Os seres esgotíferos voltaram realmente para o esgoto?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

As entranhas do bolsonarismo precisam ser vasculhadas e expostas para que a família Bolsonaro responda pelos crimes que cometeu

Os seres esgotíferos voltaram realmente para o esgoto?

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Não é possível começar o ano sem falar da posse de Lula. Todas as ameaças feitas a democracia se dissiparam no domingo. Apesar do temor, nenhum incidente grave aconteceu. Isso confirma uma hipótese que levantei aqui no Jornal GGN. Como tudo que surgiu nos últimos anos, o militarismo bolsonarista era Fake https://jornalggn.com.br/destaque-secundario/fake-militarism-a-maior-e-mais-duradoura-obra-do-capitao-amalucado-por-fabio-de-oliveira-ribeiro/ .

Lula recebeu a faixa de representantes do povo e não dos líderes do Centrão que comandam o Parlamento. Isso foi simbolicamente importante. Mas talvez fosse mais adequado a presidenta do STF cumprir esse ritual democrático, pois a Suprema Corte brasileira deu um grande impulso à onda de desdemocratização no momento em que começou a apoiar os abusos da Lava Jato. Em março/2016 o STF impediu Dilma Rousseff de nomear Lula para a Casa Civil. 

A história do Brasil teria seguido um curso muito diferente se o STF tivesse deixado Dilma governar. Em razão de seu prestígio, Lula estava em condições de restabelecer a governabilidade de maneira a evitar o sucesso do Impeachment fraudulento. Ao suspender a nomeação dele, o ministro Gilmar Mendes afirmou ter visto a intenção de Lula em fraudar as investigações contra ele. Ocorre que o caso do Triplex era uma imensa fraude processual que estava sendo politicamente urdida por um juiz incompetente e parcial como ficou demonstrado algum tempo depois.

Quando o mandado de prisão foi expedido contra Lula ele poderia ter fugido ou resistido à prisão. Ele preferiu se entregar e ficou encarcerado um período mais longo do que o necessário, pois o STF retardou o julgamento da ação em que era questionada a legalidade da prisão antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Nunca é demais lembrar que a Supre Corte brasileira acintosamente descumpriu a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU que garantiu à Lula o direito de disputar a eleição de 2018. 

Ao se entregar e lutar contra os abusos judiciais que estava sofrendo, Lula preservou seu lugar de fala. A credibilidade política dele foi reforçada no momento em que a fraude do caso do Triplex desmoronou. A maneira lenta e metódica que o The Intercept utilizou para cobrir o escândalo da Vaza Jato foi essencial para destruir a armadura brilhante midiática criada para tentar levar Sérgio Moro à presidência. Mesmo correndo o risco de ser ridicularizado, acredito que sem o efeito “The Intercept/Vaza Jato” o juiz da Lava Jato teria mais condições de derrotar Lula do que Jair Bolsonaro. Afinal, a candidatura do adversário de Lula foi arrastada para o fundo do esgoto por causa do genocídio pandêmico e das denúncias de corrupção.

O ex-presidente  fugiu do Brasil com medo de ser preso. Ele perdeu o lugar de fala. Isso ficou evidente quando do discurso do general Mourão. Ao discursar, o ex-vice presidente se posicionou como novo líder político da extrema direita brasileira. No Senado, Mourão disputará espaço com o próprio Sérgio Moro com vistas a disputar a próxima eleição. Suponho que ambos disputarão os escombros do bolsonarismo. Mas dificilmente esse movimento sobreviverá tal como existia. Ele surgiu e cresceu no vácuo político criado pela Lava Jato, fenômeno judicial-midiático que já chegou ao fim.

Sérgio Moro provavelmente tentará continuar surfando no lavajatismo, mas a verdade é que essa aberração jurídica começou a perder força quando o STF desconstituiu a sentença proferida no caso do Triplex. Todavia, os juristas que defendem a democracia não podem cochilar. A Fake Law e a Fake Justice são extremamente maliciosas e sedutoras. Ambas serão inevitavelmente utilizadas pela extrema direita contra o novo governo do PT.

É difícil dizer o que vai acontecer nos próximos meses. Mas algumas coisas me parecem evidentes. A frustração dos bolsonaristas com a fuga de Jair Bolsonaro (algo bastante óbvio quando visitamos os esgotos das redes sociais) se transformará em ódio. Devidamente explorado, esse sentimento pode levar ex-colaboradores do mito a cooperarem com as investigações policiais em curso e que começarão em breve.

As entranhas do bolsonarismo precisam ser vasculhadas e expostas para que a família Bolsonaro responda pelos crimes que cometeu e para que os membros dela nunca mais ocupem postos importantes na esfera pública e política. Lula foi punido injustamente e lutou para restabelecer sua liberdade sem apelar para a violência. Seria muito injusto deixar os Bolsonaro impunes. Apesar da derrota eleitoral, seu Jair e os filhotes dele ameaçaram mergulhar o Brasil numa guerra civil para se perpetuar no poder. Investigar os crimes do governo anterior não é um ato de vingança . Justiça seja feita: aos Bolsonaro o devido processo legal, com direito de defesa, produção de provas e duplo grau de jurisdição.

É necessário ter esperança. Mas é indispensável não ter ilusões. O Brasil que pariu e se serviu dos Bolsonaro continuará existindo no esgoto. Liderado por Hamilton Mourão, por Sérgio Moro e outras da mesma índole, seres humanos asquerosos que vestem ternos Prada e usam perfume Imperial Majesty de Clive Christian seguirão conspirando para garantir e expandir seus privilégios, preservar e aprofundar a desigualdade econômica e, sobretudo, para legitimar o racismo, o sexismo e a violência política.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Fábio de Oliveira Ribeiro

2 Comentários

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  1. Não foi preciso nem mesmo uma semana para para os seres esgotíferos confirmarem minha suspeita. Eles não querem voltar para o esgoto e sim transformar o Brasil inteiro num esgoto.

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