

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  1. “Olavão tem razão”? Esse imbecil nunca acertou uma!

    A não ser que o Foro de São Paulo esteja se reunindo com a União Soviética e com os Muçulmanos para atacar Brasília a qualquer momento… esse debilóide do Olavo de Carvalho merece ser internado.

    É curioso o quanto esse discurso delirante e medíocre tem penetração entre as pessoas…os seguidores são feitos de idiota o tempo inteiro, são bombardeadas por provas cabais que as teorias desse cara são uma piada… e mesmo assim continuam a segui-lo.

    Como é possível isso???

    E não surge ninguém para jogar aquele balde de água fria e acordar os zumbis de seu “mundo dos sonhos”.

    Eu já tentei ler textos de Olavo, tentei ver algum vídeo… mas é impossível… qualquer pessoa com o mínimo de discernimento para na primeira tentativa… e ainda assim, todo dia eu leio em algum lugar: Olavo tem razão.

     

  2. Minha preocupação é ainda

    Minha preocupação é ainda maior, mais aterradora. Conheço uma pessoa que se enquadra perfeitamente no modelo com as seguintes variantes: 

    -De origem extremamente pobre, ascendeu à classe média após curso superior conseguido com esforço hercúleo e ajuda de amigos, eu incluso;

    -Sua agressividade não é suficiente sequer para matar uma barata;

    -De uma solidariedade sem limites para com os despossuídos, tanto na profissão que exerce como no dia a dia não profissional. Nenhum recalque contra os “possuidos”. Não tem qualquer atração especial pelo “vil metal”; 

    -Sua vida particular é um primor. Bom marido, bom pai, não comete transgressões, não sonega impostos…

    Não creio que mudará, já se encontra na faixa etária dos 70. Continuará amando Hitler, Pinochet, governos “fortes” e ditatoriais, “que mantém a ordem”. Seria um fascista “do bem” ? E meu medo, é um caso único ou existem mais iguais a ele atraídos pela ideologia nazifascista ?

  3. Perfeito!
    Obrigada Fernando

    Perfeito!

    Obrigada Fernando Horta.

    Este ano estava conversando com um grupo de pessoas e tentei explicar que a palavra “fascismo” tomou 

    outro rumo, tem outro significado de sua origem histórica.

    Não consegui formular o que você descreveu. Agora sei. 🙂

  4. E agora , como se combate

    E agora , como se combate isso ? Como chegamos neste ponto ? O articulador disse que o inicio te tudo foi a polarização politica e a europa corrigiu colocando limites ao fascismo. Mas e aqui no Brasil , com todo campo politico no momento emparedado , como fica ? A população e principalmente a classe media não tem a minima conscientização desta situação , vamos dizer , de pre fascismo em instalação no Pais.

    1. Leitura

      A unica forma de se combater o fascismo, JC Souza, é instruindo o povo. Povo na acepção de nação. Porque no Brasil tem-se ilusão de acreditar que quem possui ‘canudo’ é esclarecido. As pessoas chegam à universidade a base de decoreba; a maioria é hermética à poesia, pulam as aulas de filosofia e sociologia (alguns de meus colegas faziam isso), não gostam da aula de literatura, não conhecem a historia do Brasil [!], da América Latina e nem portuguesa corretamente. Como um povo condicionado pela televisão pode formular ideias mais sofisticadas? E entender a real politica? E como pensar sem base para estruturar o pensamento? Tive a “genial ideiae de sugerir a uma psicologa conhecida de que em sua viagem pela Europa incluisse Portugal. “Para quê? Tem coisas muito mais importantes na Europa que ir à Portugal”. E tal psicologa, branca, classe média, pensa que faz parte da elite do Pais. Esses são sintomas do mal maior.

  5. Facismo e capitalismo

    Na verdade, facismo e capitalismo estão intimamente ligados. O facismo é como o câncer do organismo social capitalista, que pode aparecer em algumas células (pequenso grupos) e proliferar para toda a sociedade.

    O interessante é que o facismo (assim como o fundamentalismo religioso) é uma reação contra os malefícios do capitalismo: crises econômicas, concentração de renda, desemprego, baixos salários, trabalho precário, espólios de guerras etc. O facismo se espalha quando estes problemas atingem as camadas médias e pobres (mas acima da linha da miséria) da sociedade: o facismo é uma doença das “pessoas de bem”, que preza o trabalho duro, o crescimento individual e os estudos, gente com boa reputação social.

    Estas “pessoas de bem” (classe média empobrecida ou sob risco de empobrecimento e trabalhadores pobres que não veem perspectivas de melhoras para si mesmo e seus filhos) se sentem frustradas com a marginalização que o capitalismo lhes impõe, mas são incapazes de aderir a uma saída de esquerda, por terem sua psique estruturada pelos valores do capital: trabalho, empreendedorismo, individualismo narcisista.

    A alternativa é o reacionarismo de extrema direita, culpando a política, a corrupção e algum bode expiatório, pelos males sociais. 

    Outra saída é o fundamentalismo religioso. No Brasil, o facismo e fundamentalismo evangélico andam, não raro, de mãos dadas: Bolsonaro é facista e evangélico, assim como Dallagnol.

    A degradação do tecido social que o capitalismo provoca são a semente do facismo e do fundamentalismo.

  6. Parabéns Nassif e Fernando Horta

    Prezado Luís Nassif, parabéns por juntar ao GGN articulista do porte do Fernando Horta.

    Acho que este é o terceiro artigo dele, com excelentes análises críticas que nos colocam a pensar na conjuntura!

     

    1. Em total acordo

      Desde o primeiro artigo, sempre à espera do próximo.

      Há que se ter um grande respeito à sombra, o mal que também todos somos e trazemos.

      É um tema recorrente na literatura, na psicologia, no teatro, nas artes em geral, e na história humana.

