As carapuças do general Villas Bôas, por Janio de Freitas

Jornal GGN – Em sua coluna na Folha de S. Paulo, o jornalista Janio de Freitas analisa a fala do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, de que a crise que o país passa atualmente poderia se transformar em “uma crise social com efeitos negativos sobre a estabilidade”. Para Janio, as declarações não foram ocasionais e interrompem a linha de distancionamento “rigorosamente militar e constitucional” que vinha desde o governo Lula.

O colunista acredita que a preocupação do general é sensata e necessária, mas é preciso analisar o que Villas Bôas quis dizer quando afirmou que a crise ” “passa a nos dizer respeito diretamente” e para quem foi endereçado a advertência do comandante do Exército.

Da Folha

Carapuças ao ar

Janio de Freitas

A repentina intervenção verbal do comandante do Exército na “crise difícil, crítica”, tanto tem um sentido positivo como é negativa. Qual desses aspectos prevalece, ou prevalecerá, não há como pressentir. Certo é que não foram considerações ocasionais. E, portanto, interrompem a linha de distanciamento rigorosamente militar e constitucional que vinha desde o governo Lula –duração sem precedente desde a segunda metade do Império.

O general Eduardo Villas Bôas expôs a convicção de que “a crise não é de natureza institucional, as instituições estão funcionando perfeitamente”. Embora o que se passa na Câmara dê margem a certas ressalvas a tal perfeição, o que importa é o que se segue ao argumento: se “a crise é de natureza política, econômica, ética muito séria” e “prosseguir, poderá se transformar numa crise social muito séria, com efeitos negativos sobre a estabilidade. E aí, nesse contexto, nós nos preocupamos, porque passa a nos dizer respeito diretamente”.

Um recado. Uma advertência. Mas –a quem? Em princípio, uma preocupação sensata e necessária. O general Villas Bôas não é seu único portador. Nesta coluna já foi observado que, no caso do impeachment agora discutido, a obscuridade que se seguiria inclui a propensão para uma perda geral de controle, com potencial para consequências insondáveis, dramáticas senão trágicas. Pode ser uma intuição diferente das predominantes na imprensa, mas não é rara.

É uma das principais preocupações, por exemplo, que levaram a duas ponderadas entrevistas de altos dirigentes de banco, entre outros proponentes, para a disputa política, de métodos mais civilizados e respeitosos da Constituição. O risco de explosão da crise estava nas entrelinhas: a conveniência da sutileza, em lugar da explicitude talvez mal interpretada (os leitores lúcidos diminuem a cada dia), exigiu uma contenção verbal que o comandante do Exército não precisou ou não quis ter.

Mas o que significa “passa a nos dizer respeito diretamente”? Não parece uma frase de muitas hipóteses. Tão mais deslocada quanto, primeiro, é portadora de lembranças ou sugestões inoportunas. Depois, porque a frase, nas próprias considerações do general Villas Bôas, é inconciliável com suas afirmações de que “a sociedade tem que aprender com seus próprios erros” e “não precisa de atalhos para solucionar a crise”. Ou, no seu momento de reconhecimento ao vigor das instituições, a dedução de que “é por meio delas [as instituições] que a sociedade vai conduzir essa superação da crise”.

É naquela frase eremita, porém, que se identifica o possível eixo das considerações do general Villas Bôas e das circunstâncias em que as apresentou. Curiosas e indicativas. Ao que foi informado, não há precedente de reunião do comandante do Exército com pessoal da reserva. Nem haveria sentido em existir. São paisanos, que apenas serviram por determinado tempo. Guardam, no entanto, um resquício de vinculação militar aproveitável como pretexto para difundir considerações que, se feitas em reunião de militares de fato, teriam outra dimensão institucional. E seriam impróprias para divulgação.

Outra curiosidade, parece que também sem precedente: a palestra foi posta na internet. Com o que pode ser o recado. Ou advertência. Para quem? À falta de resposta, digamos que há carapuças jogadas para o alto.

Redação

33 Comentários

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  1. Nassif, estou aguardando sua

    Nassif, estou aguardando sua manifestação e dos comentaristas deste blog. Estou completamente no ar em relação aos sujeitos para os quais o general endereçou as carapuças. Puxa vida, quando penso que o mar está se acalmando, surgem novas ondas que parecem querer nos tragar irremediavelmente (leia-se tragar nosso país).

