Comentário: o paradoxo do fascismo neoliberal de Bolsonaro, por André Lameira

Para a maior parte da esquerda, a ficha ainda não caiu de que nós não estamos em um enfrentamento tópico ou conjuntural, mas sim num enfrentamento sistêmico de dimensões históricas.

Por André Lameira
comentário no post Comentário: o paradoxo do fascismo neoliberal de Bolsonaro

O Fascismo é uma tipologia política que combina uma ditadura com a supressão da classe trabalhadora através da destruição de suas organizações, para remover a parcela de controle que os trabalhadores exercem sobre a economia e a política e conferir à burguesia o absoluto monopólio sobre as decisões econômicas e políticas.

Esse comentário de que existe uma razão populista na adoção de políticas chamadas “keynesianas” por governos fascistas é obra de uma imaginação fértil, dado que:

1) Ignora a razão de ser de um regime fascista, isto é, a destruição das organizações da classe trabalhadora para possibilitar o monopólio político, econômico e cultural pela burguesia.
2) Ignora a diferença de posição no capitalismo mundial entre países centrais e países periféricos. Um fascista na Europa é nacionalista. Um fascista na América Latina é anti-nacionalista. Se levarmos em conta que o fascimo é uma obra da burguesia, tudo se explica.

Tanto o sistema político burguês quanto o capitalismo estão ruindo em nível mundial. Isto é, tanto os liberais na economia (neoliberais) quanto os liberais na política (legalistas, institucionalistas) vão sofrer horrores no próximo período, porque o mundo vai virar de ponta-cabeça. Neste momento há a polarização de extremos [direita “pura” (fascista) e esquerda “pura” (socialista)] com o desabamento do centro. A esquerda nacional não sabe o que fazer porque se agarra com unhas e dentes aos regimes político e econômico que estão desabando. Só poderia ser um elemento verdadeiramente ativo se abandonasse a perspectiva liberal-institucional e adotasse a perspectiva histórica.

Infelizmente, nesta etapa histórica só os círculos mais vanguardistas estão fazendo uma política mais coerente. Para a maior parte da esquerda, a ficha ainda não caiu de que nós não estamos em um enfrentamento tópico ou conjuntural, mas sim num enfrentamento sistêmico de dimensões históricas. Vai doer muito ainda pra muita gente.

Mas para além disso, fascismo não se combate com argumentos, se combate com a força! Foi assim que Mussolini e Hitler foram derrotados.

Redação

7 Comentários

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  1. Concordo. Vimos afirmando há muito tempo que o momento histórico no mundo e sobretudo no Brasil, reflete o colapso do capitalismo e tudo o que a ele se relaciona, regime político, instituições, etc etc.
    A esquerda quer continuar a fazer parte de um sistema que não existe mais. O navio está afundando, não dá para fechar os buracos, é preciso outra embarcação, outro “capitão”, outro exército, outra coragem.

  2. Em geral, concordo com sua análise, excceto quando você afirma que “a razão de ser de um regime fascista é a destruição das organizações da classe trabalhadora para possibilitar o monopólio político, econômico e cultural pela burguesia.” O fascismo é uma disfunção do capitalismo (que já é tulmutuado por si mesmo) até mesmo para a elite que, sem dúvida, lucra com a ditadura fascista. Mas chega um ponto em que a fúria destruidora fascista começa se voltar contra a própria burguesia, o que não costuma demorar muito.

    Creio que o fascismo não tem a ver apenas com a luta de classe. Há um componente psíquico de delírio das massas que também é fundamental. E ele necessita, sim de muito apoio popular. Todos os fascismos que vingaram foram apoiados massivamente pelas classes médias baixas e por grande parte da ralé. Para que este apoio se mantenha o líder fascista explora a raiva, o ressentimentoe os preconceitos do povo, mas também utiliza políticas keynesianas para que as massas tenham trabalho e possam consumir. A tendência de adoção de políticas keynesianas pelos fascistas não é fantasia, é fato.

