Lula: “Cada empresa lá fora era uma bandeira do Brasil num outro país”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Tereza Cruvinel

Do Brasil 247

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez hoje para o 247 uma defesa de sua atuação em favor da maior inserção das empresas brasileiras no exterior, destacando os ganhos obtidos com isso pelo país e lembrando que se tal atividade dos presidentes fosse criminalizada em outros países, Bill Clinton não teria se empenhado para que a americana Raytheon vendesse o SIVAM para o Brasil.

– Tenho orgulho de ter sido o presidente que mais trabalhou para abrir mercados para as empresas brasileiras no mundo. Quero ser lembrado como o presidente que mais levou comitivas de empresários, dos mais diversos setores, em suas viagens. Levei centenas de empresários comigo à China, à Índia, à África, aos quatro cantos do mundo.

Depois de desfiar alguns números, Lula acrescenta:

– Cada empresa brasileira que conquistava mercado lá fora para nós era uma bandeira do Brasil fincada num outro país. Eu dizia ao Furlan e ao Miguel Jorge: vocês têm que ser verdadeiros mascates do Brasil. E eles também saíram pelo mundo fazendo isso.

O empresário Luiz Fernando Furlan foi primeiro ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio de Lula, substituído no segundo mandato pelo executivo Miguel Jorge. Em 84 viagens internacionais, Lula recorda ter levado comitivas empresariais, o que dá uma média de dez por ano, ou quase uma por mês. Ele cita de cabeça alguns números, como o salto do fluxo de comércio internacional do Brasil, que em seus dois mandatos passou de US$ 107 bilhões para US$ 383 bilhões. Recorda que em oito anos o saldo na balança comercial passou de US$ 1 bilhão para US$ 35 bilhões. Que embora o comércio com a Europa tenha triplicado de volume, e tenha aumentado também com os Estados Unidos, parceiros tradicionais do Brasil, houve uma diversificação de relacionamentos. Com a China, o comércio bilateral passou de US$ 3 bilhões para US$ 49 bilhões entre 2002 e 2013, e com a África de US$ 2,3 bilhões para US$ 11 bilhões no mesmo período. E ao final arremata, citando o exemplo de Clinton.

– Se os presidentes da República tivessem que ser criminalizados por ajudarem as empresas de seu país, o Bill Clinton não teria ajudado a americana Raytheon a vender on Sivam para o Brasil.

A compra do Sivam – Sistema de Vigilância da Amazônica -resultou no primeiro escândalo de corrupção do governo Fernando Henrique, em 1998.

A atuação internacional de Lula vem sendo questionada desde o início da Operação Lava Jato. Desde então, só a revista Veja já publicou cinco capas especulando que um dos presos vai denunciar Lula, envolvendo-o com os casos investigados pela operação. Em uma, o personagem foi o doleiro Alberto Youssef, depois o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, seguido de Ricardo Pessoa, da UTC, de Leo Pinheiro, da OAS, e agora do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

15 Comentários

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  1. Já podemos escrever sem medo de errar:

    em dois mandatos na presidência Lula foi um estadista.

    em dois mandatos na presidência Dilma foi uma ministra da casa civil.

    E para medir o autismo da Dilma, em vez de ouvir um estadista, ela prefere ouvir Mercadante e Cardozo.

    Só não renego meu voto por que Marina Silva e Aécio eram duas aventuras a serviço dos EUA e de Wall Street.

    Triste fim do PT como partido de governo.

  2. Cada vez que penso que muitos

    Cada vez que penso que muitos líderes (homens e mulheres) do PT, podiam fazer muito melhor que essa deslumbrada, me desespero.

    A  mosca azul picou e ela virou uma “ACM de saias”, literalmente. Com os defeitos mais vulgares do velho, sem a única qualidade que ele tinha, Carisma com o povo.

    1. Nunca mais na história deste

      Nunca mais na história deste Brasil haverá uma presidenta tão fraca quando DILMA. Esse governo DILMA será mencionado nos rodapés dos próximos livros de história do Brasil: * DILMA: foi presidenta do Brasil por 8 anos. Foi a mandatária com o menos índice de aprovação da história, e terminou os 2 mandatos com taxa negativa de crescimento do PIB e da Renda Nacional.

