Nassif: Moro foi garantia de consultoria para negócios com empreiteiras

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Atuação de ex-juiz na Alvarez & Marsal serviu como garantia para investidores comprarem empreiteiras afetadas pela Lava-Jato

O ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

A remuneração do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro enquanto atuou na consultoria norte-americana Alvarez & Marsal foi um dos temas da TV GGN 20 horas desta quarta-feira (26/01).

O programa conduzido pelo jornalista Luis Nassif também contou com as participações do jornalista Marcelo Auler, do vereador e ex-senador Eduardo Suplicy (PT) e do economista Paulo Nogueira Batista Junior.

Sobre os dados de covid-19, o Ministério da Saúde não tinha divulgado as informações brasileiras até a abertura do programa. No mundo, a média de casos em sete dias chegou a 2,831 milhões, alta de 10,9% em sete dias e de 22,1% em 14 dias. Dos 20 países com maior crescimento, 16 estão na Europa.

O salário de Sergio Moro nos EUA

Sobre os ganhos do ex-juiz e atual presidenciável Sergio Moro (Podemos), Nassif lembra as declarações do ex-ministro em suas redes sociais. “Ele fala no Twitter ‘é uma mentira que a Odebrecht está me pagando (…)’ Nunca ninguém disse que a Odebrecht que pagou”

“Ele (Moro) desmente algo que não foi dito para parecer que aquilo que foi dito é desmentível”, diz Nassif. “O que está todo mundo dizendo é o seguinte: ‘você está sendo remunerado pela empresa que foi contratada para recuperar a Odebrecht’. Esse é o ponto”.

Neste caso, Nassif lembra que o que Moro ganhou foi um cargo na empresa em questão, a consultoria norte-americana Alvarez & Marsal. “Um cargo similar ao que o contratou, paga entre US$ 300 mil e US$ 500 mil por ano, o que equivale a um salário de R$ 150 mil a R$ 220 mil por mês”.

Contudo, o ponto central envolve a criação de uma sociedade de propósito específico para aplicação – uma empresa que você monta na Bolsa de Valores para captar dinheiro sem dizer onde você vai aplicar. O chamado cheque em branco do mercado.

“O que essa Alvarez & Marsal vai oferecer para a clientela dela: a compra dos ativos bons das empreiteiras brasileiras quebradas pelo Sergio Moro”, diz Nassif.  “Eles separam as empreiteiras na parte boa e na parte ruim. A parte boa é uma que você pode salvar das multas, das condenações impostas pelo Sergio Moro. Dessa parte boa, essa Alvarez monta esse fundo dela e vai adquirir a parte boa”.

“Aí pagam os controladores, que pegam o dinheiro e vão tentar quitar as dívidas deles com o governo, essas dívidas impostas pelo Sergio Moro”, lembra Nassif.

Uma operação como essa é bastante complexa, e exige que o investidor tenha a certeza de que não serão dados passos em falso. “Essa é a razão de terem contratado Sergio Moro para os EUA, porque ele não tem competência para outro tipo de trabalho mais sofisticado”, diz Nassif.

“Então você fala ‘quem trabalhou com a gente nesse período foi o Sergio Moro, que é um juiz que quebrou todas essas empreiteiras’. E daí se explica porque Alvarez & Marsal resolveu bater bumbo com a contratação do Sergio Moro”, diz Nassif, ressaltando que a presença de Moro seria uma espécie de garantia (o chamado sponsor) para a segurança da operação.

“As empreiteiras, em questão de três, quatro semanas, elas já começaram a procurar fundos de investimento para esse trabalho de capitalização. E essa empresa sai na frente”, diz Nassif.

“Essa empresa (Alvarez & Marsal) ganhou até agora R$ 65 milhões com a recuperação, com esse trabalho de recuperação das empreiteiras. Isso não é nada pra ela”, diz Nassif. “Toda jogada consiste em ela entrar, conhecer e depois montar a operação para a compra dessa empresa”.

Nassif lembra que todo o processo ocorreu graças à articulação do Departamento de Justiça junto aos Ministérios Públicos dos diversos países.