  2. Ahhh… as carapuças

    Isso ainda vai dar muito o que falar…

     Ainda outro dia, eu pensava que se aquela labareda natural no helicoptero da Dilma tivesse inadvertidamente explodido e matado a dita cuja, o país cairia em caos completo, pois nao haveria NO MUNDO INTEIRO – nem que viessesem de Cuba ou da Coreia do Norte – técnicos que convencessem os apoiadores da presidencia atual de que nao foi um atentado.Entrariamos em caos e conflagração social e AÍ SIM justificaria a famosa intervenção militar constitucional.. Pois está previsto na Carta a missão de manter a ordem pelas forças armadas. E sabe-se lá o que adviria disto. Mas as tais “carapuças” lançadas, que cita o jornalista… Eu diria que servem bem nos agitadores golpistas de plantão que estão – a todo custo – tentando quebrar a institucionalidade para derrubar um governo eleito – ainda que este esteja hoje impopular..  Eu entendo o recado do general como: nós nao temos nada com a crise.. Crise faz parte dos governos. A sociedade deve aprender a conviver com elas.. E sobreviver a elas… MAS.. se fizerem caos.. aí vai nos interessar…. Entao.. que se cuide quem está tentando causar o caos… Mas, preocupemo-nos todos nós.

  3. “…nos diz respeito”

    Essa história de ‘falar fora dos autos’ tá virando epidêmia. Mas vá lá, caso o  “nos diz respeito” significou :  se houver convocação por parte da Presidência do Brasil para auxíliar/controlar eventual desordem social … tudo bem, FFAA instiruição estará pronta para corresponder as nossas obrigações constitucionais. Fora disso é conversa de dinossauro.

  4. Não morro de amores pelos

    Não morro de amores pelos milicos, mas desse vez acredito que o recado tenha endereço com CEP.

    Ao Aécio, e seus adeptos paneleiros e coxinhas, que pedem ” Intervenção Militar Democratica”

  5. Não tenho dúvidas: o “mal do

    Não tenho dúvidas: o “mal do Moro”, isto é, o deslumbramento, chegou à caserna e vai começar a dar show…

  6. As declarações do general

    As declarações do general ouriçaram ainda mais as já ouriçadas “vivandeiras de quartel”. Na imprensa e nas redes sociais a turma do “quanto pior, melhor” dá o tom. 

    Despidos de qualquer outro sentimento, se não o de apreender o sentido das palavras do militar, poderíamos, de princípio, dá-las como meros truísmos. Vejamos:

    A crise não é de natureza institucional: as instituições estão funcionando perfeitamente.

    Correto. Apenas um detalhe: esse “perfeitamente” no sentido de estarem exercendo suas incumbências legais. Se de forma perfeita ou imperfeita, aí é outra estória.

    A crise é de natureza política, econômica, ética, (e é) muito séria.

    Nada de novo. Claro que incluir a ética como uma das naturezas da crise é um exagero e me parece que o general nesse aspecto foi infeliz porque, querendo ou não querendo, ele dá margens para que seu pronunciamento seja manipulado política e ideologicamente. Só os muitos honestos ecoarão como sendo “universal” essa ética aludida pelo Comandante do Exército; ou seja, não só adstrito ao atual esquema de Poder e nem mesmo à própria atividade  política. 

    A prosseguir, poderá se transformar numa crise social muita séria, com efeitos negativos sobre a estabilidade. E, nesse contexto, nos preocupamos porque passa a nos dizer respeito diretamente.

    Tudo muito óbvio. Vejamos, por exemplo, um dos desdobramentos da crise política, o eventual impeachment da presidente Dilma com base apenas no até hoje discutido(pedaladas, recursos de campanha etc). 

    Qual ambiência surgiria após esse ato extremo, dado por muitos como um “golpe branco”, “golpe paraguaio”, ou que nome se dê,  a um fato político percebido de forma  nada consensual pela sociedade? O mais provável seria um cenário de convulsão social com suas derivações altamente danosas, a começar pela violência campal e as injunções numa economia já prenhe de problemas.

    E, realmente, uma conjuntura de instabilidade máxima, na qual haja comprometimento não só da segurança pública, mas do próprio funcionamento do aparato do Estado, cabem às Forças Armadas o papel de garantidora da ordem da funcionalidade das instituições civis e dos direitos fundamentais dos cidadãos e cidadãs. 

