Fux ameaçou mandar atirar em golpistas e Aras disse que “ele está certo”: os bastidores do 7 de Setembro revelados por Luís Costa Pinto

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Fux mostrou a Braga Netto que não sucumbiria à pressão pela GLO; Aras ficou ao lado do ministro do STF na resistência democrática

Foto: Carlos Moura/SCO STF

O então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2021, ministro Luiz Fux, desmontou a primeira tentativa de golpe arquitetada para o 7 de setembro daquele ano, ameaçando acionar snipers contra bolsonaristas que tomaram a capital federal, revela reportagem do site Brasil 247, publicada nesta sexta-feira (12). 

Segundo as informações obtidas pelo jornalista Luís Costa Pinto, os atos convocados pelas redes sociais, que levaram milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Brasília, em 7 de setembro de 2021, tinham como plano de fundo forçar as autoridades acionar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), para que as Forças Armadas assumissem o controle. 

O plano, no entanto, não teve nenhum êxito, diferente de 8 de janeiro de 2023, quando os bolsonaristas conseguiram ir além e invadir as sedes dos Três Poderes. 

O recado

De acordo com o 247, na madrugada daquele 7 de setembro, Fux telefonou para o general da reserva e então ministro da defesa Walter Braga Netto “num tom ameaçadoramente resignado e frio”: “Ministro, eu não vou pedir GLO. Já disse isso ao general Matsuda”, teria afirmado o presidente da Suprema Corte ao subordinado de Bolsonaro. 

O general Yuri Matsuda era o Comandante Militar do Planalto naquele momento. Luiz Fux foi além ao explicar o porquê de não pedir GLO ao então ministro da Defesa: – Há atiradores de elite que eu ordenei que fossem estrategicamente colocados na laje do prédio do Supremo Tribunal Federal. Vou mandar que abram fogo contra quem quiser invadir o STF e se eles romperem o terceiro bloqueio na Esplanada dos Ministérios. Já romperam dois. Se romperem o terceiro, darei ordem de atirar. Estou dentro do Supremo, e daqui não sairei”, relata a reportagem.

Braga Netto, então, teria consultado o então procurador-geral da República, Augusto Aras, para saber se Fux poderia cumprir com as ameaças. “Pode, claro. E ele está certo”, teria dito Aras. 

Jair Bolsonaro foi então avisado pelo seu aparelho militar que haveria uma dura repressão às hordas de apoiadores seus que compareciam a Brasília convocados por ele e por meio de suas redes e de seus perfis golpistas em aplicativos de mensagens. Fux fez seu recado chegar, com idêntica gravidade, ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. “O que ele quer que eu faça?”, chegou a perguntar Ibaneis a um interlocutor comum dele e de Fux. E ouviu uma resposta em revés: “que ponha a Polícia Militar para controlar o povo na Esplanada e mantenha a terceira e última barreira de acesso ao Congresso e ao STF”, mandou dizer o presidente do Supremo à época”, acrescenta o texto.

Além disso, antevendo a possibilidade de conflitos, Aras teria agido desde maio de 2021 para evitar o apoio de policiais militares aos atos de 7 de setembro. 

O procurador-geral do Ministério Público Militar, Marcelo Weitzel, foi despachado para rodar o País e esteve reunido nas 27 unidades da federação com todos os comandantes das PMs. Ele pediu que, entre 6 e 8 de setembro de 2021, todos os soldados da ativa, de todas as forças estaduais e do DF, estivessem aquartelados e em regime formal de prontidão. Mantidos assim, em prontidão, os policiais militares não poderiam estar presentes aos eventos que Bolsonaro convocava e teriam de seguir as ordens de seus comandantes diretos. Caso contrariassem aquelas ordens, enfrentariam a Justiça Militar”, explica a reportagem.

Ainda, procuradores-gerais de Justiça de todos os estados e do Distrito Federal foram convocados a Brasília no início de agosto de 2021, para uma reunião na sede do STF com os ministros Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, que teriam advertido os procuradores estaduais que “desordens e badernas associadas a eventos de cunho golpistas nos estados fariam com que a culpa recaísse sobre os governadores e sobre os comandantes de cada uma das Polícias Militares”.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

6 Comentários

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  1. Matéria do Luís Costa Pinto, jornalista bem conceituado. Mas…fica difícil acreditar no Fux e principalmente no Aras, matando uma tentativa de golpe no peito. Como que um enviado de Aras percorre os 27 estados para praticamente coagir os governadores a aquartelar suas puliça, sem que a informação não chegue ao genocida para denunciar a coação? Como um fato desses leva dois anos para ser revelado, especialmente em se tratando de BSB, que está entre um queijo suíço e uma peneira, quando se trata de vazamento laudatório. Pode não ser, mas bem com cara matéria encomendada, tipo engenheiro de obras prontas.

  2. Essa história evidência o estágio de profundo apodrecimento das instituições brasileiras após o golpe de 2016, que foi executado “com o STF, com tudo”. Quando a investidura no poder mediante eleições foi removida de cena por intermédio de uma farsa (o Impeachment sem crime de responsabilidade), o sistema constitucional começou a desabar. Beneficiários desse processo político de desdemocratização do país, Bolsonaro e os generais golpistas que ele comanda perceberam que só faltava chutar a porta do STF para o Estado democrático inteiro desabar. Nós sabemos o que eles pretendiam colocar no lugar. Nós seríamos as vítimas preferenciais do regime criminoso que estava sendo construído. Aras pode ter ajudado a desmobilizar o golpe, mas ele não fez nada contra a estruturação da vigilância política em massa organizada pelo bolsonarismo sob o comando do general Heleno. Fux certamente agiu bem ao repelir a ameaça de invasão do STF, mas ele manteve a prisão de Lula para impeedi-lo de disputar a eleição contra o capitão genocida. 700 mil mortos e ninguém parece querer mais responsabilizar aqueles que usaram a pandemia para reduzir as despesas orçamentárias com os pobres deixando-os morrer. O desprezo pela vida das pessoas comuns no Brasil é tão grande, que Bolsonaro será punido por um crime menos grave. Isso é realmente asqueroso.

  3. A notícia surpreende e o crer ou não crer recebem 50% para cada um.
    A razão está sempre com dois lados, até que a verdade se manifeste.
    Tem gente séria endossando o acontecimento, ainda que o retrospecto de algumas pessoas envolvidas pareça não ter topete pra tal atitude.

  4. Eu imagino que o Augusto Aras começou a colocar suas barbas de molho quando percebeu que estava se bolsaronando demasiadamente, o que atrapalhava sua intenção de se manter no cargo, no governo Lula.
    Quanto a Luiz Fux, eu penso que ao perceber que o seu tímido exercício na presidência do STF iria ser um dado negativo em seu currículo, ele reagiu e fez o que ninguém esperaria dele, ou seja, mostrou que tinha topete para encarar situações de extrema tenção e perigo. Talvez, nem ele sabia que poderia chegar a tanto.
    Portanto, de foi assim que aconteceu, agradecemos e parabenizamos a ambos.

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