“O Departamento de Justiça monta toda a orientação para os Ministérios Públicos, e sugere a esses Ministérios Públicos indicar grandes escritórios de advocacias americanos, ligados ao Departamento de Justiça pela chamada ‘porta giratória’ – onde membros do Departamento de Justiça que saem, vão trabalhar nesses escritórios, e depois voltam…”

Assim, essa operação foi a maneira que Moro encontrou para montar algo que permite o controle sobre as empresas, fazer negócios, e abrir uma ‘porta giratória’ para procuradores e juízes nacionais.

“Você, caro procurador que um dia acreditou na Lava Jato, que brigou nas listas do Ministério Público em defesa do Dallagnol; você, juiz que achou que com o Moro agora iria haver um novo protagonismo para o Judiciário, saibam: vocês foram usados”.

“Eu já fiz um desafio aqui: (Moro) venha a público e mostre o contracheque”, diz Marcelo Auler. “Aceita participar de uma coletiva em que as pessoas possam perguntar o que quiserem (…) Ele não quer ser presidente da República, ou ele vai ficar caladinho?”

A arapuca da OCDE

O economista Paulo Nogueira Batista Junior conversa com Nassif e Auler a respeito da ida do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que foi muito celebrada pelo governo Bolsonaro.

“O que aconteceu foi apenas o início, a um anúncio por parte da OCDE que está disposta a iniciar conversas, e a verificar se o Brasil se adapta ou não aos inúmeros requisitos que a OCDE estabelece”, diz Paulo Nogueira Batista Junior, lembrando que o pedido inicial de ingresso à organização foi feito durante o governo Temer, em 2017, e esse processo ainda vai levar alguns anos.

“No meu entender, é um presente de grego. É como se você adquirisse um ‘prestígio’ de estar em um clube de ricos, mas em troca você abre mão de uma série de possibilidades de política econômica”, diz Paulo Nogueira. 

“É uma fria, não vale a pena para o Brasil no meu entender buscar esse objetivo, mas o viralatismo nacional é tal que uma notícia de que a OCDE aceita começar a conversar é recebida como se fosse uma vitória da diplomacia brasileira – é mais um sintoma da falta de noção das camadas dirigentes brasileiras sobre o que é um processo de desenvolvimento nacional”, ressalta o economista.

A OCDE foi criada em 1961 à imagem e semelhança dos países desenvolvidos, que ditam as regras e, segundo o economista, os emergentes que integram o grupo “são coadjuvantes em um processo que já está consolidado”.

Na prática, os países que integram a OCDE colocam em prática a agenda neoliberal, o que leva à limitação de uma série de políticas governamentais. “Na verdade, você perde espaço de política econômica em troca do prestígio de participar de um clube (…)”.

Renda básica universal

O vereador e ex-senador Eduardo Suplicy conversa com Nassif e Auler a respeito da renda básica, que caminha para se tornar um grande instrumento global de combate à pobreza.

Depois de ler um trecho de um livro escrito pelo Papa Francisco, chamado “Vamos Sonhar Juntos”, onde o pontífice aborda a questão da renda básica, Suplicy explica que conversou com o ex-presidente Lula Sobre a divergência entre Bolsa Família e a renda básica.

“Na ocasião, eu disse a ele que vou apoiá-lo para ser candidato a presidente. Eu perguntei e ele afirmou que vai colocar a regulamentação em prática da 10835/2004, sancionada por ele dia 08 de janeiro de 2004, aprovada por todos os partidos em novembro de 2003 na Câmara (…)”

A lei citada pelo ex-senador institui a renda básica de cidadania, “que se constituirá no direito de todos os brasileiros residentes no País e estrangeiros residentes há pelo menos 5 (cinco) anos no Brasil, não importando sua condição socioeconômica, receberem, anualmente, um benefício monetário”

O ato citado pelo ex-senador Suplicy foi sancionado pelo ex-presidente Lula, e pode ser lido clicando aqui

Acompanhe mais do debate sobre a entrada do Brasil na OCDE e sobre o programa de renda básica universal na íntegra da TV GGN 20 horas.

Clique aqui e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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