    A meu ver não houve “recado” algum e sim uma leitura de contexto feita por um Comandante de uma das Forças responsáveis em última grau e instância pela própria funcionalidade do Estado e preservação da soberania da Nação. 
     

     

     

     

     

  7. Gostaria que a carapuça

    Gostaria que a carapuça servisse no Juiz Moro pela prisão do Almirante Othon. Energia nuclear brasileira. Segurança Nacional.

  8. UM GOLPE PLANEJADO É QUASE 100% DE ÊXITO, ESSE TÁ LONGE DO FIM.

    Quando se planeja um GOLPE como estamos assistindo diariamente, ele envolve todos os caminhos das instituições. Porque só agora? Porque conseguiram quase metade dos votos, então pensaram, é agora ou nunca, Todas as instituições públicas e privadas por conluios foram colocadas à disposição do GOLPE. Porém esqueceram de combinar com que eles queriam derrubar, não esperavam que a DILMA resistisse tanto. Vão se esgotando as ilegalidades mutáveis e o nome dos bois não foi possível mais esconder. Nesse GOLPE tem político, mídia, Justiça, entidades secretas e etc e etc. O porém maior é que até então não tinha ainda movido o veículo MILITAR que agora apareceu, está sendo como em 64 fragiliza o sistema político e o que acontece depois todos já sabem. Façam uma busca no GOOGLE sobre encontro de reservistas de janeiro para cá. Todos nós temos que ter a percepção que o GOLPE foi dado, só ainda não foi consumado. O mais cruel disso tudo e assistir a justiça proteger nomes tão excretáveis como qualquer bandido, promoveram esses elementos para o GOLPE com categoria de inimputáveis, acima do bem e do mal como CHICOS E FRANCISCOS É o mesmo DNA de 1964. Se o general pestanejou, já há algo imaginado, pensado quiçá já em execução. No meu entender não há dúvida no que li, não se esgotaram as formulas para promoverem o GOLPE. Ante a perspectiva de falhar o PARAGUAIO, ele já está em execução por meio de violência “intimidatória” da força. Só nos resta esperar para saber quantos de nós seremos presos por alguma coisa e quantos morrerão. O CERTO é, que o BRASIL NESSE MOMENTO SOFRE UM GOLPE DE ESTADO, como se mata um porco deixando sagrar até não mais abrir os olhos. Lembrei-me de uma música do VANDRÉ. ” No quinta da minha casa não se varre com vassoura… varre com ponta de s…” e ai vai, é bom lembrar que também não estamos todos mortos…Que DEUS tenha pena de nossas almas brasileiras de verdade. O único caminho agora é planejar resistência, como diz o ditado popular “ O PAU VAI COMER NA CASA DE NOCA”. Mas podem ter certeza temos como resistir.

  9. É possível que seja um recado

    É possível que seja um recado que ‘êles’ voltarão a nos torturador e matar, é manifestação pelo passamento do Ustra?

  10. O discurso militar é cheio de
    O discurso militar é cheio de hipérboles, de metáforas e de sutilezas militares. Os homens de armas sempre minimizam sua linguagem dura, franca e até grotesca quando lidam com civis cheios de veleidades humanitárias. Assim, ao invés de dizer : “vamos matar aqueles filhos da puta e arrasar seus prédios, pontes e sistemas de telefonia, distribuição de água e de energia elétrica” (algo que um militar diz para o colega e até para o adversário) eles dizem “faremos o que for necessário”. Quando se referem aos “malditos idiotas que despedaçamos por engano porque estavam no lugar errado na hora errado” os militares dizem “as vítimas colaterais…”. No linguajar militar “justiça” é igual “vingança impiedosa e sangrenta”. Os romanos foram os primeiros especialistas na arte de disfarçar o que faziam com uma linguagem embelezada. “Saque” se transforma rapidamente em “tributo ou indenização de guerra”. Na guerra, os militares “torturam os inimigos, molestam os filhos deles, estupram suas mulheres e até subornam desertores para conseguir o que desejam”, mas quando se trata de contar o que ocorreu eles dizem que “um ardil foi empregado para conseguir alcançar o objetivo estratégico”. Dito isto, creio que é possível entender o que foi dito. Creio que o comandante geral do Exército disse exatamente o que deveria dizer.  O país tem instituições e tem constituição. Se houver crise grave as Forças Armadas irão cumprir seu papel sob o comando da Presidência da República. Resumindo: “os filhos da puta que ousarem usar a força para depor o presidente vão ser despedaçados com bombas e tiros de canhão e as mansões e empresas deles serão queimadas e reduzidas a pó.”