      Uma “persona” por cima, a esconder a “persona”, e o mr Hide se apresenta à luz do dia.

      Uma máscara sobre a máscara revela o monstro.

      O anonimato da internet está aí para confirmar esse perigo.

  7. O principal representante do

    O principal representante do facismo hoje é sem dúvida o juiz de curitiba e o TRF4, o tribunal da exceção. 

  8. Apesar de triste é algo totalmente natural.

    É um aspecto do pensamento teleologico prórpio do ser humano (inclusive na aquisição da linguagem).

    É super normal esse pensamento primitivo, o problema é que a percepção, até mesmo útil, de fenômenos naturais não se aplica as questões sociais, daí surge esse outro anacronismo que é o positivismo explorado maliciosamente por entes que controlam os mecanismos de mídia. 

    O florescimento desse sentimento (nos níveis da Alemanha nazista e de agora em várias partes do mundo)  só é possível se disseminado através do suporte técnico de informação da época que ao mesmo tempo, atinge muitas pessoas, reveste a mensagem de tecnicidade e estimula o sentimento de grupo.

    Essencial reler Magia e Técnica, Arte e Política W.B e Vigiar e Punir M.F para ajudar a entender esse nosso presente caduco.

    Saudações.

  9. Os Alemães aderiram ao nazismo em razão da situação econômica

    Os alemães aderiram ao nazi-fascismo em razão da situação econômica em que foram atirados após o término da 1ª guerra mundial e também porque o Ocidente permitiu a fim de que os Nazistas enfrentassem os Soviéticos.

    Em geral, o fascismo não faz parte da natureza humana, ele nasce das relações de produção. A esse respeito, o Bertolt Brecht disse:

    “O que torna imperiosa a necessidade de dizer a verdade são as consequências que isso implica no que diz respeito à conduta prática. Como exemplo de verdade inconsequente ou de que se poderão tirar consequências falsas, tomemos o conceito largamente difundido, segundo o qual em certos países reina um estado de coisas nefasto, resultante da barbárie. Para esta concepção, o fascismo é uma vaga de barbárie que alagou certos países com a violência de um fenómeno natural.

    Os que assim pensam, entendem o fascismo como um novo movimento, uma terceira força justaposta ao capitalismo e ao socialismo (e que os domina). Para quem partilha esta opinião, não só o movimento socialista, mas também o capitalismo teriam podido, se não fosse o fascismo, continuar a existir, etc. Naturalmente que se trata de uma afirmação fascista, de uma capitulação perante o fascismo. O fascismo é uma fase histórica na qual o capitalismo entrou; por consequência, algo de novo e ao mesmo tempo de velho. Nos países fascistas, a existência do capitalismo assume a forma do fascismo, e não é possível combater o fascismo senão enquanto capitalismo, senão enquanto forma mais nua, mais cínica, mais opressora e mais mentirosa do capitalismo.

    Como se poderá dizer a verdade sobre o fascismo que se recusa, se quem diz essa verdade se abstêm de falar contra o capitalismo que engendra o fascismo? Qual será o alcance prático dessa verdade?

    Aqueles que estão contra o fascismo sem estar contra o capitalismo, que choramingam sobre a barbárie causada pela barbárie, assemelham-se a pessoas que querem receber a sua fatia de assado de vitela, mas não querem que se mate a vitela. Querem comer vitela, mas não querem ver sangue. Para ficarem contentes, basta que o magarefe lave as mãos antes de servir a carne. Não são contra as relações de propriedade que produzem a barbárie, mas são contra a barbárie.

    (…)

    Não é a mim, fugido da Alemanha com a roupa que tinha no corpo, que me vão apresentar o fascismo como uma espécie de força motriz natural impossível de dominar. A escuridade dessas descrições esconde as verdadeiras forças que produzem as catástrofes. Um pouco de luz, e logo se vê que são homens a causa das catástrofes. Pois é, amigos: vivemos num tempo em que o homem é o destino do homem.

    O fascismo não é uma calamidade natural, que se possa compreender a partir da “natureza” humana. Mas mesmo confrontados com catástrofes naturais, há um modo de descrevê-las digno do homem, um modo que apela para as suas qualidades combativas.

    O cronista de grandes catástrofes como o fascismo e a guerra (que não são catástrofes naturais) deve elaborar uma verdade praticável, mostrar as calamidades que os que possuem os meios de produção infligem às massas imensas dos que trabalham e não os possuem.

    Se se pretende dizer eficazmente a verdade sobre um mau estado de coisas, é preciso dizê-la de maneira que permita reconhecer as suas causas evitáveis. Uma vez reconhecidas as causas evitáveis, o mau estado de coisas pode ser combatido.”

    https://resistir.info/brecht/brecht_a_verdade.html

    Por seu turno, Einstein assim se expressou:

     

    “O perigo fascista e o desemprego”

    Por Albert Einstein

    . O New York Times convidou-me a exprimir-me brevemente sobre o perigo fascista. Em resposta a esse convite envio as linhas que se seguem. Pretendendo ser breve, exprimir-me-ia de um modo categórico e dogmático que poderia dar uma impressão de imodéstia. Pedirei, portanto, aos leitores o favor de serem indulgentes para com a forma das minhas considerações e de não se interessarem senão pelo seu conteúdo.

    Quase toda a gente neste país considera o regime e o modo de vida fascistas um mal contra o qual nos devemos defender por todos os meios disponíveis. É reconfortante ver os espíritos concordarem nesse ponto. Mas uma tal unanimidade não existe nem acerca da natureza desse perigo nem sobre os meios a mobilizar para o afastar. Exprimirei o meu ponto de vista sobra este assunto nas linhas que se seguem.

    Eu tive oportunidade de observar a propagação da epidemia na Alemanha. Não é sem dificuldades nem reticências que o homem renuncia às suas liberdades e aos seus direitos. Mas basta que um povo se veja, em grande parte, confrontado com uma situação insuportável para que se torne incapaz de um julgamento são e se deixe abusar voluntariamente por falsos profetas. “Desemprego” é a palavra terrível que designa essa situação. Também o recear do desemprego é igualmente lancinante.

