Partido Novo suspende João Amoêdo, que declarou voto em Lula

Johnny Negreiros
Estudante de Jornalismo na ESPM. Estagiário desde abril de 2022.
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Oficialmente, o partido não alegou que a decisão tem relação com o apoio ao petista

João Amoêdo discursa na Avenida Paulista com bandeiras sindicais e pró-LGBTQIA+ ao fundo. A imagem foi usada por bolsonaristas para criticar o banqueiro. Foto: Reprodução/Redes Sociais

João Amoêdo foi suspenso do partido Novo. A medida aconteceu após o fundador da sigla ter declarado voto em Lula neste segundo turno. Desde então, o ex-presidente da legenda vem sofrendo fritura interna.

Mas esse não foi o motivo oficial que motivou a suspensão, que teria ocorrido por “possíveis violações estatutárias”. Ainda, o Novo afirmou em nota que está seguindo o próprio estatuto e que Amoêdo terá “pleno direito de defesa”.

Para Amoêdo, seu direito de fazer oposição estaria “mais preservado com Lula que com Bolsonaro”.

No dia 30, farei algo que nunca imaginei. Contra a reeleição de Jair Bolsonaro, pela primeira vez na vida, digitarei o 13. Apertar o botão ‘confirma’ será uma tarefa dificílima. Mas vou lembrar do presidente que debochava das vítimas na pandemia.

explicou ele

João Amoêdo fundou o Novo em 2011 e foi presidente do partido até 2020. Disputou a corrida à Presidência em 2018 e teve 2,5% dos votos válidos. No ano passado, se colocou na corrida pelo Planalto. Porém, foi retirado pelos correligionários que, nos bastidores, não queriam um opositor de Bolsonaro nas eleições.

Em seu lugar, Felipe D’Ávila foi o presidenciável do Novo no pleito de outubro. Ele teve 0,47% dos votos válidos.

Novo virou de “extrema-direita”, para analista

Na visão de Cesar Calejon, a suspensão da filiação de Amoêdo representa um passo em direção à extrema-direita, afastando o Novo do liberalismo.

Ao suspender Amoêdo, o partido Novo posiciona-se à extrema-direita e escancara as suas inclinações neofascistas em detrimento do liberalismo que supostamente deveria organizar o seu conteúdo programático. Até Amoêdo, que nem de longe é petista ou defende ideais progressistas, entendeu a urgência e a seriedade do momento, optando pela única candidatura que pode evitar a consolidação definitiva de um regime nazifascista no Brasil. O Novo, em contrapartida, escolhe puni-lo por ‘violações estatutárias’, o que sela o fim da bandeira liberal sobre a qual o partido pretendia operar. Alinhou-se, de forma infeliz, ao bolsonarismo no momento em que o campo democrático se une para evitar a maior tragédia da história do país.

Calejon é jornalista e autor dos livros “Ascenção do bolsonarismo no Brasil do Século XXI” e “Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil”

Neutralidade, mas nem tanto

No segundo turno, a legenda não formalizou apoio a nenhum dos candidatos à Presidência e liberou seus integrantes a individualmente darem suporte aos presidenciáveis.

Zema, governador reeleito em Minas Gerais, a bancada federal, que conta com nomes como Marcel Van Hattem e Vinicius Poit, estão trabalhando e declararam voto abertamente por um segundo mandato de Bolsonaro. No entanto, Amoêdo não teve a mesma liberdade.

O atual presidente da sigla, Eduardo Ribeiro, chegou a classificar a postura de João Amoêdo como “vergonhosa”.

LEIA: Novo perde 60% na Câmara e Amoêdo alfineta presidentes do partido

Esse grupo mais alinhado ao Planalto não se identifica como bolsonarista. Pelo menos não publicamente. A reportagem questionou Poit se ele era bolsonarista. Essa foi a resposta:

Não, de maneira nenhuma. Eu me considero um cara independente, né? E essa independência permitiu que a gente apoiasse Marco Legal do Saneamento, Marco Legal das Startups, Reforma da Previdência, projetos importantes do Governo Federal, independente se for Bolsonaro ou não quem colocou.

A declaração foi feita em entrevista coletiva antes de debate entre candidatos ao Governo de São Paulo, em pergunta feita pelo GGN. Na segunda rodada da disputa, Vinicius Poit está apoiando Tarcísio de Freitas, nome de Bolsonaro no estado.

Racha interno

Segundo informações amplamente divulgadas na imprensa, o Novo viveu racha interno em 2020. De um lado, ala mais próxima ao bolsonarismo batia de frente com grupo que rechaçava tanto Lula quanto Bolsonaro. Os apoiadores do atual mandatário teriam vencido o conflito interno. O partido oficialmente nunca confirmou a veracidade disso.

Nessa esteira, alguns nomes antibolsonaristas deixaram a sigla: Christian Lohbauer (vice na chapa de Amoêdo de 2018), os deputados estaduais Heni Ozi Cukier e Daniel José, entre outros.

LEIA: Novo x MBL: o que está por trás do afastamento dos dois grupos

Johnny Negreiros

Estudante de Jornalismo na ESPM. Estagiário desde abril de 2022.

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