    1. Ná, ná, ná!

      Seriam necessárias décadas de formação bolivariana nas academias militares para um milico raciocinar da forma como o Fábio supõe ao terminar a sua especulação interpretativa.

      Em termos de cosmologia das instituições militares brasileiras, as castas senhoriais jamais são inimigas do país. Elas apenas exercem seu direito “natural” à senhorialidade.

      O pensamento militar brasileiro historicamente sempre funcionou nos termos da lógica da tutela: alguns tutelam, outros são tutelados.

      Ontologicamente, ou seja, em termos de lógica existencial, as FFAA se reconhecem a si mesmas como sujeitos de tutela da soberania. Elas crêem poder delimitar e gerir simbólica e autônomamente o que é e quais são as circunstâncias da soberania brasileira. E danem-se os paisanos babacas e incompetentes!

      A interpretação do Fábio é apenas wishful thinking.

      1. Veremos, meu chapa.

        Veremos, meu chapa. Veremos…

        Não cometa o erro de tentar derrubar Dilma a força, pois sua cabeça poderá acabar num cepo. Vou rir bastante quando ela for cortada.

        1. Não se trata disso, meu chapa.

          Não se trata de querer derrubar a Dilma ou não, mas apenas de não se deixar levar por nenhum desideratum fantasioso que não faz outra coisa que fabular invencionices inverossímeis sobre os militares brasileiros.

          Sua réplica em estilo Estado Islâmico bem sugere que você pode apenas estar largando as rédeas de algum fanatismo particular. Fazer análise política objetiva exige uma atitude bem menos narcísica (e infantil) que isso.

      2. Ótimo comentário o teu. Pena

        Ótimo comentário o teu. Pena que descontextualizado. A partir de dois marcos simbólicos:  o primeiro a promulgação da Constituição de 1988, o segundo a primeira eleição direta para presidente em 1989(consequência do primeiro), essas tuas elucubrações “ontológicas” perderam o sentido. 

        Abandonemos a metafísica e vamos para a práxis: cite um só exemplo a partir do marco referido  que sirva de amparo para esse mergulho no “pensamento militar” brasileiro. 

        A mentalidade militar é dicotômica. Isso é fato. Mesmo porque isso de certa maneira vai dar amparo, validar, os dois “valores” básicos pelos quais se regem: a disciplina e a hierarquia. 

        Quanto a crença de poderem delimitar e gerir simbolicamente e autônomamente o que é e quais são as circunstâncias da soberania brasileira porque elas são, de fato, os sujeitos dessa tutela se considerarmos que o Poder das Armas é, ao cabo e ao final, o que dá a última palavra. Sempre foi assim ao longo da história. Nas melhores democracias e nas piores ditaduras. 

  11. Carapuças

    Cecília, forças ocultas é que provocam as “ondas”, mas elas não estão aqui, mas seus difundidores e/ou cogeradores, moram aqui, estão no Congresso, na mídia e no empresariado!

    O PIG é o braço da (des)informação!

  12. Villas Bôas e más notícias.

    Para refrescar a memória, segue abaixo transcrição parcial de entrevista concedida pelo general Villas Bôas em janeiro passado.

    “Acho que a missão histórica da geração de nossos pais foi preservar a democracia no país. O Exército não se arrepende do que fez. Mas, de certa forma, ainda paga pelo que fez. Acho que a missão histórica da nossa geração (…) é contribuir para os valores essenciais da sociedade brasileira. Porque o Exército é um corte vertical da sociedade brasileira. Então talvez seja essa a nossa missão. E a diferença que existe hoje com relação ao período ali de 64 , aquela época,  é que hoje o Brasil é um país com instituições estruturadas, desenvolvidas, constituídas. Naquela época ainda não havia instituições no país.”

    É preocupante ele dizer que “Naquela época ainda não havia instituições no país”.

    Não havia?

