José Dirceu na campanha de Dilma

Do Valor

Dirceu reduz consultoria por campanha de Dilma

Maria Inês Nassif, de Brasília
14/04/2010

Para ministros petistas, o ex-presidente do PT José Dirceu tornou-se a “Geni” da política brasileira – uma referência à música de Chico Buarque que narra a história do alvo preferido de uma cidade, “feita para apanhar, boa de cuspir”. Não é um juízo de valor, apenas uma constatação: em todos os momentos mais delicados para o partido, em primeiro lugar é a figura de José Dirceu que emerge no centro de ataques dos adversários. Para o público interno do PT, no entanto, desde 2005, quando Dirceu tornou-se o principal alvo das investigações sobre o chamado mensalão do PT, ele passou a ser o símbolo de resistência. A imagem de perseguido, mais um intenso trabalho que fez nos Estados, garantem ao ex-ministro popularidade entre militantes.

Essa posição dúbia do ex-presidente do PT o torna uma presença incômoda na campanha da candidata a presidente do partido, Dilma Rousseff, à medida que ele tem uma capacidade ilimitada de atrair a atenção dos inimigos; mas ao mesmo tempo importante, já que se mantém como referência para uma militância que, pretende-se, deve estar mobilizada para uma campanha que promete ser dura. O ideal seria que fosse discreto. “Essa não é a sua personalidade”, ressalva uma figura do governo.

Dirceu, que havia sido um centralizador presidente do partido, com domínio sobre as realidades regionais do PT, saiu percorrendo as sessões estaduais para evitar o isolamento, durante e depois do processo que levou à cassação de seu mandato de deputado pela Câmara, em dezembro de 2005, na esteira das denúncias de um mensalão que alimentaria o caixa dois de campanha do PT. “Desde 2005, o Zé se move pelo Brasil inteiro”, lembra um ministro. Teve sucesso não apenas no seu objetivo individual, o de obter apoio da militância do PT, mas, segundo avaliação de uma parcela da legenda, acabou desempenhando indiretamente uma função partidária: o PT estava acuado por uma crise sem similar na sua história e sob um comando considerado “fraco” – era presidente do partido o deputado Ricardo Berzoini (SP).

Outra parte do PT, todavia, se incomoda profundamente com a desenvoltura com que Dirceu transita nos diretórios estaduais. “Ele sempre dá a impressão de que fala pelo partido”, diz uma fonte do governo, ressaltando que esse tipo de postura fragiliza a autoridade do comando partidário, ao mesmo tempo que o grande público identifica permanentemente o partido e sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff, com uma figura que está sempre sob ataque.

Um papel adicional que Dirceu continua cumprindo, embora informalmente – também para desconforto da direção – é o de manter contatos com os aliados regionais do PT. Foi no período em que presidiu o partido, de 1995 a 2002, que o PT saiu do isolamento. O trabalho de centralização e formação de maioria interna feito por Dirceu levou o PT a uma política mais consistente de alianças eleitorais. Dirceu articulou intensa e meticulosamente as alianças regionais, enquanto esteve na presidência do PT. Já ministro da Casa Civil (2003-2005), trabalhou para levar o PMDB para a base de apoio do governo. Conhece profundamente os protagonistas da política regional de cada Estado. E tem trânsito junto a aliados e possíveis aliados do partido.

A excessiva popularidade interna do ex-ministro e seu trânsito junto a políticos regionais que podem se aliar ao governo, todavia, contrastam com a imagem que ele desfruta junto ao público externo – e esse é o problema político da campanha da ministra Dilma Rousseff. “Não adianta, se ele bota a cara de fora, o partido todo apanha”, constata outro ministro do governo Lula. Segundo um auxiliar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve um acordo para que Dirceu assuma uma posição mais discreta na campanha eleitoral. A assessoria de Dirceu não confirma o acordo, mas diz que o ex-ministro se prepara para trabalhar na campanha de Dilma, na “forma e intensidade” que o PT decidir. Para tanto, vai reduzir suas atividades profissionais – inclusive na JD Consultoria, que é a atividade que toma mais o seu tempo. Foi como consultor que voltou aos jornais há cerca de um mês, devido ao interesse comercial de um cliente seu de reativar a Eletronet.

Nem as pessoas mais próximas a Dilma no governo Lula, no entanto, acreditam que Dirceu consiga a façanha da discrição. “Não adianta, é da personalidade dele: tudo tem que ser grandioso”, observa um ministro com ligações antigas com Dirceu. Prova de que isso é uma tarefa difícil para Dirceu foi a comemoração do seu aniversário, no dia 16 de março. Não foi a festa de alguém que está disposto a ir para a cocheira, pelo menos até terminar as eleições. Foi, de fato, um evento político.

Segundo um dos assessores do ex-ministro, todavia, não há razões para que Dirceu se exponha, já que sua maior contribuição à candidatura de Dilma, segundo ele, foi dada no ano passado, quando percorreu o país e transitou o nome da candidata tanto nos partidos regionais como entre aliados nos Estados. A homologação desses acordos que teriam sido iniciados por ele, agora, é tarefa do PT Nacional. O que não quer dizer que vá ficar no seu canto nas eleições. A ideia de reduzir suas atividades de consultoria atendem ao objetivo de ter mais tempo para se dedicar ao seu blog e às atividades partidárias de campanha, inclusive de viagens aos Estados.

Luis Nassif

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