A Folha blefou, perdeu e não quer mostrar as cartas. Há tempos o jornal menciona dossiês que teriam circulado pelo comando de campanha de Dilma Rousseff, divulga trechos, passa dicas e não abre as cartas.
Aparentemente está chegando na hora de mostrar suas cartas.
Por exemplo, recebo telefonema da assessoria do deputado Cândido Vacarezza, que revela a origem de parte dos papéis em poder da Folha.
Em 2005, Vacarezza recebeu denúncias contra uma empresa, a Superbird, não contra pessoas. Na época, foi procurado pelo repórter Rubens Valente, da Folha, que, na conversa, mostrou ter mais informações sobre o caso.
Nada foi publicado.
O material foi recolhido pela Assembléia Legislativa, visando instruir uma futura CPI – que também acabou não saindo.
Há cerca de um mês, Vacarezza foi procurado pelo mesmo repórter, que lhe disse que pretendia retomar o caso. Segundo a assessora, Vacarezza informou ao repórter que o caso estava encerrado, já que tinha encaminhado a denúncia para o Ministério Público Estadual, que resolveu arquivar o processo. Não satisfeito, o repórter procurou a assessora jurídica de Vaccarezza – Ana Cláudia Albuquerque – que deu a mesma resposta de Vacarezza.
A partir dessa informação, é possível reconstituir o trajeto da Folha para chegar à reportagem de hoje.
Os documentos que circulam há tempos pelas redações, são investigações sobre os negócios de Verônica Serra pela AL de Sâo Paulo e dados da CPI do Banestado sobre Gregório Marin Preciado – ou seja, documentos oficiais, legalmente obtidos, já que pelas duas casas legislativas. É a isso que provavelmente o jornal se refere quando menciona “conjuntos de papéis” que “circularam pelo comando de campanha” do PT.
As matérias originais
Confira as duas matérias que já saíram sobre o tema e compare com o cozidão de hoje. São as mesmas informações:
04 de junho de 2010
Folha de S. Paulo
Papéis mencionam auxiliares e familiares de tucano
DE BRASÍLIA
Os papéis que circularam pelo comando da campanha de Dilma Rousseff (PT), tratados oficialmente por sua equipe como algo alheio à candidata e pelos tucanos como obra dela, tratam de transações financeiras que envolvem antigos colaboradores e familiares de José Serra (PSDB).
A Folha teve acesso a dois conjuntos de papéis. Um cita dados da CPI do Banestado (2003-2004), e o outro é sobre negócios atribuídos à filha de Serra, Verônica.
Os papéis da CPI relatam operações financeiras registradas entre 1997 e 2001 em nome de empresas que pertenciam ou pertenceram a Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-arrecadador informal da campanha de Serra ao Senado, em 1994, e ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil no governo FHC.
Oliveira deixou o cargo no BB em 1998, após o escândalo dos grampos no BNDES.
Os papéis também relatam movimentações financeiras do empresário Gregorio Marin Preciado, casado com uma prima do presidenciável e sócio de Serra até 1995 em um imóvel.
O principal papel do conjunto é um relatório datado de 2004, assinado pelo relator da CPI, o deputado federal José Mentor (PT-SP).
O relatório foi enviado pela CPI à Justiça de São Paulo num processo movido em 2002 por Ricardo Sérgio contra a “IstoÉ”, que havia citado os dados. A revista pediu ao juiz do caso que fosse possível buscar os documentos guardados pela CPI.
No relatório, Mentor descreveu que a CPI detectou operações de até US$ 2,7 milhões entre uma empresa então ligada a Ricardo Sérgio, a Consultatum, e uma “offshore”, por meio de operações de remessas de dinheiro que fugiam às regras do BC.
O relatório de Mentor também transcreve remessas totais de US$ 410 mil de uma empresa com interesses no setor telefônico brasileiro.
Sobre os negócios de Verônica, a Folha manuseou, mas não obteve cópia dos papéis nem conseguiu verificar sua autenticidade. Eles tratam de operações contábeis feitas por empresa ligada a Verônica e seu marido.
12 de junho de 2010
Folha de S. Paulo
Dossiê do PT traz dados fiscais sigilosos de dirigente tucano
Equipe da pré-campanha de Dilma investigou Eduardo Jorge; presidente petista nega envolvimento do partido
Leonardo Souza
A chamada “equipe de inteligência” da pré-campanha de Dilma Rousseff, do PT, levantou e investigou dados fiscais e financeiros sigilosos de Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente-executivo do PSDB.
Quatro meses depois, a Folha está tentando retirar suas fichas da mesa. Mas o jogo está se acabando — e o jornal vai ter que entregar seu cacife.
Mostrando as cartas
Agora, o jornal entrou em uma sinuca.
Quatro meses depois, a Folha está tentando retirar suas fichas da mesa. Mas o jogo está se acabando — e o jornal vai ter que colocar suas cartas na mesa, para saber se está blefando ou não. Se só tiver os papéis que já viraram reportagem há meses, blefou.
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