    A ausência constante de segurança económica engendra uma tensão que as pessoas são incapazes de suportar a longo termo. Essa situação será ali pior do que aqui porque, num país fortemente povoado e dispondo de recursos naturais extremamente limitados, as flutuações económicas fazem-se sentir com ainda maior dureza.

    Existe também aqui uma situação semelhante; o progresso tecnológico e a centralização da produção provocaram um desemprego crónico e uma parte muito considerável da população em idade de trabalhar luta em vão para se integrar no processo económico. Sobreveio desde então que tanto aqui como lá os demagogos encontraram algum sucesso provisório mas, graças à existência neste país de uma mais forte e mais avançada tradição política, eles não duraram muito tempo.

    Estou convencido de que só medidas eficazes contra o desemprego e a insegurança económica do indivíduo poderão realmente afastar o perigo fascista. Por certo é necessário contrariar a propaganda fascista levada a cabo do exterior. Mas é preciso abandonar a ideia errónea e perigosa de que alcançaremos o fim do perigo fascista através de medidas puramente políticas. Tudo se passa, pelo contrário, como quando existe uma ameaça de contágio pela tuberculose. É certamente bom que existam medidas de higiene impeditivas logo que entremos em contacto com os germes da doença, mas uma boa alimentação é ainda mais importante, dado que ela reforça as defesas naturais do indivíduo contra a infecção.

    Todos os que se interessam pela salvaguarda dos direitos cívicos neste pais devem, por conseguinte, estar disponíveis também a procurar de forma sincera uma solução para o problema do desemprego, tal como devem prestar-se aos sacrifícios necessários para a alcançar. É preciso então perguntar se não é justificado sacrificar uma parte da liberdade económica se isso permitir em contrapartida garantir a segurança do indivíduo e da comunidade política. Não é preciso considerar estas questões de um ponto de vista sectário, pois trata-se de nos defendermos contra um perigo que a todos diz respeito.

    O desempregado não sofre somente por estar privado de bens de primeira necessidade. Ele sente-se ainda excluído da comunidade humana. Ele vê recusada a possibilidade de colaborar no bem-estar geral; não goza de nenhuma consideração, sendo mesmo percebido como um fardo. É absolutamente natural que ele tenha o sentimento de que nós procedemos incorrectamente perante ele e que, procurando desembaraçar-se por si mesmo, tenha pouco a pouco recorrido a meios ilegais, a actos criminosos.

    Mas, se um dentre eles consegue mesmo assim encontrar um emprego, após um período mais ou menos longo de desemprego, ele não é mesmo assim um homem livre, porque é inevitável que receie encontrar-se, em breve, de novo no desemprego. Esse estado de tensão bem real dos que têm um emprego, junto ao desemprego bem real daqueles que perderam o seu, torna as pessoas amargas. Na busca de uma saída, eles concedem sem discernimento a sua confiança ao primeiro que chegue a prometer-lhes uma melhoria da sua situação. É aí que reside o perigo político do desemprego. O perigo de ver o desemprego ameaçar a democracia é particularmente elevado quando são jovens aqueles que devem suportar essas amargas decepções; eles preferem não importa que combate à resignação e a sua falta de experiência torna-os cegos aos perigos e aos riscos que comporta uma acção irreflectida.

    É interessante constatar a que grau a atitude dos homens face ao trabalho se modificou ao longo do tempo. Quando Adão foi punido, escutou: “Ganharás o teu pão com o suor do teu rosto”. O trabalho foi-lhe imposto como castigo e foi por isso considerado como uma maldição. O castigo do Adão moderno é o de ser desocupado e privado do seu trabalho. Aquele que tem um trabalho suscita a inveja. Se considerarmos o progresso económico da humanidade deste ponto de vista lá se acaba essa bela altivez tanto dá a impressão de termos, ao longo dos séculos, evoluído.

    O desemprego é particularmente cruel em período de crise económica. Muitas pessoas têm por isso tendência a crer que uma vez ultrapassadas as crises, o desemprego tenderá também a desaparecer. Isto parece-me, no entanto, incorrecto. Mesmo em períodos de prosperidade, o desemprego é significativo. É por isso que penso que podemos, sem riscos de errarmos, abstrair-nos do fenómeno das flutuações quando reflectimos nas causas do desemprego.”

     

  10. O Facismo começou com o MP

    O Facismo começou com o MP alargando a tipificação criminosa.

    Estão criminalizando políticas públicas, por isso acabando com o País.

    Se eu sou candidato, e defendo obras, é natural que empresas de construção doem para minha campanha.

    Se eu sou candidato e sou privatista é natural que agentes da sociedade com liquidez, doem para minha campanha.

    Se sou “verde” e a favor dos bancos, é natural que este setor doe para minha campanha.

    Todos estes fatores são políticas públicas e são legítimas, bem ou mal.

    A partir daí, se há a corrupção, na ponta, do funcionáiro público ou mesmo do político, ai sim, é corrupção, é crime.

    Foi o que ocorreu com os diretores e gerentes da Petrobrás. São criminosos contumazes e deveriam estar presos, receberam propinas para acobertar contratos.

    Nada a ver com políticos tesoureiros, marketeiros.

    Políticos executam políticas públicas e através, destas, recebem as doações, é assim no mundo todo.

    Nos EUA, a velha indústria e as armas doaram a Trump, já Wall Street e os bancos, doaram a Hilary.

    Tesoureiros, como Vacari, têm como função inerente ao cargo, solicitar doações, não há nada demais nisso, não há crime. Ele não tinha ingerência em obras ou na Petrabras ou na JBS.

