Um dia histórico para o feminismo na América do Sul, por Mariana Nassif

Um dia histórico para o feminismo na América do Sul

por Mariana Nassif

A história do aborto traz tanta, mas tanta polêmica que parece daquelas coisas que a gente só pode falar escondido. Sabemos que a ilegalidade não é o verdadeiro motivo dessas conversas só acontecerem no submundo das rodas femininas (e no amplo espectro das rodas feministas), e me pergunto, então, se seria o fato literal do interromper da vida o que nos causa tamanho desconforto.

Enquanto não encontro a resposta, vale citar que, no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Aborto, de 2010, mais de uma em cada cinco mulheres entre 18 e 39 anos de idade já recorreu a um aborto na vida. Os dados, levantados pela antropóloga Debora Diniz e pelo sociólogo Marcelo Medeiros, devem estar subestimados hoje em dia, seja pela data, seja pelo silêncio que sim, acompanha o assunto. Segundo a OMS, uma mulher morre a cada dois dias no país por conta de abortos ilegais. E quem morre, evidentemente, são as mulheres pobres, as que não tem condição de pagar pelas clínicas particulares que garantem o mínimo frente à escolha.

Sim, escolha.

A mulher não engravida somente porque quer, já parou pra pensar nisso? Extressando bem o tema, o aborto é também ilegal para as grávidas de estupro. Melhora o cenário pra começar a pensar no contexto? Podemos, ainda, passear pela ideia de que um filho não é feito individualmente, mas é assustador saber que o Brasil tem mais de 20 milhões de mães solteiras, e te garanto que não é necessariamente porque elas não quiseram se casar. Machismo é isso: o homem tem prioridade de escolha e à mulher fica reservado o que sobrou, e sinto muito se isso te toca mais profundamente por eu estar falando sobre um bebê do que o fato de que a cada dois dias uma mulher morre abortando.

Religiosamente, então, ouso expor meu ponto de vista, controverso sob o olhar do espiritismo, de que, se uma alma escolhe seus pares por aqui, especialmente seus pais, então de alguma forma ela já tem previsto que possa não vingar. E, de toda forma, o estado é (ou deveria ser) laico.

A maravilha é que desta semana pra frente, na Argentina, estes dados estão caminhando para a mudança. O projeto de lei que permite o aborto até a 14a  semana de gestação passou por aprovação na Câmara e segue para o Senado. Ainda que tenham sido 129 votos a favor e 125 contra, números que me fazem ficar de queixo caído quando se trata de um assunto obviamente exclusivo a quem vive a situação, é uma vitória e tanto no mundo do golpe – por que falar em país do golpe se podemos ampliar a visão, não é mesmo? (contém ironia).

No Brasil, infelizmente e até onde alcançou minha breve pesquisa, a temática dorme. Uma proposta de 2017dava conta de um projeto de lei que, atravancado por um outro posicionamento, este acerca da licença maternidade, que contém cláusula afirmando o direito à vida “desde a concepção”, não passou nem no Plenário. Triste e ainda perigoso, ainda mais para as mulheres pobres e negras. Nos posicionemos, pois, em prolde todas e de cada uma de nós. Nenhuma a menos, lembra? 

Torço, e torço muito, para que nós, TODAS AS MULHERES, ocupemos cada vez mais o espaço que quisermos de forma segura, e não somente o de incubadoras de filhos, rainhas do lar e que tenhamos cada vez mais leis que nos amparem para que, pelo menos aos olhos dos justos, continuemos vivas – e sim, o feminismo é desse tamanho mesmo.

 
Mariana A. Nassif

2 Comentários

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  1. “A Cultura Machista”.

    Mariana. A “cultura machista” é a pior doença social, a mais terrível, a mais opressora e a mais depravada de todas as doenças sociais.  Ela surgiu há priscas eras quando uma minoria do “gênero homem” se tounou proprietário dos Meios de Produção Capitalista”.. Todos eles: a terras e todos os equipamentos e medidas indispensáveis para a manutenção e preservações destes meios de sobevivência humanas. Mesmo com este poderio econômico e bem mais tarde os financeiros por ele criado, ficaram  faltando algumas outras medidas tão doentias e perversas , e, talvez mais perversas que as anteriores: como subjugar o “genero Mulher?”. Para tal anomalia teve a ideia de criar as “religiões” que foi talvez a sua maior “sacada” machista; em seguida colocar a “moral” dela entre as suas pernas. Daí em diante não parou mais criando a fuigura da “infidelidade” e também a da “traição”. O que êle, “gênero” homem, não sabe até hoje é que a nossa “Mãe Natureza” não dá saltos. Ela criou a Mulher para gerar “a vida” de todos os seres humanos, até mesmo contra a sua vontade. Ela foi e é predestinada  a preservar a “eternidade!” de tudo no nosso Universo infinito. Aproveito para citar uma frase de uma filósofa que acertadamente diz: “…quando se salva o ventre de uma Mulher, salva-se uma “Geração”. Já o homem ele foi predestinado a ser um mero “coadjuvante” de todas as Mulheres. Mas por “ter” um comportamento doentio ele não dá conta de sua tragédia humana. Freud, o criador da psicanálise, explica de maneira didática e irrefutável todos estes fenômenos desviantes, incluindo também os sexuais de tipos diversos físicos, mentais e psíquicos e com características próprias em cada um: o homossexualismo e a pederastias, todos enrustidos.

    . É como uma ferida reprimida e escondida no interior de cada “machista”, a qual nunca cicatrizará enquanto eles não perceberem que todas estas doenças sociais citadas vêm do fato deles não não valorizarem a importância do gênero Mulher sobre todos os outros seres, incluindo o próprio “gênero” homem. Muito embora não percebam êste fenômenos, que são óbvios e ululantes, têm como castigo carregarem todos estes desvios comportamentais citados acima, todos êles, inumeráveis e enrustidos, até o fim de suas vidas. Nelson Rodrigues, nosso grande dramaturgo sempre diz:”…se todos os homens conhecessem a intimidade de cada qual, ninguém se falaria””. E acrescenta: “.. se os fatos provam tudo isso, pior para os fatos!”.

     

     

  2. Há mais coisas entre o céu e a terra, pairando sobre o assunto.

    As leis do Antigo Testamento eram tolerantes para o homem e severas para a mulher. De fato, a mulher era considerada uma espécie de propriedade que o homem adquiria, e assim ela passava a fazer parte dos seus bens. Agressiva desigualdade entre homem e mulher. Jesus, porém, coloca-os no mesmo plano. O adultério viola a vontade de Deus e as relações familiares e sociais. A união do homem e da mulher no matrimônio é expressão de amor, vem de Deus, não deve ser paixão egoísta. É o encontro de liberdades que se unem. Por isso, Jesus usa expressões fortes para indicar compromisso sério, evitando-se desvios egoístas. Às vezes são necessários “cortes” dolorosos para salvar e revigorar o amor mútuo. Trata-se aqui naturalmente de linguagem simbólica, uma vez que o adultério começa no coração. (Mt 5,27-32)               https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diaria#.WyPzBVVKjIU

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