NYT tenta desvendar se haverá golpe no Brasil: “Bolsonaro está cada vez mais dividido”

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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NYT conversou com mais de 35 autoridades brasileiras e fala em "danos duradouros à democracia do Brasil"

“Uma dúvida paira sobre as eleições no Brasil: Haverá ou não golpe?”, é a manchete do New York Times, que chegou a estampar, nesta semana, a página principal do considerado mais importante jornal do mundo.

“O presidente Bolsonaro alertou para a possibilidade de fraude e deu a entender que contestará os resultados se perder. A elite política considera que não tem apoio para tentar se agarrar ao poder”, é a linha-fina do titular, assinado por Jack Nicas e André Spigariol.

Spigariol disse que, nas últimas semanas, eles conversaram com mais de 35 autoridades de alto escalão do Brasil, entre ministros, generais, juízes, diplomatas e parlamentares, para respoder a essa pergunta.

E, assim, narram os riscos que corre a democracia brasileira em meio à eleição “mais dividida de seus últimos 30 anos”. Ainda assim, a conclusão dessas autoridades consultadas pelo jornal norte-americano é que por mais que “Bolsonaro possa contestar os resultados das eleições”, falta apoio institucional para que ocorra, efetivamente, “um golpe bem sucedido”.

Ou seja, Bolsonaro teria as intenções, faltando somente o apoio institucional e a organização da estrutura de poder suficiente para isso.

Ainda assim, o NYT aponta para “danos duradouros às instituições democráticas do Brasil” que essas ameaças de Bolsonaro geram ao país.

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Entre os entrevistados, o jornal chegou a buscar representantes diretos de Bolsonaro, que “recusaram pedidos de entrevista” e entre alguns membros do Planalto, não houve consenso sobre se há uma intenção “genuína de fraude” ou se as declarações do presidente brasileiro são “simplesmente por medo de perder as eleições”.

Por outro lado, segundo três juízes federais e um alto funcionário do governo, há um movimento de recuo do mandatário de seus ataques, caso o TSE dialogue com os militares.

Citando ainda a Carta da Democracia, assinada por mais de 1 milhão de brasileiros e o ato de nomeação do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, o NYT lembrou que “do outro lado”, “muitos têm armas”, graças à facilitação de compras de armas de fogo pelo mandatário.

Seriam, assim, duas frentes das quais “Bolsonaro está cada vez mais dividido” entre continuar os ataques às urnas ou não.

“Um deles encorajou o presidente a parar de atacar as urnas porque acreditam que a questão é impopular entre os eleitores mais moderados que precisam ganhar e porque a economia do Brasil está se recuperando, o que ajuda suas chances de reeleição, segundo dois principais assessores do presidente .”

“O outro grupo, liderado por ex-generais militares, alimentou o presidente com desinformação e instou-o a continuar alertando sobre possíveis fraudes”, continuou.

O jornal cita, ainda, que nas últimas semanas, Bolsonaro e Alexandre de Moraes teriam começado “a conversar no WhatsApp em um esforço para consertar o relacionamento, segundo uma pessoa próxima ao presidente”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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