Artigo: Paradoxo ou paradigma da nossa matriz energética

Do Grupo de Estudos Tapajós
 
Por Sibá Machado*
 
Nos leilões de energia elétrica realizados em 2013, o governo vem abrindo espaço para usinas a gás natural e empreendimentos à base de biomassa, incluindo biogás e resíduos sólidos urbanos (lixo), ainda que usinas dessas fontes não tenham conseguido fechar contratos. É louvável o esforço de se incluir o lixo como fonte de energia, um grande problema das metrópoles, cujos gestores estão cada vez mais preocupados com o destino adequado de rejeitos, principalmente se considerarmos a inclusão de milhões de brasileiros ao mercado consumidor e o fato de que, no Brasil, 99% dos dejetos seguem para aterros sanitários, sem gerar energia ou passar por qualquer reciclagem.
 
Some-se a isso o fato de que, em boa parte do mundo, o lixo se transformou em solução energética — existem hoje 1.483 usinas termelétricas com lixo como combustível — e que o máximo de avanço que conseguimos nesse sentido foi um protótipo com tecnologia 100% nacional operando no câmpus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
 
Também é louvável permitir a chegada de usinas a gás natural, pois temos grandes reservas, a serem ampliadas com o pré-sal. Transformar lixo em energia elétrica é uma forma de compensar os impactos do consumo, ao mesmo tempo em que vale ao país a marca da sustentabilidade. Usar o gás natural ajuda a diversificar a matriz com térmicas, sem o peso da poluição associada a outras fontes.
 
Ao mesmo tempo, para o leilão A-5, que aconteceu em 29 de agosto passado, o governo abriu espaço para a volta do carvão à matriz energética — não houve negociação da energia, mas elas participaram do certame. Recentemente, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que o retorno do carvão é um “paradoxo ambiental”, uma vez que ocorrem restrições à construção de hidrelétricas na Amazônia.
 
De fato, as hidrelétricas são consideradas inimigas a serem combatidas de qualquer maneira por opositores que muitas vezes defendem interesses próprios, suprimindo o interesse coletivo por uma energia limpa e mais barata. Em pleno século 21, cuja dependência à energia elétrica é cada vez maior — vide a aposta em carros elétricos, abastecidos por meio de uma singela tomada — presenciamos uma fonte renovável e abundante ser descartada pela cultura da rejeição impregnada nos mais diversos setores da sociedade.
 
No próximo A-5, em dezembro, teremos algumas hidrelétricas negociadas. Nesse contexto, torna-se conveniente não perdermos de vista que essa forma de produzir energia é renovável, abundante, limpa e que desperta a atenção de outros países. Demandam investimentos vultosos necessários para movimentar a economia e podem impulsionar o desenvolvimento regional.
 
A última fronteira hidrelétrica no Brasil é a Amazônia, e lá se impõe o desafio de conjugar o desenvolvimento regional com a preservação dos biomas nativos. As atuais usinas em estudo para a região, projetadas sob o signo de usinas-plataforma, impulsionarão negócios dos mais diversos, movimentando a economia e garantindo avanços sociais variados na Região Norte do país, atualmente com o maior PIB em expansão.
 
As primeiras usinas a serem licitadas no modelo de usinas-plataforma serão as de São Luiz do Tapajós e Jatobá, no Pará, ainda em fase de estudo ambiental e cujos investimentos estimados ultrapassarão R$ 25 bilhões, considerando não apenas as demandas por novos equipamentos e serviços associados ao empreendimento, mas por conta do que chegará às cidades próximas.
 
Redes de esgoto, infraestrutura viária, novos hospitais e postos de saúde, expansão da telefonia, construção de moradias, escolas, creches são demandas quase obrigatórias pelos municípios que sediam hidrelétricas, com a vantagem ainda de acesso a produtos e serviços até então impensáveis para a população local. No caso Amazônico, além das benfeitorias, elas também serão fator de preservação ambiental, ao serem construídas com tecnologia moderna e o mínimo de intervenção no meio ambiente, sem grandes canteiros de obra, evitando assim a ocupação desordenada e contribuindo para a defesa da floresta com estímulo à pesquisa científica.
 
Essas novas propostas de usinas remetem a uma potência instalada de aproximadamente 8,5 mil megawatts (MW), o equivalente a uma Tucuruí. Mas se observarmos que temos 230 mil MW de potencial hidrelétrico, o risco de transformar o que é paradigma em paradoxo é muito grande — uma equação difícil até mesmo para a EPE resolver.
 
*Sibá Machado (PT-AC) é deputado federal, vice-líder da bancada do PT
 
Redação

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