    A Presidência da República, que as Forças Armadas brasileiras atropelaram, era o quê?

    Quem tem uma visão tão deturpada do “período ali de 64” – como se o Golpe de 1964 não estivesse sendo armado desde o início dos anos 1950 – é bem capaz, de uma hora pra outra, arrogar-se na sagrada missão de preservar “os valores essenciais da sociedade brasileira” – seja lá que diabo isso seja.

    “Porque o Exército é um corte vertical da sociedade brasileira.”

    Sem dúvida.

    Vertical e hierarquizado: na base, a soldadesca, que cumpre as ordens e está proibida de pensar, é egressa daquilo que Juarez Távora – um daqueles da “geração de nossos pais” que porfiaram pela “democracia no país” – chamava de populacho.

    Nelson Lott, no depoimento constante no documentário OS MILITARES QUE DISSERAM NÃO:

    “Acredito que nenhum brasileiro saiba o que que eles continuaram ensinando. Porque existe a formação de oficial. É grau universitário. E se você passa uma História falsa, mascarada, você não protege o futuro. Nesse sentido é que eu acho que não superou ainda o Golpe de 64.”

    Parece-me que o Villas Bôas é exemplo apropriado.

    Frase eremita, ou não, ficaria Pindorama menos intranquila se o general ficasse de boca fechada.

  13. Incoveniente e presunçosa a

    Incoveniente e presunçosa a fala desse militar. Ele é subordinado ao ministro da defesa e, por conseguinte, à presidente. Se fosse para dar um recado aos “taradinhos do golpe”, mais apropriado seria fazê-lo em entrevista coletiva, com a participação dos chefes das três armas, do ministro da defesa e, claro da Presidente Dilma, que deveria conduzir as falas. Os militares brasileiros ainda se acham acima de tudo e de todos, como se fossem divindades nos olhando lá do olimpo e prontos para nos punir se nos comportarmos mal. Seria até muito engraçado se não fosse preocupante. Isso nos faz lembrar que ainda não nos livramos de certo ranço típico de republiqueta de bananas.

  14. Estou na contramão

    Divirjo da maioria dos comentarista otimistas que me precederam.

    Militares não devem se manifestar em questões políticas. A manifestação do General Villas Bôas, ainda que possa ser interpretado por muitos como algum recado de moderação às forças golpistas que estão desde o fim das eleições em busca da desestabilização institucional, é no meu entender inconveniente e perigosa.

    Seja qual for o destinatário e seja qual for a interpretação “correta”, a manifestação explicita tanto a uns quanto a outros a ideia de que a sociedade não é capaz de escolher seus rumos sozinha e que, em caso de mau comportamento, passa a “dizer respeito diretamente aos militares”.

    Alguém imagina uma declaração deste tipo proferida por alguma alta patente militar nos EUA, na França ou na Inglaterra?

    Evidentemente que, desde que os militares brasileiros, contrariamente aos seus homólogos latino-americanos, ainda não foram capazes de fazer a autocrítica relativa ao período ditatorial, não nos são permitidas ilusões de que eles se “retiraram para sempre”. A manifestação do General, portanto, evidencia um lamentável hábito latinoamericano de se considerarem acima das foças sociais, eventualmente em conflito. Embora possam se considerar acima, quando resolvem se envolver, geralmente escolhem um dos lados. O lado da Casa Grande.

    Entendo que hoje o ambiente mundial não estaria favorecendo uma intervenção militar. Eles podem ser autoritários, mas não são nada burros. Sabem que em caso de intervenção o apoio internacional não seria tão evidente quanto em 1964. Mesmo com todas essas considerações, pondero ter sido inadequada a manifestação por parte do General.

    Não nos esquecamos que pouco antes do golpe de 1973, Pinochet havia feito declarações públicas de lealdade a Salvador Allende.

     

     

     

    1. Plenamente de acordo, mas…

      Estou plenamente de acordo que os militares brasileiros simplesmente não têm o direito de se pronunciar dessa forma. Só que, ao fazê-lo, o que eles demonstram é que não resistiram à tentação de reincidir na lógica da tutela.

      Me parece óbvio que o que o Comandante do Exército quis dizer é que ele teme um “esgarçamento violento do tecido social” (para utilizar velhos jargões mais explícitos), onde o Exército poderia vir a ser chamado para “restaurar a ordem básica”, mas isso é algo que se reservaria às análises de conjuntura do Gabinete de Segurança Institucional, onde deveriam ser ponderados critérios objetivos e concretos de mensuração das dinâmicas.