  3. -> Para a maior parte da esquerda, a ficha ainda não caiu de que nós não estamos em um enfrentamento tópico ou conjuntural, mas sim num enfrentamento sistêmico de dimensões históricas.

    vivemos no Brasil uma situação pré-revolucionária? delírio? surto ultra-esquerdista?

    mas se é o próprio Rodrigo Maia que afirma estarmos “caminhando de forma muito rápida para um colapso social”.

    em meio a uma acentuada crise econômica, tudo sob o céu está mergulhado no caos. os de cima já não podem governar como antes. enquanto os de baixo já não suportam sê-lo, sendo empurrados para uma ação histórica independente.

    todas as razões para uma revolução estão aí.

    e não é por outro motivo estarmos sob intenso ataque contra-revolucionário. justamente para neutralizar e capturar a energia da revolta, antes dela se organizar numa vanguarda revolucionária.

    então, o que nos falta? por certo, a vanguarda revolucionária.

    contudo, como seria a Revolução em pleno séc. XXI? a Revolução ainda é possível? a Revolução é um problema técnico? há uma potência destituinte?

    estas são as questões. e não os patéticos pré-acordos eleitorais. e não uma luta institucional quando todas as instituições se tornaram ilegítimas.
    .

    1. Esse é o perigo, Arques,
      quando todas as instituições já se tornaram ilegítimas o próximo passo será um governo ilegítimo.
      Que o ser medonho que “governa” este país não resolva cultivar um bigodinho debaixo do nariz, porque vontade e coragem pra fechar o congresso e o judiciário ele tem.
      Vamos ver o volume das próximas manifestações sociais e se o direcionamento delas será eficiente para estancar a destruição que nos espera.

      1. -> quando todas as instituições já se tornaram ilegítimas o próximo passo será um governo ilegítimo.

        este nossos diálogos aqui no GGN são muito produtivos para mim. agradeço por eles.

        o atual governo já é ilegítimo. pois ele é fruto de golpes entrelaçados: o Golpe de 2016, o golpe da prisão de Lula e o Golpe das Eleições de 2018.

        sei muito bem que vc gostaria que fosse diferente. eu tb gostaria. todos gostaríamos. muito embora nosotros não…

        mas não sairemos deste “Beco sem Saída” sem algo que se denomine, com rigor conceitual ou não, de “Revolução”.

        assim como a República Velha para ser superada exigiu a “Revolução” de 1930. do mesmo modo a Contra-Revolução de 1964 encerrou o período Varguista.

        a Nova República fracassou justamente por não estabelecer um novo sistema político, tão somente um mal costurado arranjo onde tudo e todos couberam, não em proporções justas e igualitárias por certo.

        uma institucionalidade em decomposição não pode ser regenerada senão pelo próprio Poder Instituinte. ou seja: o Poder Popular. e Poder Popular não é criado pelo voto, somente pela luta.
        .

  4. Esse é o perigo, Arques,
    quando todas as instituições já se tornaram ilegítimas o próximo passo será um governo ilegítimo.
    Que o ser medonho que “governa” este país não resolva cultivar um bigodinho debaixo do nariz, porque vontade e coragem pra fechar o congresso e o judiciário ele tem.
    Vamos ver o volume das próximas manifestações sociais e se o direcionamento delas será eficiente para estancar a destruição que nos espera.

  5. Aguardemos, pois, a demonstração de força do EVENTUAL descontentamento do povo porque, como se sabe, a maioria ainda cultiva a esperança dos crentes de que tudo vai melhorar, que o “senhor” vai abençoar e que o “escolhido nos (lá neles) levará à vitória”.
    Não nos esqueçamos, outrossim, que mesmo na derrocada do mito, a culpa nunca será dele, porque o importante do mal feito é sempre achar em quem colocar a culpa.

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