    Marketeiros menos ainda. O Santana é dos maiores marketeiros da história, o trabalho dele é brilhante. Ele nunca teve ingerencia em obras ou na JBS, qual o crime dele ? Receber pór fora ?

    Ora, ora, ele prestou um serviço e queria receber. No máximo, receber por fora, é um crime tributário menos, sujeito a uma multa nem tão grande assim. Tanto é verdade que Duda Mendonça foi absolvido no mensalão.

    Mas o que o MP tem feito ? Prende essas pessoas por “alargamento” da tipificação criminal e os obriga a delatar politicos, com ou sem provas.

    Ou seja, o MP e o Judiciário estão atuando contra a política e contra o Estado. Essa é a realidade.

    É preciso travar esse debate e é preciso que essa turma seja contida para o bem do País.

     

  11. Não há saída para o País, que

    Não há saída para o País, que não seja um GRANDE ACORDO DO SISTEMA POLÍTICA PARA CONTER O AVANÇO DO MP E JUDICIÁRIO.

    É  a única saída.

     

  12. Não existe fascista do bem .

    Não existe fascista do bem . O que está acontecendo é a perda dos limites dados pela sociedade a estas opiniões. Quem esta retirando os limites da sociedade ? O judiciário , midia tradicional arcaica , ignorancia politica , classe dominante e plutocracia que não querem ceder em nada , estão mantendo o habito na sociedade , para não perder seu espaço de dominio.

  13. Inacreditável!

    Caraca! Sério? Será que vale a pena comentar essa matéria???

    Quer dizer agora que entramos na teoria do inatismo do fascismo!? Daqui a pouco alguém vai querer dizer que ele é determinado pela biologia!!!… Quem sabe não comecem a procurar genes fascistas!… Ah! como a lógica do racismo (essa sim!) consegue semear suas sementes atávicas nas mentes de alguns que se dizem cientistas sociais!!!

    Quer dizer que uma certa gramática sobre a socialidade não tem neca de lógica simbólica, de linguagem… é tão simplesmente uma tendência “inata”?… Voltamos à velha retórica conservadora e bolorenta sobre as “índoles” (de indivíduos reificados)!… Seria isso apenas mais um eterno retorno dos velhos zumbis liberais sob a forma da “sociobiologia” (como a chama Marshall Sahlins)?

    Caraca! O que parece mesmo é que o nosso “cientista social” da matéria foi diplomado no Programa de Pós-Graduação do Botequim da Esquina.

    1. Na sua opinião, Ricardo, qual é a causa do fascismo?

      A sua manifestação tá mais para ataque pessoal do que uma desconstrução do argumento do autor.

      Na sua opinião, qual a causa do fascismo?

      Don’t shoot the messenger, shoot the message, Ricardo

      1. Caro Rui

        “Fascismo” é só uma formação discursiva como outra qualquer, sempre e necessariamente contextualizada (como todo e qualquer fenômeno social), ou seja, sujeita a condicionamentos, especificações, modulações e regimes de legitimação que só fazem sentido se reconhecido o contexto.

        Ou seja, o fascismo não tem “causa”, tem conformação. Para usar mais uma vez o termo do Foucault, fascismo é uma “formação discursiva”; não é uma emanação da natureza.

        Não, não é um “fenômeno universal”! Não é uma compleição inata. Não é um abstrato que serve para qualquer coisa à qual se impute (isso já seria algo da ordem da mistificação).

        Mesmo que se queira renomear todo tipo de autoritarismo com a rubrica de “fascismo” ainda assim faltaria discernir o que, em determinado momento e sob que lógica simbólica, poderia ser reconhecido como “autoritarismo”.

        Bom, o resto é lição da história. Não preciso ficar me entretendo com platitudes.

        O argumento embandeirado pelo autor dessa matéria não está dissociado de uma certa forma de pensar. E essa forma de pensar incide em primarismos grotescos em termos de rigor epistemológico. Logo, enunciado e enunciador discursivo são questionáveis na mesma medida.

        1. Existe alguma condição para essa formação discursiva vingar?

          Sr. Ricardo, existe alguma condição objetiva para essa formação discursiva conquistar corações?

          A propósito, no artigo intitulado ‘Os Brucutus da internet, Gonzaga Belluzzo escreveu:

          “Os indivíduos mutilados executam os processos descritos por Franz Neumann em Behemoth, seu livro clássico sobre o nazismo: “Aquilo contra o que os indivíduos nada podem e que os nega é aquilo em que se convertem”.  O que aparece sob  a forma farsista de um conflito entre  o bem e o mal está objetivado em estruturas  que enclausuram e deformam as subjetividades exaltadas. A indignação individualista e os arroubos moralistas são expressões da impotência que, não raro, se metamorfoseia em violência ilegítima.”

           

  14. SPD

    Boa tarde, Fernando!

    Se me permite uma correção, o SPD é o Partido Socialdemocrata da Alemanha (Sozialdemokratische Partei Deutschlands – SPD) e o Partido Comunista foi o KPD (Kommunistische Partei Deutschlands).

    Abraço,

    Juliana

  15. O fascismo está na internet e fora dela

    Fernando Horta, excelentes considerações sobre o fascismo.

    Ao contrário do que afirmou um dos comentários críticos, não percebi em seu texto, em nenhum momento, a defesa do inatismo do fascismo ou de predisposição genética para tal. O que vi foi a explanação sobre vários modelos distintos de pensamento que buscam explicar a natureza e o surgimento do fascismo nas sociedades. Na verdade, nem tenho certeza se você, pessoalmente, defendeu algum desses modelos como o melhor. Aparentemente, limitou-se a descrevê-los.

