Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
[email protected]

Mercado não tem voto, não elege presidente, mas pode atrapalhar a governabilidade, por Francisco Celso Calmon

Uma vitória no 1º turno não deve ser a negação de anseios social-democratas dos trabalhadores; garantia da democracia dependerá da militância

Foto: AbsolutVision on Unsplash

Mercado não tem voto, não elege presidente, mas pode atrapalhar a governabilidade

Por Francisco Celso Calmon*

Os golpistas estão voltando à cena do crime sem fazer autocrítica, sem terem sido julgados, condenados e punidos.

Como ficarão perante o tribunal da história?

Com o golpe de 2016 a redescoberta de que a luta de classes é um fenômeno objetivo e que a conciliação é um método político que propicia a traição e a derrota das classes trabalhadoras, parecia que a lição tinha sido aprendida.

Com o retorno do Lula à liberdade, suas condenações jurídicas canceladas e a sua candidatura à presidente da República alçada, a lição foi esquecida, os mesmos estão voltando e a esquerda parece amordaçada. 

O PT nunca navegou bem nos mares da economia e do direito. Dirigentes e quadros conhecem pouco de economia e direito.

As escolhas para dirigir a política econômica, a justiça e a segurança, foram exatamente pelo viés direitista, tanto no governo Lula quanto no da Dilma.

As escolhas para o Judiciários foram as mais catastróficas. O método de seleção absolutamente amador e subjetivista. Na maior demonstração de que desconheciam (ou desconhecem ainda) que são esses dois campos nos quais a luta de classes se desenvolve agudamente, cujo empoderamento resulta na correlação de forças.

Eleitos pela esquerda, Lula e Dilma, fizeram um governo violino, tocaram pela direita nesses dois campos.

Embora a História não admitia contrafação, a análise permite, portanto, podemos fazer um exercício de suposição, de abstração, e imaginar e perguntar: o que teria sido o Brasil com um judiciário garantista?

 Foram 33 indicações para os tribunais superiores e 13 para o STF.

Se as seleções tivessem sido com o olhar da luta de classes, com a responsabilidade histórica de uma conjuntura favorável, o “mensalão” não teria sido como foi, o Judiciário não teria chancelado o golpe e nem a prisão e condenação do Lula.

Sobretudo não haveria um genocida no poder!

Mas eles estão voltando. Atrasados e já querem ser timoneiros.

Temer e Meirelles, inglórios traidores e golpistas, não se envergonham do que fizeram contra os direitos dos trabalhadores, não se envergonham da política privatista do patrimônio estatal, não se envergonham de priorizarem pagamentos dos juros ao capital financeiro em detrimentos das políticas sociais para o povo, que voltou ao desemprego e à fome, por fim, o pior: engessaram o teto de gastos da saúde e educação.

Por que não limitaram os pagamentos de juros, por que não há tetos para essa sangria hemorrágica do PIB?  Por que não há imposto sobre as grandes fortunas dos 1% mais rico? Por que não alteraram a tabela de imposto de renda, elevando as alíquotas inferiores e criando novas para os que ganham 30, 50, salários mínimos ?

Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn

As contrarreformas começaram com essa perniciosa dupla.

A história não é feita de cortes, Bolsonaro foi parido durante o governo Temer.

A “ponte para o futuro” é antítese de um projeto social-democrata. Os inglórios voltarão a conduzir a política econômica?  

Temer foi o cabo Anselmo da Dilma e da democracia, Meirelles foi o Ustra dos trabalhadores durante o governo Temer.

Os ‘cabos Anselmos’ da democracia e os ‘Ustras’ da economia não deveriam ter lugar nesta travessia.

Não há governo acima das classes, priorizar umas ou outras é inevitável, meio termo é ficar na corda bamba, no alto risco do fio da navalha.

Ser pendular, é ser frágil, é atrair raios golpistas, é mister ter um norte.

Com o frentão formado não há outra possibilidade senão a de ser um governo de transição.

Transitar para onde, eis o desafio da correlação de forças.

Se a esquerda durante essa travessia não disputar com a direita os rumos do país, pode significar perda de musculatura para o posfascismo. 

A direita e os conciliadores de sempre têm uma forte aparelhagem de lobby, se a esquerda não contrapuser desde já, pode perder o trem dessa nova quadra do devir do país.

Mirem-se na história!

A vitória no primeiro turno não deve ser a negação dos justos anseios social-democratas dos trabalhadores.

O imperialismo e o fascismo não desaparecerão com Lula no governo.

A garantia da democracia dependerá da militância da esquerda, organizada pela base em comitês populares.  

*Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem um ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Leia Também

A primavera da esperança, da alegria, do samba e da decisão, chegou para desabrochar, por Francisco Celso Calmon

Os retardatários são bem-vindos ao Lula-já, por Francisco Celso Calmon

A volta: da ditadura ou da democracia? Nestas eleições a opção é binária, por Francisco Celso Calmon

Troféu Pinóquio fascista, por Francisco Celso Calmon

Independência ou Morte? A independência não ocorreu, as mortes, muitas, em forma de genocídio, por Francisco Celso Calmon

Lembrar para não esquecer, lembrar para não repetir, lembrar para reparar, lembrar para fazer justiça, por Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O comportamento do Brasil diante de si mesmo, como se fosse uma terra de ninguém, uma pátria despossuída. Em que os interesses divergentes à partir da luta de classes é negado através do atropelo pelos mais poderosos, dessa participação dos segmentos da sociedade excluídos das decisões. A privatização do Estado, transformado em patrimônio das elites do País, que se apropriaram da destinação do País sem necessariamente ter algo ou algum caminho a propor a esta vasta sociedade. Uma formação de castas que defendem seus interesses e sua manutenção, não na disputa , mas nessa promíscua relação de troca, o toma-lá-dá-cá tão característico no País. Perde toda a sociedade, em que um País rico apresenta uma incapacidade de conduzir o próprio destino e se apresentar de forma altiva, angariando a devida importância na correlação de forças no mundo. O mercado é um hóspede da embarcação, irá para onde for o barco. E estará no barco que estiver, se for um local ótimo será nessa qualidade e se menos também. Chegou-se a essa situação, em que até mesmo a decisão popular agora depende, não da segurança jurídica do País e das instituições, mas de agradar a essas castas dominadoras com seus interesses representados. Tudo é uma questão de escolha, de qual escolha o País seguirá; continuar fingindo ser uma democracia se apequenando e perdendo significância frente aos demais países. Se apossar de um projeto de Nação e trabalhar por isso.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador