Fux usa notícia falsa para investigar notícias falsas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil

Por Leonardo Sakamoto

No UOL

TSE cita notícia falsa sobre notícia falsa para investigar notícias falsas

O ministro Luiz Fux, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, decidiu abrir procedimento junto ao Ministério Público Eleitoral para verificar a possível ocorrência de irregularidades apontadas em estudos da Fundação Getúlio Vargas e da Universidade de São Paulo sobre notícias falsas, inclusive com a utilização de robôs. O objetivo é evitar influências indevidas nas eleições de outubro.

“Vamos instaurar um procedimento que será remetido ao Ministério Público, que vai solicitar o auxílio da Polícia Federal para nós verificarmos que tipo de material essas organizações têm à sua disposição”, disse Fux, nesta terça (27).

Sobre o material da USP a respeito do tema, o site do TSE, até a publicação deste texto, citava ”um levantamento da Associação dos Especialistas em Políticas Públicas de São Paulo, com base em critérios de um grupo de estudo da USP” que conseguiu identificar ”os maiores sites de notícias do Brasil que disseminam informações falsas, não-checadas ou boatos pela internet”.

Só tem um problema: o estudo supracitado é, em si, uma notícia falsa.

”Esse suposto estudo não passa de um grande mal-entendido”, afirma Pablo Ortellado, professor de Políticas Públicas na Universidade de São Paulo e coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital da mesma instituição. ”Ele nasceu de um despretencioso post de Facebook da Associação dos Especialistas em Políticas Públicas que listou alguns sites, a partir da longa lista de sites que monitoramos, que escondiam seus responsáveis.” A relação sugeria que esconder o responsável pelo site era um indício de que ele distribuía notícias falsas.

Segundo ele, a partir daí, foi só distorção: um levantamento despretensioso, que não tem qualquer caráter científico, virou ranking. O que era um indício de que poderiam fazer notícias falsas, virou atestado de que faziam notícias falsas. E a USP, que era apenas a fonte original a partir da qual os sites foram escolhidos, virou a instituição que fez o estudo.

Uma notícia falsa sobre esse estudo foi criada e passou a ser distribuída pela rede. De acordo com Ortellado, que é referência no estudo de desinformação online no Brasil, ela já foi repercutida por um rosário de sites e páginas, compartilhada por jornalistas, professores universitários e muitos políticos, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. ”Somados, os sites conseguiram mais de 220 mil compartilhamentos”, afirma.

A Associação dos Especialistas em Políticas Públicas do Estado de São Paulo fez uma nota de esclarecimento no lugar do post no qual havia sido publicado o levantamento original no dia 24 de janeiro de 2017. ”Para evitar a propagação de mal entendidos, retiramos a publicação de nossa página e aproveitamos para agradecer a todos que têm contribuído para o aprimoramento da nossa atuação. Asseveramos que nossa intenção sempre foi contribuir para o fortalecimento da democracia, da transparência e dos princípios éticos e jornalísticos (…) Revisaremos nosso material e seguiremos sempre dispostos ao diálogo, estando à disposição para eventuais esclarecimentos.”

Ortellado cansou de vir a público explicar que não há estudo da USP que identificou os mais-mais da falsidade, mas a informação continua circulando.

(…)

Leia a coluna completa aqui.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Notícias falsas (fake news) …

    … a nova moda da mesma turma que criou o termo “teoria da conspiração”, com idêntico objetivo: calar dissidentes, desqualificando os seus argumentos e a versão divergente da oficial. 

    Por aqui, obedientemente, seguimos o roteiro da lá.

     

     

  2. Que situação mais constrangedora

    Muito constrangedor isso. Esse mundo do Poder Midiático e dos Realities Shows termina conduzindo a uma certa superficialidade na percepção da realidade, de forma geral. Mas no Judiciário isso é grave.

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