    Pelo que entendi, no modelo comportamental explica-se o fascismo a partir de algo que entendi como uma agressividade própria do indivíduo, não necessariamente inata ou genética, podendo ser adquirida culturalmente. No segundo, o modelo messiânico, o fascismo teria fonte no carisma pessoal de líderes que sequer necessitam de brilhantismo, bastando estar no local certo, na hora certa, para receber a adesão popular dos insatisfeitos com a política (a referência a Bolsonaro é patente). No terceiro, o modelo psicológico, o fascismo é produto da personalidade narcísica e autoritária. A formação das nuances psicológicas das pessoas pode conter componentes hereditários, mas é essencialmente cultural, surgidas das relações interpessoais.

    Enfim, como Hanna Arendt descobriu, o mal banal habita a alma do ser humano medíocre e dela tenta se apossar a todo momento. A ocasião não somente faz o ladrão, como também o fascista. E o Brasil parece vivenciar essa ocasião na qual as emanações autoritárias se sentem à vontade para abandonar os armários nos quais se escondiam.

    A agressividade nas discussões públicas é patente, tanto na internet, como na vida real. O fascista virtual, da internet, em geral é fascista também no mundo real, só que naquela ele já se sente à vontade para exibir seu lado podre, enquanto, neste, apenas começa a ficar solto.

    Aproveitando um trecho de seu texto, eu finalizo dizendo que “o fascista crê que está certo, que sua inteligência é superior à dos outros, que ele é o único que estuda a sociedade e que preza pelos ‘valores epistemológicos’. E ataca tudo o que é diferente disto”.

  16. Fascismo de ontem e de hoje

    1) «O fascismo não é um estado em que a sociedade entra, de uma hora para outra, com líderes gritando……»

    — Mas nem o fascismo italiano começou dessa maneira. Mussolini foi individuado pelos inglese em comum acordo com a alta burguesia italiana. Finaciaram ele em tudo. Mussolini e Al Capone tiveram origem comum de anticomunistas, antigrevistas e antipacifistas. Mussolini foi mais importante porque serviu, no inicio, aos interesses politicos da Inglaterra (contra os interesses do seu pais).  O fascista é um criminoso, um sociopata que pode até fazer carreira política ou militar. No poder, não hesita em mentir, trair, enganar, corromper e ser corrompido, em matar, torturar, violentar, roubar sua carteira, sua liberdade e seus direitos.

    2) «quando comparada com as cores atuais, manifestações de ruas e a ausência de uma liderança forte, parecem demonstrar que as duas coisas não são semelhantes…»

    — Quem disse que o aparato digestivo do homem de Neandertal é diferente do aparato do homem atual? Os tempos mudaram mas o fascismo continua o que sempre foi. A maioria dos manifestantes de junho não pertenciam a qualquer partido político e não eram liderados por ninguém com quem as autoridades pudessem negociar. E quase pararam o Brasil. O descontentamento foi estimulado pela divulgação nas redes sociais de muita propaganda sobre “gastos milionários de dinheiro público”: “Queremos transporte público moderno, educação de qualidade, serviços de saúde e garantia de emprego”.  Os planejadores inculcaram nos manifestantes o link entre ”esportivo” e corrupção no governo, empresas construtoras, etc..  A convocação para os protestos surgiram em páginas anônimas de Facebook. A página brasileira de uma comunidade de “Direitos Humanos” publicou uma foto do Mark Zuckerberg, exibindo um cartaz: “Não são os 20 centavos!” #ChangeBrasil!” 
    Sabe-se dos laços de colaboração do Zuckerberg, com a CIA. Sabe-se que a CIA financiou o início de seu negócio. Zuckerberg tem também contatos estreitos com a Agência de Segurança Nacional. Difícil acreditar que ele tenha-se envolvido de sua iniciativa e que tenha passado a preocupar-se com o preço dos transportes públicos no Brasil. O #ChangeBrasil! produziu videos, em ingles, criticando a gestão da Dilma com a Copa, etc. Não precisaram criar lideranças centralizadas, em nenhum momento. O Edward Snowden revelou que o Brasil passara à categoria de “ameaça de nível elevado” pelo Departamento de Estado. Era preciso detonar a continuidade dos governos progressistas.
    Os nascidos durante o governo FHC eram pequenos demais quando ele praticava o crime das privatizações e para reeleger-se; quando seu governo gerava fome, miséria, desemprego, com filas imensas de desempregados. Eles não vivenciaram os dias horríveis do gov. dele, com P36 afundando, gasolina subindo todo dia, filas gigantescas para tentar aproveitar o preço anterior. Muitos daqueles jovens alienados que então manifestavam contra o PT, estudavam porque Lula e Dilma atuaram uma politica de inclusão. Mas eles não eram concientes disso.

    3) «Não é algo inoculado no indivíduo, de fora para dentro. Mas algo que é pré-existente em muitas pessoas, embora silenciado quando em uma sociedade sadia (com limites e regras igualitárias, respeito pelos direitos individuais e etc.)»

    — Discordo dessa teoria mesmo porque a sociedade brasileira nunca foi sadia, nunca foi igualitária, nunca respeitou os direitos de ninguém, nem individual nem coletivo.  O Bajonas, colunista do Cafezinho, esclareceu: ”Esse público foi fabricado por décadas de lixo televisivo, de empobrecimento da percepção e da capacidade de problematizar. E ficaram expostos a slogans publicitário-políticos: O PT acabou com o Brasil  –  Bandido bom, é bandido morto  –  Direitos humanos, para humanos direitos  –  Negro é feio e loiro é bonito  –  Tem gente que tem cara de pobre   –  Petralhas, etc.
    E’ de fora pra dentro, sim. Chomsky: o “Comitê Creel” (nome de um jornalista norte-americano, que participara do laboratório de fabricação do consenso sob a direção do Edward Bernays) conseguiu converter os EUA, então um país de agricultores simplórios, em um país de “odiadores de alemães”. Vale notar que Goebbels escreveu que os textos do Bernays eram sua leitura de cabeceira: a propaganda nazista veio DEPOIS do Comitê Creel. A propaganda nazista NASCEU nos EUA, antes, até, de haver o fascismo alemão.