      Eu também não concordaria com a assertiva de que os militares brasileiros discrepam dos seus homólogos latino-americanos. Fora os venezuelanos, que passaram por um processo que começou antes do chavismo e que se tornaram efetivamente bolivarianos, apenas os militares uruguaios e uma certa fação das FFAA argentinas foram capazes de fazer uma autocrítica sobre o passado recente. E ninguém sabe exatamente o quanto essa autocrítica tem de meramente retórico. Os demais são controlados por cooptações circunstanciais e censuras precárias, se é que são controlados (os colombianos muito evidentemente não são, por exemplo).

      1. Lógica da tutela se houvesse

        Lógica da tutela se houvesse PRESCRIÇÃO na fala do general,  e não uma mera CONSTATAÇÃO indiscutivelmente embasada na Constituição(Art. 142 ).

  15.  
    Vou dar minha opinião antes

     

    Vou dar minha opinião antes de consultar o que pensa os demais companheiros do estabelecimento.

    Me desculpe os demais que por ventura venham a concordar com a extemporânea declaração desse funcionário público fardado, e comandante de outros tantos armados. Este general, capitão, almirante, ou piloto de aviões de caça e bombadeiros. Estes senhores não tem o direito legal para se meter em declarações públicas de qualquer natureza que fuja daquelas atinentes à caserna. Isso é tolerado, apenas por questões humanitárias, aos ociosos e reacionários velhinhos “militares de pijama.”

    Andava muito feliz, com o comportamento democrático de suas excelências de alta patente das Forças Armadas brasileira. Já começava a crer, viver numa Pátria adulta e respeitável. Havia tempo, que estes senhores mantinham postura digna, à exemplo das grandes democracias. Não gagavam regra aos civís, não se manifestavam politicamente. Muito menos, fazendo uso de adevertências descabidas, eivadas de veladas ameaças. Se não as explicitou, pensou alto, embora de maneira cifrada , que ao ser decifrada nos permite “ler”: se não se comportarem, nós desmontamos os bivaques, e retornamos ao palácio do Planalto. Esta foi a sensação desagradável que bateu em mim, ao ouvir a inadequada, desnecessária e intenpestiva fala perpetrada por esse senhor.

    O general Villas Bôas se não for ademoestado por seus superiores hierárquicos, conformedade com os regulamentos da caserna. Regulamentos que por certo, reprovam a descabida advertência feita pelo oficial, que ofende a democracia vigente no Brasil. É impensável um General norte-americano fazer uma coisa dessas. Se por ventura não houver punição desse oficial. Que se tire as mascaras. Não há respeito nem hierarquia. Decreta-se que o nosso País ainda não deixou de ser uma republiqueta de merda.

    Orlando

     

    1. Estes senhores não tem o

      Estes senhores não tem o direito legal para se meter em declarações públicas de qualquer natureza que fuja daquelas atinentes à caserna

      Os militares não perdem o direito à liberdade de expressão pela condição de militares. O cuidado com os termos e com um indesejável alinhamento político-partidário são recomendados à luz dos estatutos que os regem.

      No caso específico, o Comandante do Exército fez uma avaliação de contexto, e, a meu juízo, só na remissão a uma aludida “crise ética” foi imprevidente dada a possível apropriação desse juízo como uma condenação ao atual esquema de Poder. 

      Muito menos, fazendo uso de adevertências descabidas, eivadas de veladas ameaças. Se não as explicitou, pensou alto, embora de maneira cifrada , que ao ser decifrada nos permite “ler”: se não se comportarem, nós desmontamos os bivaques, e retornamos ao palácio do Planalto.

      Não confunda alegativas factuais com ameaças. O militar não fez nenhuma ameaça. Apenas fez referência a um dispositivo constituicional caso a situação política-econômica-social caminhe para uma convulsão social. Isso porque a eles competem como instância última a manutenção da lei e da ordem(CF: artigo 142). 

      Regulamentos que por certo, reprovam a descabida advertência feita pelo oficial, que ofende a democracia vigente no Brasil.

      Descabido e injusta essa tua exortação. Em momento algum o general “ofendeu a democracia vigente no Brasil”. 