  3. Se depender do PSDB/Serra,

    Se depender do PSDB/Serra, vários países, principalmente os USA, fincariam às suas bandeiras dentro do território brasileiro.

    E esse senador, para parte da população de SP, é um excelente representante do estado.

  4. Lula, um homem e um projeto de país sob ataque

    Lula, em seu primeiro mandato, não escolheu como opção de governo um projeto socialista, mas sim um projeto econômico que visava a expansão e fortalecimento do  capital nacional, isto cumulado com uma política com claro viés da social democracia europeia, ou seja, proteção social e direcionamento das politicas públicas do Estado em suas tarefas básicas, saúde, educação e sustentabilidade social (empregos e assistência social).

    Em termos exatos,  inegavelmente escolheu a prioridade a ser dada a todo o parque empresarial nacional, em detrimento da anterior escolha de Fernando Henrique Cardoso, que seguia a receita precípua de abrir o país, principalmente ao capital internacional, situação esta que colocava o capital nacional em desvantagem.

    Fernando Henrique, entretanto, reservava pequenas parcelas a este segmento do capital nacional, para fins de tentativa de cooptação ao seu projeto.

    Assim, permitia a assunção do controle de parcela das grandes empresas estatais privatizadas e de nichos de mercado para os parceiros que se adequassem ao seu projeto de poder, o que excluia a imensa maioria do grande empresariado brasileiro, mas lhe permitia manter determinados laços com alguns grandes conglomerados.

    Em 2002, a eleição presidencial deu-se dentro de tal conjuntura, aonde, indubitavelmente, o capital nacional escolheu o projeto encabeçado por Luís Inácio Lula da Silva, não por suas ideias de cunho social, ou de simpatia por seu projeto de país, mas sim, por uma singela questão, tratava-se simplesmente de sobrevivência.

    A escolha por Lula, revelou-se acertada, tanto para estas empresas quanto para o fortalecimento do Estado  Brasileiro, e, efetivou-se de tal forma que o país passou a ser reconhecido internacionalmente como força econômica emergente.

    Desta visão politica, com a evidente opção pelos empresários nacionais, e, com a necessidade de grandes inversões de recursos destinada a infraestrutura, decorreu o fortalecimento e expansão das grandes empreiteiras.

    Tal conformação politica teve desenrolar relativamente tranquilo, inclusive por ocasião do segundo mandato de Lula, onde ainda era forte o sentimento de antagonismo desta parcela empresarial com seus antigos desafetos internacionais.

    Entretanto, como sói acontecer, o pensamento liberal destas grandes empresas, que tendo considerado que estavam no controle do sistema econômico nacional, baixaram a guarda e retiraram parte do apoio tácito ao atual governo, buscando ampliar sua influência e controle do aparelho de estado.

    Fatal engano, neste breve momento, o bloco representante dos interesses internacionais, através de manobras institucionais e, com amparo em forte aparato midiático, jogou todas suas cartas, e, por impressionante que pareça  encontrou os grandes empresários nacionais sem defesas, ante o inusitado e a virulência do ataque.

    É que, o ataque serviu-se da famosa estratégia, dividir para conquistar.

    Primeiro dividiu o bloco governo/capital nacional, fazendo esta parcela do empresariado nacional, unir-se aos antigos adversários, no canto de sereia de ataque a politica econômica do governo, de fortalecimento estatal.

    Segundo, sob a aparência de unidade e ataque conjunto ao governo, conseguiu, por paradoxal que seja, que seus agentes fossem fortalecidos por estas mesmas empresas, que acreditavam que estes atuavam em defesa conjunta de seus interesses.

    Ledo e fatal engano, os interesses eram outros e inconfessáveis.

    Agora que já foram quase feridas de morte, tentam repensar suas estratégias e detectar as traições.   

    Assim, neste momento, o país assiste o contra ataque do capital internacional, buscando obter as mesmas condições do governo FHC, ou seja,  frente a crise mundial, voltam com toda sua força, seus olhares e estratégias para o local mais florescente do planeta, o Brasil, e  óbvio, destroem a concorrência.

    Anoto, por oportuno, frente ao quadro acima, que não havia nenhuma incongruência ou problema em Lula apoiar as empresas brasileiras, afinal, isto fazia parte de seu projeto de governo.

    A grande imprensa sabe disso, mas não obstante tal fato, tenta, de forma abjeta, incriminar o ex-presidente.