    4) «Neste processo, a classe média e as elites, temerosas da retirada de seus direitos como os partidos de esquerda prometiam. Esta é a explicação política que ganhou fôlego na década de 70 e ainda hoje é bastante utilizada.»

    — Esse papo nasceu na antiguidade com a instituição da propriedade privada. Não foi na década de ’70 que ganhou fôlego foi com a revolução proletária na Russia em 1917.  Chomsky: ”John Foster Dules disse certa vez: «os pobres querem saquear os ricos por isso temos que garantir a nossa doutrina de que são os ricos que devem saquear os pobres». O programa das elite sestadunidense e europeia sempre foi este e somente este e como os pobres simpatizam com o comunismo e não deu pra destruir a Russia, estabeleceu-se um sistema de gerenciamento global chamado Guerra Fria. Que é vigente ainda hoje.

    5) «A partir da década de 80, os pesquisadores passaram a desconfiar destas grandes generalizações e foram buscar entender os processos mentais que levavam o indivíduo a escolher o caminho A ou B em determinadas situações. (…) Assim, o fascismo poderia existir mesmo sob uma capa “liberal”.»

     — Esse é um dado de fato. O melhor exemplo é a sociedade estadunidense.

    6) «O Fascismo seria como uma predisposição psicológica que certos indivíduos apresentam que, quando encontrando um ambiente social favorável, se desenvolveria até o processo de estabilização do autoritarismo.
    racismo…..»

    — Essa é uma das teorias mais peversas que conheço. No século XIX instituições nascentes da cultura brasileira, baseadas sobretudo entre Rio e S. Paulo, lamentavam as carências intelectuais e morais das massas nordestinas, ”gente inferior por natureza”. A elite branca brasileira foi a primeira na história do continente americano, que implantou a ”eugenética positiva”. O baiano Nina Rodrigues afirmava que o cruzamento racial era o responsável pelo banditismo, heresia religiosa, incapacidade para o trabalho, indolência, pouca inteligência, vicios, etc.
    ”Que povo tão ridiculo é o brasileiro, de todo incapaz para o autogoverno”. (…) dificil crer que exista um estado pior de sociedade em qualquer outra parte que não seja este pais, onde o clima estimula também toda a sorte de depravações e delinquências em mentalidade não formadas ainda nem adaptadas a principios fixos de conduta moral nem iluminadas pelas verdades práticas da Ciência e os preceitos de uma religião pura” (despacho de 05 – 01 – 1818, Henry Hill, Consul estadunidense  no Rio de Janeiro)

    7) «Todos pagaremos pela irresponsabilidade de lideranças como Temer, Aécio e outros. (…) quem nos governará? Algum impoluto líder que se diz apolítico e que tem “valores” nacionais, que luta pela “família”, pelos “bons modos”, pelo “bom senso” e que tem capacidade de “gestão”?»

    — Atribuir liderança a Temer e Aécio eu acho exagero. Como os dois chegaram onde chegaram? Com quem chegaram? Por que chegaram? A classe dominante brasileira nunca teve algum compromisso com o seu país. Nunca faltou candidato dela para ocupar a posição de vendilhão da pátria, entreguista, corrupto. E’ uma constatação histórica. Foi preciso aparecer um operário nordestino pra interromper esse ciclo maldito. Ele pode governar o Brasil e já deu provas disso.

     

  17. Comodidade

    Ser fascista é mais cômodo: basta seguir o líder e a manada liderada por ele. Para que pensar, quando outros podem fazê-lo por você, não é?

    Grandes corporações preferem o regime fascista: o povo dá menos trabalho e vai para o matadouro direitinho sem reclamar.

    Por isso, o negócio é desmoralizar a liderança política do país e implantar uma ditadura fascista, que pode ser militar, como em 64, ou juridico-policial, como se pretende agora.

    1. Falso dilema

      Quem desmoraliza o governo é ele próprio. E nós já vivemos numa ditadura: a maioria esmagadora da população é contra as reformas mas, apesar disso, eles estão sendo impostas de cima prá baixo.

      Nós podemos ter um governo desmoralizado, com maiores prejuízos econômicos que advirão dessa falta de moralidade, podemos ter uma ditadura fascista mas também podemos ter uma democracia.

      Não vem, que não tem, Duce!

  18. “Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas

    2- Criar problemas, depois oferecer soluções”

    Este método também é denominado “problema-reação-solução”. Primeiro cria-se um problema, uma “situação” destinada a suscitar uma certa reação do público, a fim de que seja ele próprio a exigir as medidas que se deseja fazê-lo aceitar. Exemplo: deixar desenvolver-se a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público passe a reivindicar leis securitárias em detrimento da liberdade. Ou ainda: criar uma crise económica para fazer como um mal necessário o recuo dos direitos sociais e desmantelamento dos serviços públicos.”

     

    A elite pode deixar a violência urbana desenvolver-se livremente a fim de impor um governo fascista, o qual será reivindicado e aclamado por aqueles que serão em pouco tempo vítimas do tal governo.

  19. Mais um dos excelentes textos de sua lavra aqui no blog

     

    Fernando Horta,

    Mais um bom texto seu. Há muitas ideias bem próximas às minhas e talvez nasçam daí os elogios que eu sempre penso em fazer aos textos recentes seus que foram disponibilizados nesse blog.

    Eu vou reproduzir um comentário que eu enviei há uns seis meses, sexta-feira, 11/11/2016 às 13:26, para Fábio de Oliveira Ribeiro, junto ao post de autoria dele “Será preciso Galeanizar o mundo de Trump, por Fábio de Oliveira Ribeiro” de sexta-feira, 11/11/2016 às 06:50, aqui no blog de Luis Nassif e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/sera-preciso-galeanizar-o-mundo-de-trump-por-fabio-de-oliveira-ribeiro

    O meu comentário para Fábio de Oliveira Ribeiro, que também tem feito bons artigos ultimamente, traz logo no início uma desculpa para o possível resquício de soberbia que há nos elogios. É um alerta que eu gosto de fazer porque, pelo menos no meu caso, trata-se de elogio feito por quem sabe que sabe menos e não mais a quem elogia.

