Suspensa condenação de iraniana

Do Terra

Irã suspende condenação à morte por apedrejamento de Sakineh Ashtiani

O Irã suspendeu hoje a condenação à morte por apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani, mulher acusada de adultério e de colaborar para o assassinato de seu marido, e revisará seu caso, informou o porta-voz do ministro de Assuntos Exteriores iraniano, Ramin Mehmanparast.”A sentença contra Ashtiani por adultério foi paralisada e (seu caso) está sendo revisado outra vez, enquanto sua sentença em relação a sua cumplicidade com o assassinato segue em curso”, disse o porta-voz ministerial à rede iraniana “PressTv”.

Ashtiani, de 43 anos e mãe de dois filhos, foi condenada a morrer lapidada em 2006 por adultério e por cumplicidade na morte de seu marido.

O Governo de Teerã tinha atrasado a aplicação da sentença contra Ashtiani, presa há cinco anos, pela pressão internacional que o caso produziu.

Em duas ocasiões anteriores houve recursos à condenação, mas as autoridades negaram o perdão em ambas.

Por Tomás Rosa Bueno

Convém lembrar que essa notícia sobre a “suspensão” só é verdadeira em parte, como a maior parte do que se diz sobre este caso: a sentença de morte por apedrejamento já estava suspensa desde 5 de junho, em linha com a moratória branca de execuções por lapidação em vigor desde 2008. Apesar da gritaria da imprensa brasileira e internacional, a Sakineh nunca esteve em riscoreal de morrer apedrejada. O que foi anunciado agora é que essa sentença será revisada, e confirmada ou revogada. Mas uma possível e até provável revogação não terá muito efeito sobre o destino final da ré, porque, segundo as autoridades iranianas, a sentença de morte por enforcamento, por cumplicidade na morte do marido, “continua em curso”, ou seja, os recursos estão sendo examinados – e espera-se uma decisão final para breve. Como tradicionalmente as sentenças de morte não são executadas em países muçulmanos durante o Ramadã, que acaba na semana que vem, o desfecho deste caso deverá sair em breve.

Temo que esse desfecho não seja favorável à Sakineh, e que ela seja enforcada nos próximos dias, na prisão em em segredo, sendo a execução comunicada post facto à família e à imprensa, como é comum acontecer no Irã. A campanha internacional conscientemente mentirosa contra um apedrejamento que nunca foi de fato cogitado não deve ter ajudado muito a aumentar a simpatia por ela entre os iranianos em geral, e em particular no judiciário do país, composto na sua maioria por gente da linha dura e em conflito com o legislativo e o executivo, que estão promovendo no Majlis, o parlamento iraniano, um projeto de reforma para abolir do código penal muitos dos elementos mais bárbaros da sharia, entre eles a morte por lapidação.

Num momento em que a liderança Ahmadinejad/Mashaee está sob ataque cada vez mais cerrado dos setores mais fundamentalistas da Guarda Revolucionária, essa campanha, como foi dito repetidamente por setores da oposição no Irã, serviu antes de mais nada para fortalecer a linha dura, que se viu diante de um exemplo claro de interferência estrangeira baseada numa mentira que qualquer iraniano podia identificar. A campanha foi um presente para a linha dura iraniana, e o Brasil embarcou nela de alegre.

Luis Nassif

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