A promiscuidade da mídia com Serra

A maneira como a velha mídia se articulou com a campanha de José Serra é tão óbvia e burra que desanima.

As estratégias são previamente combinadas. Só que, de tão óbvias, passam a ser de conhecimento geral no instante seguinte. É a conspiração do Polichinelo.

Confira as obviedades:

1. Entrevistas do Jornal Nacional com candidatos. Para os três – Dilma, Marina e Serra – as mesmas perguntas enfatizando “o mensalão do PT”. Escrevi um post mostrando o enfado que era prever os próximos passos.

2. Depois, a capa de Época, com o retrato de Dilma no DOI-CODI, enfatizando seu passado guerrilheiro.

Agora, tem início o horário gratuito na TV. E quais os temas que Serra irá enfatizar? Uma bala Chita a quem adivinhar. Campanha falando das más companhias de Dilma, e exploração do retrato de Dilma – com o retrato dela mais jovem exposto em todas as bancas  – a pretexto de perguntar o que ela fez pelo país.

Da Folha

Serra tem prontos comerciais em que ataca petista e afirma que ela trará “radicais”

Cacalos Garrastazu/Obrito News

Serra com a candidata do PSDB ao governo do RS, Yeda Crusius, durante evento ontem

CATIA SEABRA
DE SÃO PAULO

O comando da campanha de José Serra (PSDB) produziu artilharia pesada contra a adversária e hoje líder nas pesquisas, Dilma Rousseff (PT). O comitê de Serra tem prontos um jingle de rádio e um comercial de TV, para ataque contra a petista.

Dedicado ao eleitor nordestino, o jingle cita o ex-ministro José Dirceu. Em ritmo de forró, diz que o governo Lula vai acabar e Dilma trará de volta o ex-ministro da Casa Civil e os “radicais”.

Concluído nesta semana, o comercial de TV lança dúvidas sobre a capacidade administrativa da ex-ministra. Na peça, uma apresentadora lista medidas encampadas por Serra, como os genéricos e a luta contra a Aids.

Ao mostrar o rosto de Dilma, pergunta se o eleitor lembra algo que ela tenha feito de benéfico. E conclui dizendo algo como “Serra é certeza. Dilma é dúvida” (o texto ainda estava sendo trabalhado nos últimos dias).

Reservadas para rádio e para as inserções comerciais, as críticas mais ácidas podem ir ao ar nos próximos dias, mas devem ficar longe do programa de estreia.

O programa, que vai ao ar hoje, será destinado à apresentação do candidato em contato com o povo e dizendo que seu foco são pessoas.

Na tentativa de mostrar sensibilidade social, Serra apresentará quatro beneficiários de políticas públicas defendidas por ele, na Paraíba, em Minas e no Maranhão.

Nesse esforço de humanização do candidato, o tucano transitará por cerca de 30 silhuetas de pessoas. Então, dançará “puladinho”, num cenário que reproduz um churrasco numa laje, ao som de “quando o Lula da Silva sair, é o Zé que eu quero lá”. Por fim, aparecerá jogando futebol com crianças.

Em ritmo de pagode, o novo jingle bate na tecla de que Lula não é mais o presidente: “Para o Brasil seguir em frente, sai o Silva e entra o Zé”.

Como o uso do primeiro nome e a opção pela manga da camisa arregaçada, dando ideia de dinamismo, fizeram parte da campanha de Geraldo Alckmin em 2006, a repetição da fórmula tem causado apreensão no tucanato. Ontem, líderes do PSDB insistiam para que Serra fosse, desde já, mais agressivo.

DÚVIDA

A dúvida sobre a capacidade de Dilma e a exaltação da biografia de Serra estarão nas inserções. A cargo do publicitário Átila Francucci, serão reduzidas, em sua maioria, a 15 segundos.

Com menor tempo de TV, o comitê Serra investe na ideia de volume, dividindo os 30 segundos convencionais à metade. Com isso, o número de aparições passa dos 3,5 diários para 5 ou 6.

Para garantir maior presença, Serra deverá ocupar ainda o tempo dedicado às inserções dos candidatos a deputados. Em São Paulo, protagonizará todas as inserções, pedindo voto no 45.

A intenção é ocupar ao menos um terço do tempo destinado aos deputados nos outros Estados. Serra também terá aparições no programa dos candidatos a senador. 

Luis Nassif

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