    O texto do Eduardo Galeano é de 1999 e aborda a questão do medo fruto da insegurança em que todos vivem. O medo seria a causa de muitos comportamentos que se vê hoje nas sociedades mesmos as mais evoluídas. Fábio de Oliveira Ribeiro, vendo no discurso de Donald Trump um discurso fascista, faz a ligação entre o medo e o crescimento do fascismo e do surgimento de figuras como Donald Trump. Ele chama atenção para o artigo de Eduardo Galeano para contrapor com a capacidade visionária de Michael Moore, um documentarista americano, que havia previsto a vitória de Donald Trump. Para Fábio de Oliveira Ribeiro, Michael Moore fora de certo modo antecipado por Eduardo Galeano.  E o comentário meu para o Fábio de Oliveira Ribeiro, lá no post “Será preciso Galeanizar o mundo de Trump, por Fábio de Oliveira Ribeiro”, é o que se segue:

    / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / /

    “Fábio de Oliveira Ribeiro

    Excelente este seu post. Não teria nada a acrescentar além do elogio. E espero que você não tenha pelo elogio aquela sensação que o elogio dá de que quem elogia parece dizer: eu elogio porque sei mais que você, ou seja, o elogio é uma espécie de argumento da autoridade. De todo modo vou completar esse meu comentário deixando aqui uns três links que eu penso serem muitos pertinentes a esse assunto. Não vi o texto de Michael Moore em português, embora certamente já deve haver o texto traduzido e o link para ele, mas deixo aqui o link para o texto em inglês feito há quatro meses e com o seguinte título “5 Reason Trump Why Trump Will Win”:

    http://michaelmoore.com/trumpwillwin/

    A previsão de Michael Moore é mais relacionada com estratégia eleitoral. Não diz tanto quanto o texto de Eduardo Galeano.

    Outro link é para o post “Umberto Eco: 14 lições para identificar o neofascismo e o fascismo eterno” de sábado, 29/10/2016 às 14:45. Publicado aqui no blog de Luis Nassif e consistindo da conferência proferida por Umberto Eco na Universidade Columbia, em abril de 1995, portanto, há mais de vinte anos. O endereço do post “Umberto Eco: 14 lições para identificar o neofascismo e o fascismo eterno” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/umberto-eco-14-licoes-para-identificar-o-neofascismo-e-o-fascismo-eterno

    O texto de Umberto Eco, cujo título seria “Ur Fascismo” ou “Fascismo Eterno” já havia sido reproduzido em outro post aqui no blog de Luis Nassif e eu aproveitei um comentário que havia enviado ao post anterior e o reproduzi junto ao post “Umberto Eco: 14 lições para identificar o neofascismo e o fascismo eterno”.

    Em meu comentário original transcrito já havia alguns links interessantes e eu acrescentei mais dois que dão acesso a artigos acadêmicos mostrando, mediante levantamentos de dados eleitorais, o crescimento da direita em tempo de crise econômica. Como tenho ficado espantado com o fato de os analistas da realidade brasileira não fazerem menção aos artigos, eu os venho indicado com certa frequência em meus comentários mais recentes, disponibilizando os links para os artigos. Aliás, não vejo menção a esses dois artigos mesmo no estrangeiro tanto comentando a vitória de Brexit como agora no caso da vitória de Donald Trump.

    O meu comentário para o post “Umberto Eco: 14 lições para identificar o neofascismo e o fascismo eterno” e que eu enviei domingo, 30/10/2016 às 18:32, é extenso à maneira do texto de Umberto Eco, embora reconheço que não tem a qualidade do texto dele, mas vale também ser lido tanto pelo comentário em si como principalmente pelos links que eu deixo, em especial para os dois artigos abordando o crescimento da direita no mundo em períodos de crise econômica. Para uma consulta posterior eu penso que vale bem deixar aqui o link para os dois artigos.

    Os dois artigos são “Economic growth and the rise of political extremism: theory and evidence” e “The political aftermath of financial crises: Going to extremes”. O primeiro artigo, “Economic growth and the rise of political extremism: theory and evidence”, escrito por Markus Brückner e Hans Peter Grüner, é um artigo de 2010 e cujo link transcrevo a seguir:

    https://www.uni-kassel.de/fb07/fileadmin/datas/fb07/5-Institute/IVWL/Forschungskolloquium/WS10/growth-extremism.pdf

    E o segundo artigo “The political aftermath of financial crises: Going to extremes”, de autoria de Manuel Funke, Moritz Schularick e Christoph Trebesch, e publicado em 21/11/2015, no site do VOX – CEPR’s Policy Portal, pode ser visto no seguinte endereço:

    http://voxeu.org/article/political-aftermath-financial-crises-going-extremes

    No meu comentário lá no post “Umberto Eco: 14 lições para identificar o neofascismo e o fascismo eterno” eu também deixo os links que levam a artigos onde vim a tomar conhecimento desses dois artigos.

    E o terceiro link a que eu queria fazer menção é para um artigo de Edward Luttwak que eu só vim a conhecer na quarta-feira, 09/11/2016, sapeando no blog de Brad de Long. Trata-se do artigo “Why Fascism is the Wave of the Future” que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.lrb.co.uk/v16/n07/edward-luttwak/why-fascism-is-the-wave-of-the-future

    O Edward Luttwak, um judeu romeno, é uma espécie de polímata e que por ter muito interesse na área militar, parece-me que não seja bem visto pela esquerda, mas o texto dele que é ainda anterior ao de Eduardo Galeano e o de Umberto Eco, pois é de abril de 1994, é bem consistente e expressa de modo analítico o que Eduardo Galeano expressou sinteticamente.

