A não-notícia do G1

Francamente, desisti de entender. Deve ter alguma ciência logosófica por trás dessas não-notícias. Não é possível essa maluquice de transformar qualquer fato banal e óbvio (qualquer empresa organizada tem política de monitoramento de emails corporativos) em notícia e escândalo. Não dá. No nascimento do jornalismo já se dizia que notícia é tudo o que sai do normal.  Aqui inventou-se o jornalismo jabuticaba. Daqui a pouco vão noticiar cortes de cabelo, horários extras, times para os quais os membros do comitê torcem, receitas de regime, compra de shampoo anticaspa.

Do G1

Documento revela rotina de vigilância de contratados da campanha de Dilma

Profissionais têm computadores monitorados em tempo real por técnicos.
É proibido uso de qualquer dispositivo que possa fazer cópia de conteúdos.

Robson BoninDo G1, em Brasília

Preocupadas em evitar o vazamento de informações sigilosas de campanha da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, as empresas Lanza e Pepper Interativa, contratadas para atuar na campanha, implantaram uma rotina de constante vigilância sobre o grupo de profissionais contratados para atuar na casa transformada em base para as atividades de comunicação e internet da candidatura.

Documento obtido pelo G1 mostra como o “Centro de Processamento de Dados” da campanha controla o uso de computadores, e-mails, acesso a sites e à rede interna da Lanza e da Pepper Interativa.

Trecho de documento obtido pelo G1 sobre controle de informações das empresas contratadas pela campanha de Dilma Rousseff (Foto: G1/Reprodução)

O documento é uma espécie de “termo de normas de conduta” utilizado em repartições públicas, mas adaptado à realidade da campanha petista. Foi elaborado em 3 de maio deste ano, antes de o episódio da suposta espionagem interna na campanha petista vir à tona – e Luiz Lanzetta, dono da Lanza, ter deixado a candidatura petista – e depois da reunião de 20 de abril que está na origem da crise do suposto dossiê. A reunião foi motivada pela suspeita de vazamento de informações da campanha.

O documento estipula as regras com as quais cada profissional contratado para atuar na campanha tem de se comprometer mediante assinatura. O receio com o vazamento de informações é tamanho que a empresa chega a proibir o uso de qualquer dispositivo que possa fazer cópias de conteúdos no interior da casa.

“É proibido o uso de dispositivos portáteis para cópias de arquivos no âmbito da Pepper Interativa. Exemplos: pen drive, CD, DVD, e qualquer outro dispositivo similar, sem autorização prévia do Centro de Processamento de Dados”, adverte o texto. “Constitui infração a revelação de segredo do qual me apropriei em razão do cargo e constitui quebra de sigilo funcional divulgar dados obtidos por meio do uso do e-mail da empresa”, afirma outro ponto do documento.

Com cerca de 30 profissionais, em sua maioria jornalistas, a central de comunicação da campanha petista passa por “vistorias de rotina” diárias nos computadores. A ação dos técnicos tenta impedir o vazamento de informações. Cada profissional a serviço da empresa tem um número individual que permite aos técnicos mapear a sua atuação nos computadores da campanha.

“O sistema de filtros de acesso irá gerar relatórios periódicos indicando os usuários que eventualmente navegam ou acessam recursos da rede corporativa, computadores, internet e utilização de e-mail indevidamente”, avisa o documento.

Programas de computador impedem até mesmo o anexo de documentos a mensagens de e-mails. “A administração da Pepper Interativa/Lanza Comunicação utiliza softwares e sistemas que possam monitorar e gravar todos os usos da rede corporativa, computadores, internet ou utilização de e-mails da rede”, registra outro trecho do documento. “A administração da Pepper Interativa/Lanza Comunicação se reserva o direito de inspecionar qualquer arquivo armazenado na rede, estejam no disco local da estação ou nas áreas privadas da rede”, complementa a empresa.

O documento ainda afirma ser “responsabilidade” dos contratados pela empresa a “integridade, confidencialidade e disponibilidade das informações”. Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa de Dilma não comentou sobre o assunto. O G1 tentou contato com o jornalista Luiz Lanzetta durante todo o dia, mas ele não foi localizado. O celular dele não completava a ligação.

O assessor da Pepper, Bartolomeu Rodrigues, informou ao G1 que desconhecia a existência do documento. “Eu desconheço esse documento, mas se existir, qual é o problema? Se existir é uma coisa natural.”

Segundo ele, toda empresa mantém informações protegidas. “Se a Volkswagen está desenvolvendo um modelo de carro, ai do funcionário que vazar”, disse. “É preciso ter um certo controle”, declarou. Segundo ele, a Pepper presta serviços de internet voltados a redes sociais. “Quem cuida de jornalismo é a Lanza”, afirmou.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, confirmou ao G1 na noite de sexta que a Pepper vai absorver os funcionários que eram contratados pela Lanza para a campanha de Dilma. “Vamos pegar a empresa que já temos contrato. Na verdade não haverá rompimento no trabalho da campanha,” garantiu. 

Luis Nassif

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