‘Hub de tecnologia’ e carnificina, Israel comete crime de guerra até por QR code, por Hugo Souza

Morte, mutilação, roubo e expulsão: eis a sina quádrupla que o sionismo e a “comunidade internacional” impõem ao povo palestino desde a Nakba

Homem em Gaza exibe panfleto lançado por Israel (Foto: Sky News).

do Come Ananás

‘Hub de tecnologia’ e carnificina, Israel comete crime de guerra até por QR code

Por Hugo Souza

Entre a última sexta-feira, 1º, quando começou a chover bombas de novo na Faixa de Gaza, após alguns dias de cessar-fogo, e este sábado, 2, pelo menos 200 palestinos foram mortos por Israel e mais de 600 ficaram feridos. Autoridades palestinas informaram à Al Jazeera mais de 700 mortos. No ataque mais mortífero, Israel explodiu um quarteirão inteiro no bairro de Ash Sheja’iyeh, na Cidade de Gaza. Centenas de pessoas, de mortos, ainda estão sob os escombros.

Muitos dos que morreram, ou quase, foram alvos de ataques de Israel no sul de Gaza, para onde nas últimas semanas o sionismo deslocou forçadamente – crime de guerra – centenas de milhares de pessoas, ao brandir diante delas o espantalho da carnificina.

Médico ítalo-francês do Hospital Europeu de Kahn Yunes, Paul Ley disse ao jornal britânico The Guardian que os primeiros trucidados começaram a dar entrada na emergência poucas horas após o fim do cessar-fogo, e que, em outras poucas horas, sua mesa de cirurgia foi cenário de 12 amputações.

“Há mais para fazer – contou Ley -. São todos ferimentos de estilhaços. Havia um menino de dois anos e meio que perdeu as duas pernas e seu irmão também ficou gravemente ferido. O resto da família dele morreu. Conseguimos salvar um adulto que tinha estilhaços no coração”.

Na Faixa de Gaza, coração estilhaçado não é emoji ou força de expressão.

Potência cibernética, “hub de tecnologia”, paraíso de nômades digitais, desde o fim do cessar-fogo Israel incrementa a expulsão em massa de palestinos de suas casas com um singelo QR code. Escaneado, o código barrametrico impresso em panfletos que também chovem desde sexta-feira na Faixa de Gaza direciona a um mapa digital no qual Gaza aparece dividida em 6oo blocos numerados, com indicações de quais deles serão bombardeados.

Morte, mutilação, roubo e expulsão: eis a sina quádrupla que o sionismo e a “comunidade internacional” impõem ao povo palestino desde a Nakba – catástrofe – de 1948, quando mais de 700 mil palestinos foram expulsos de suas casas para a criação do Estado de Israel, com a maioria deles indo parar na Faixa de Gaza e, em Gaza, no campo de refugiados de Jabalia.

Em Jabalia, hoje, 116 mil refugiados palestinos comprimem-se em 1,4 quilômetro quadrado. A maioria deles são filhos, netos ou bisnetos dos refugiados originais, os da Nakba. Desde o 7 de outubro, quando sofreu o cruento ataque do Hamas, Israel já fez pelo menos 10 bombardeios contra este torrão tão diminuto quanto simbólico da catástrofe palestina, produzindo centenas de mortos.

O primeiro foi logo no dia 9 de outubro, quando um míssil israelense mandou pelos ares o mercado de Jabalia, o maior da Faixa de Gaza, matando pelo menos 50 pessoas. Três dos outros nove ataques atingiram escolas da ONU. O mais recente bombardeio sionista contra Jabalia aconteceu na última sexta, com a retomada do massacre em Gaza, e deixou mais de 100 mortos. As cenas do banho de sangue são especialmente chocantes.

Jabalia é um dos pontos de Gaza onde desde o fim do cessar-fogo chegam bombas e folhetos do céu. Os folhetos com o QR code, ali, onde mal restou energia ou acesso à internet.

A mensagem do ciber-sionismo ordena aos refugiados que se refugiem novamente, eternamente. Alguns serão mortos na estrada ou nos farsescos “locais de segurança” ao sul. Outros, antes de seguir sua sina, terão passado pela mesa de cirurgia do doutor Ley. Suas pernas amputadas, como as do menino que perdeu as duas, terão que ser “confirmadas de maneira independente” pela mídia ocidental.

Hugo Souza é jornalista

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Hugo Souza

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