    Agora, avalio que se deva fazer uma análise diferenciada dos eleitores de Donald Trump e do próprio Donald Trump. Donald Trump é um ególatra, mas não me parece que ele seja fascista, ainda que ele tenha algumas das características do fascismo, mas são características mais culturais, como o machismo. Ele pode ser também racista, mas parece-me de um racismo peculiar dele. Para ele todas as outras raças que não sejam a pura raça do Donald Trump são raças inferiores. Ele também não é xenófobo. Em suma ele não é fascista. Ele apenas foi eleito pelos fascistas.

    E aqui faço um adendo divisionista [ou seria diversionista?]. A vitória dele deve servir também para a esquerda avaliar a vitória de Fernando Collor de Mello. Não foi a Globo que elegeu o Fernando Collor de Mello. É saber conquistar o eleitor que se precisa para ser eleito. Foi isso que Fernando Collor de Mello fez ao tempo dele e foi isso que Donald Trump fez agora. Talvez por não ser americano nem falar inglês eu não vejo Donald Trump com o carisma que tinha Fernando Collor de Mello. Antes de passar por mentiroso Fernando Collor de Mello tinha carisma e conseguia convencer as pessoas. Donald Trump soube usar os meios de comunicação de forma mais histriônica e na exata medida necessária para convencer e conquistar os eleitores.”

    / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / /

    Bem, o maior destaque que eu queria dar aqui era para os dois artigos que tratam do crescimento da direita nos períodos de crise econômica. Não entendo porque esses dois textos são tão omitidos nas análises dos nossos melhores sociólogos.

    Outro aspecto que me ocorre de dizer em relação ao seu texto é o relacionamento que eu vejo entre o título que você dá a esse fascismo: “o fascismo nosso de cada dia” com o título que eu dou a certo fascismo que eu vejo quase como um percentual em nossa sociedade e que eu chamo de “fascismo das pequenas coisas ou causas”. Digo que há em todas sociedades nesse atual estágio da civilização, que ainda é mais de barbárie do que de civilização, cerca de 30% de pessoas que podem ser consideradas como praticantes do “fascismo das pequenas coisas ou causas”.

    Gostei também da sua referência a internet como ponto de partida livre para a prática do que você chama de fascismo nosso de cada dia. Na internet praticamente não há limite para as pessoas se expressarem e não há o olhar de censura que se observa em uma comunicação direnta entre amigos ou mesmo desconhecidos.

    E pretendia também abordar o comentário de Ricardo Cavalcanti-Schiel enviado aqui neste post segunda-feira, 22/05/2017 às 11:42. No comentário ele acusa você de relacionar o fascismo como algo inato. Não vi esse entendimento no seu texto. Avalio que você expressou o fascismo como algo construído socialmente. Eu vejo como fruto de uma cultura que se encontra disseminada no mundo todo e da qual é praticamente impossível fugir.

    Depois respondendo a questionamento de Rui Ribeiro em comentário enviado segunda-feira, 22/05/2017 às 11:37, Ricardo Cavalcanti-Schiel em comentário de segunda-feira, 22/05/2017 às 15:08, alega que o fascismo seria uma formação discursiva. O que não diz muito. Só que ele acrescenta que o fascismo não tem “causa”. O termo causa entre aspas ficou mal redigido. Pode ser que ele queira dizer que o fascismo não tem um objetivo, uma causa. O que não me parece correto, a menos que se queira dizer uma causa única. Agora o pior é tender causa entre aspas como origem. É como se dissesse que o fascismo surge por geração espontânea.

    E menciono de modo ligeiro o comentário anterior de Rui Ribeiro enviado segunda-feira, 22/05/2017 às 10:05, aqui para este post. Ele faz uma correlação do fascismo com o capitalismo. Eu creio que ele tem razão. O fundamento do capitalismo é a possibilidade de acumulação de capital via apropriação do trabalho de terceiro. Em uma sociedade evoluída essa possibilidade provavelmente não será eticamente aceitável como hoje não é aceitável o trabalho escravo. Em uma sociedade assim, o capitalismo não poderia existir.

    E recentemente eu disse em comentário talvez aqui no blog de Luis Nassif que o capitalismo poderia acabar antes de a acumulação de capital via apropriação do trabalho de terceiro não fosse mais aceitável. Bastaria que o capitalismo não conseguisse mais aumentar a produção. É o fato de o capitalismo ser o sistema que mais aumenta a produção a única justificativa para a sua permanência.

    O aumento da produção está associado ao desenvolvimento humano. A humanidade hoje é mais desenvolvida do que a humanidade de 100 anos atrás e esse desenvolvimento é custeado pelo aumento de produção. Então enquanto o capitalismo for o sistema que possibilita o máximo de produção ele fica como o sistema mais adequado para a humanidade.

    É claro que mesmo no atual estágio da evolução da humanidade, o capitalismo traz consequências nefastas diversas. O texto de Eduardo Galeano que trata do medo mostra exatamente as várias inseguranças que o sistema econômico montado na mais valia e na competição traz. Eu tenho por mim que a maior consequência nefasta do capitalismo é a desigualdade.

    A desigualdade, depois da própria natureza do sistema capitalista, isto é, depois da possibilidade de acumulação do capital e da apropriação do trabalho de terceiro, constitui o que de pior é causado pelo capitalismo. E ela é em si um exemplo exato do processo contraditório que é o capitalismo. Sem acumulação de capital mediante a apropriação de parte do trabalho de terceiro não há capitalismo e, portanto, não há como produzir mais. Com a acumulação se caminha para a desigualdade. E se se chega a desigualdade absoluta também não há como o capitalismo se manter. Assim, o capitalismo, se não for corrigido durante o processo produtivo, seria até disfuncional dada a desigualdade que ele causa.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 23/05/2017

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