    Resta claro, ao fim e ao cabo, que estamos frente a uma disputa pelo Brasil, o qual, de qualquer sorte, não restará ileso desta luta, que se revela  sem quartel e desenvolvida nos subterrâneos das disputas econômicas dos grandes conglomerados.  

    A mídia, simplesmente ignorará tal disputa, na forma como ela está se desenvolvendo e apenas noticiará os fatos de acordo com os interesses que defende, ou seja, em hipótese alguma aventará a verdadeira disputa.

    Demorou para as grandes empresas entenderem o jogo e estruturarem suas defesas.

    Entretanto, neste momento, ao que se assinala, as empresas Odebrecht e Andrade Gutierrez compreenderam que não restara espaço algum para elas, no futuro quadro nacional.

    Se pensaram, num primeiro momento, que poderiam ser sócias desta nova formação econômica, logo após os movimentos iniciais dos adversários, devem ter verificado nitidamente que não lhes restava reservada nenhuma fatia, apenas papeis subalternos e subserviência.

    Ora, em tal cenário, o único espaço em que estas empresas podem lutar para sobreviver, é dentro do Estado Brasileiro, e, agora, eles tem que repensar suas estratégias e, à todo custo, manter o atual pensamento econômico no poder.

    Anoto que, ainda não foi escancarada, nem sei se será,  tal disputa, mas, a partir da ultima movimentação da Odebrecht  e Andrade Gutierrez, pode-se  notar que o momento de definição esta próximo e ao que parece não será de capitulação.

    A capitulação significará a morte, e a isto, estas empresas, que tem caráter familiar não se submeterão.

    Reitero que, de tais iniciativas, pode-se subsumir que as empresas nacionais  teriam verificado que não vai sobrar nenhuma após a golpe que esta sendo aplicado.

    Que estas reajam enquanto tem forças e ele – o golpe –  ainda não foi executado em sua totalidade.

    O atual governo,  sem tais apoios para seu projeto de país, na forma em que concebido pelo Presidente Lula, a princípio, não tem como resistir a esta nova conformação politico-financeira.

    Entretanto, talvez, mesmo neste caso de derrota quase integral, reste ainda um espaço ainda não explorado, ou seja, a escolha de novos parceiros para o país, sendo que nesta nova conformação, que não pode ser descartada em sua totalidade, pode ser incluído um novo componente na disputa, e que pode neutralizar, em parte, tais manobras.

    O capital internacional, que vai ocupar estes nichos de mercado, talvez, não necessariamente, seja dos que travaram a guerra, mas sim de outros concorrentes, o que pode fazer parte de uma nova forma de resistir a estas investidas.

    Fica o ensinamento de Saramago. “Se podes olhar, vê, se podes ver, repara.”

    1. Muito bom

      Fez uma excelente síntese do que pode desenvolver daqui em diante. As empresas nacionais vão se entregar as forças internacionais apoiadas pela imprensa brasileira e PSDB ou reagir e perceber que o melhor modelo de governo é o nacionalista apoiando o PT? Na minha opinião, é imcompreensível terem abandoando o PT para apoiar esta corja da direita, se nunca ganharam e cresceram tanto como neste governo. Nassif, por favor, ponha este material do Sergio Medeiros como post. 

  5. empresas

    Promover empresas nacionais em outros países é obrigação legítima de quaisquer presidentes.

    Neste item, pode-se dizer sem nenhum problema: “O resto é intriga da oposição”.

    (Só não precisava era dar ajudinha à IURD para conquistar o continente africano.)

    1. Uai sô

      Se é obrigação, por que FHC não fez isto? Fez justamente o contrário? E até coagindo quando ainda presidente, os mesmos que contribuiram com o Lula, a contribuir para ele? Há, já sei, provavelmente pensando, em se José Serra ganha-se em 2002, as mamatas das PRIVATARIAS TUCANAS continuariam.

  6. FHC deu férias remuneradas de

    FHC deu férias remuneradas de oito anos para toda a diplomacia  e para a policia federal. Aderiu ao tratado de não proliferação de armas nucleares sem contrapartidas e sem negociação. Estava em vias de aderir a ALCA e acabar com a cadeia produtiva industrial nacional em um par de anos. E reclamam de um presidente que ajuda as nossa empresas. Estão loucos? Até quando esse frenesi golpista?

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