       É impensável um General norte-americano fazer uma coisa dessas. 

      Impensável por que, se não houve infrigência a qualquer dispositivo legal? 

      Menos paranóia, meu prezado. Menos. Somos hoje um país amadurecido. 

       

       

  16. Cada lado vai se apropriar da declaração ao seu modo

    A Direita golpista verá nas declarações do general um alento, de que os militares estão de olho e dispostos a reeditar 64; a esquerda, por sua vez, poderá entender que os militares não vão permitir a quebra da ordem institucional. Em caso de conflito/convulsão, a defesa da legalidade. Carapuças para todo gosto.

  17. Um dos maiores equívocos

    Um dos maiores equívocos políticos-estratégicos  de parte substancial da  Esquerda brasileira, máxime a que sentiu “derrotada” pelo Sistema Militar que tomou as rédeas do país em 1964, é persistir, mesmo após o restabelecimento do Poder Civil em sua forma PLENA, ou seja, tanto por Direito como de Fato, a cultuar um ranço e um espírito de revanche com o estamento em questão. 

    Mescla-se nesse mister  paranoia, má vontade, desconfiança incabível e desmerecimento. Desconhece-se-se os contextos e insuflam-se imaginários contenciosos ao nível do pueril. Tenta-se, a todo custo, em especial o de manter viva uma cizânia hoje apenas na dimensão do histórico, pregar nas Forças Armadas a imagem de uma serpente eternamente em potencial estado de dar um bote na democracia. 

    O Poder Armado numa democracia – por razões óbvias – deve se submeter ao Poder desarmado, ou seja, Civil. Mas essa subordinação não o faz repositórios de desconfianças engendradas a priori acerca da sua postura e vocação democrática, bem como transforma seus membros em cidadãos de segunda categoria. 

    1. Pois eu digo que é exatamente

      Pois eu digo que é exatamente o contrário.

      Os militares, que nos legaram apenas dívida, inflação, miséria e arrocho, são justamente os que mais nutrem desprezo pela liderança civil.

      Doutos e limpos, só eles.

      A construção da ponte Rio-Niterói que o diga (isto pra não dizer outros tantos mlhares de casos).

      Aliás, certa vez uma parte da “esquerda” encastelada no governo, adotou um discurso pífio, de certa parte parecido com o seu, dizendo que foram outros militares que haviam cometido todas aquelas múltiplas barbaridades durante o regime, mas agora as forças armadas haviam mudado. Pois bem, as próprias forças armadas emitiram um comunicado oficial desmentindo tal interpretação, defendendo tudo o que fizeram e reiterando que elas possuem, ao longo de toda sua história, uma única e mesma forma de ação e pensamento, um único propósito, uma única forma de agir e, em resumo, que não adiantaria querer “escolher” certas decisões, ou certos períodos históricos das forças armadas como corretas, ou não. “Um dos maiores equívocos” esta no seu texto, pois negligencia o que as próprias forças armadas oficialmente afirmam e defendem.

       

      1. Há os “generais de pijamas e

        Há os “generais de pijamas e pantufas” com uma mentalidade que parou no tempo e no espaço cujo pensamento casa exatamente com o teu em termos de ressentimentos e visões obnubiladas por ideologias que perdaram a razão de ser.

        Pouco me importa o que as Forças Armadas afirmam e defendem. Me importo, isto sim, pelas ações concretas delas. Nesse sentido, me aponte pelo menos uma  produzida nestes últimos 27 anos atentatória contra a ordem democrática? 

        O contencioso da Forças Armadas com o estamento político, em especial da Esquerda, que efetivamente passou a existir a partir de 1935, é um processo histórico complexo e doloroso, mas felizmente superado. Querer ossificar, congelar, esse enfrentamento que também derivou da guerra fria, é atentar contra os interesses do país. As Forças Armadas são imprescindíveis para a Nação. 

        Os governos militares foram péssimos a partir da suas ilegitimidades. Devem ser deplorados pelo desrespeito aos direitos humanos, cabendo nesse mister processar e julgar os agentes – superiores e inferiores – responsáveis pelas infâmias. 

        Se eles cometaram ilícitos nos seus governos nada posso afirmar porque nada foi divulgado e muito menos apurado. Tens alguma coisa a informar acerca de algum caso concreto? 

         

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