O garboso orgulho de ser estúpido, por Wilson Ramos Filho

Gente que foi prejudicada pela reforma trabalhista e que, como um pássaro que venera o estilingue, acha chique ser contra ter direitos.

O garboso orgulho de ser estúpido

por Wilson Ramos Filho, Xixo

Conheço, até considerava-as amigas, muitas pessoas que se orgulham de sua estupidez. Não se trata de uma corriqueira babaquice, de uma eventual asneira, mas de um garboso orgulho de ser estúpido, exibido com gosto e prazer, uma escrotice lentamente desfilada, narizes levemente empinados, esfregando nas nossas caras, orgulhosamente, o tamanho e a potência de suas estupidezes.

Não estou me referindo aos motoristas de caminhão ou aos precarizados trabalhadores por aplicativos que se consideram empreendedores, nem aos semianalfabetos engrupidos por um desses pastores argentários e sem escrúpulos, nem aos frequentadores de outros ritos esotéricos que encantam desmiolados que se dizem espiritualizados.

Estou falando de gente que tem plena consciência do que está fazendo. São profissionais liberais, comerciantes, funcionários públicos sobre-remunerados, são médios empresários que têm televisão a cabo, que falam mais de um idioma, que já estiveram na Europa, que colocam os filhos nos melhores colégios, que circulam em automóveis pelos quais pagaram mais de duas centenas de salários mínimos. Estou falando de pessoas que estudaram, têm curso superior, muitos com mestrado ou doutorado, de pessoas que sabem que esse governo está decidido a acabar com a Amazônia, que está destruindo propositalmente o meio-ambiente, que sabem que foi proposital o atraso na compra se vacinas, que percebem que a compra de 51 imóveis com dinheiro em espécie só pode ter relação com grossa corrupção.

Estou falando de pessoas que dolosamente escolheram reeleger um governo de escroques, de milicianos, de milicos, de fundamentalistas religiosos picaretas, que promete aumentar o número de ministros no STF para livrar seus comparsas e alterar a constituição para permitir repetidas reeleições, que sabem que sua escolha eleitoral ameaça a democracia e se orgulham disso.

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Estou me referindo a gente que não têm vergonha do descrédito Internacional do país e do deboche dos brasileiros no exterior, da liquidação do nosso futuro com a destruição do patrimônio nacional por intermédio de escandalosas negociatas nas privatizações, mas que se considera, contraditoriamente, patriota, que pendura a bandeira em suas varandas-gourmets e em suas janelas de edifícios de classe média.

Gente que foi prejudicada pela reforma trabalhista e que, como um pássaro que venera o estilingue, acha chique ser contra ter direitos. Gente que terá que trabalhar mais sete ou oito anos como consequência da reforma previdenciária do atual governo, aposentados que ouviram o Guedes falar em congelar as pensões e aposentadorias e que aplaudem seu carrasco, funcionários públicos que estão sem reajuste nos seus vencimentos desde o golpe de 2016, que sabem que ficarão mais 4 anos sem reajuste, e que se orgulham de sua estúpida opção ideológica.

Estou falando de gente que arrota conservadorismos, flatula elevados preceitos morais, mas que não vê problemas na confessada pedofilia presidencial, do pintou um clima com crianças pobres e vulneráveis, e que, apesar de tudo, de todas as evidências prefere votar na continuidade deste governo de tantas mentiras.

Essa gente se orgulha de ser como é. Sabem que os maiores intelectuais e os mais respeitados artistas brasileiros estão do outro lado, mas se orgulham de se alistar no time do Ratinho, do Malafaia, das decadentes duplas de velhos sertanejos, do Roberto Jefferson e do Dr. Jairinho.

Em uma metafórica opção por dois vagões ferroviários, um limpo, organizado, com assentos para todos, e outro, emporcalhado, com fezes e lixo espalhados por todas as paredes, com restos putrefatos pelo chão, lotado da pior escória social, orgulhosamente escolhem este último vagão. Essa gente se orgulha de ser como é. Orgulham-se de serem estúpidos.

Xixo, 23 de outubro de 2022

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Redação

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  1. Ao descer para almoçar no Centro de Osasco, passei por uma cadeirante obesa pedindo ajuda “para comprar uma cadeira de rodas nova”. Alguém que também estava passando no local disse a ela para acionar a Prefeitura. Irritada a pedinte disse que preferia procurar a Igreja evangélica. “A Prefeitura tem obrigação de resolver seu problema.”, insistiu a transeunte. “Já disse que prefiro ir na igreja evangélica.”, rebateu a cadeirante bufando. Se a igreja tivesse resolvido o problema dela ela obviamente não estaria pedindo dinheiro na rua. A ignorância não é um defeito individual. Ela é um lucrativo projeto econômico-político de um punhado de pastores vagabundos que vivem com a Béééébria embaixo do sovaco.

  2. Né? A recompensa é que mais cedo ou mais tarde 😃 as pessoas experimentam as consequências das próprias escolhas, e então um novo ciclo de lutas sociais recomeça.

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