O escândalo de espionagem e o Estado ‘Gotham City’

Do site de Arnóbio Rocha

Escândalo de Espionagem e o Estado Gotham City

“Tudo que nos parecia sólido sumiu ao vento como nossos anelos”
(Macbeth – William Shakespeare)

Escrevi recentemente um artigo( Grampos nos EUA, Bem-vindos ao Estado Gotham City) sobre a questão do Senhor Edward Snowden e o tremendo embaraço que ele causa aos burocratas dos EUA, pois expôs ao mundo como o novo Estado, que denomino de Estado Gotham City, funciona, os interesses das corporações privadas e sua fusão com a burocracia estatal, agora sem o menor pudor ou algo que possa ocultar esta realidade.

O Estado Gotham City é a síntese da Crise 2.0, ele é, ao mesmo tempo, causa e resultado da maior crise do Capital desde 1929, uma crise que denomino de paradigmática, aquela que muda e aprofunda os controles do sistema. Do ponto de vista do Estado ele começa a ser forjado no final dos ano de 1970, com a Crise do Petróleo e das Dívidas externas no início dos anos de 1980. Precisamente com Reagan e Volcker(FED) o Goldman Sachs captura o Estado para sí e começa a determinar a ordem do capital financeiro.

Os 25 anos de longo domínio desta lógica de funcionar do Capital encontrou limites na Crise 2.0 e na resistência do velho Estado de Bem Estar Social, que trava a “liberdade” total de movimentos mundiais do Capital. A Crise é o problema-solução, toda uma nova ordem pode advir dela, inclusive a Revolução. Mas, descartada a Revolução de ruptura, o Capital faz a sua própria revolução, ou melhor, impõe uma dura mudança dentro do sistema que lhe mais favorece, em detrimento dos trabalhadores e da sociedade. A face mais visível é a repressão aberta, ou a sutil, a do controle de tudo que acontece na sociedade para melhor dominá-la.

A democracia passa a ser um “estorvo”, os velhos políticos ou as velhas formas de representação são tragados ao caos, esta aparente desordem esconde o “Novo”, um estado controlador, espião, policial que consegue galvanizar as revoltas não contra si, mas contra a própria democracia, vide Egito, Turquia e agora no Brasil. As massas perdidas gritando contra as instituições, contra os políticos, mas não contra o Estado. Aliás, este ganha força com as propostas de intervenções das “forças da Ordem” ou o surgimento de um Batman, de um herói que ajude a criar mais uma “máscara” e proteja o Estado Gotham City.

No meu livro, Crise Dois Ponto Zero – A Taxa de Lucro Reloaded, no Capítulo VI, trato da questão, além da crise em si, aponto os caminhos desta nova ordem Estatal, que busca esconder a ação do Estado com o ultraliberalismo, quase um semi-estado, mas na verdade é um Estado muito mais forte, de exceção, sem democracia, povo e representação. A horizontalidade exigida pelas multidões casa em essência com os desejos da burocracia, numa dominação de massas de forma eficaz, pois se suprime a representação e seus intermediários( Partidos, Sindicatos, Organizações) tidos como desmoralizados, tudo se diluí em “movimento” em “Redes”(M15, 5 S, Sustentável,Tea Party) e “Indignados”, facilitando enormemente a cooptação e o combate de ideias.

A inteligência se dispersa, os núcleos se dissolvem, pois o Estado parece que não é mais uma ação concreta, algo que se pensou antes, agora se materializa. A ilusão de que a informação era para todos, livre, na verdade ela é extremamente controlada, dosada, permitida, mas principalmente VIGIADA. A utopia de movimento horizontal é um mito tolo, os “chefes” , os  ”anonymus” são a ponta de lança da garantia deste novo Estado. Quando um agente sai da ordem, causa um razoável estrago, mas poucos se dão conta do que realmente Snowden nos disse e o que é a essência de sua mensagem, estamos todos DOMINADOS. Alguns brincam de “guerra fria”, como se fosse possível volta a roda da história.

O mundo está cada vez mais próximo de uma ordem neofascista, não nos moldes dos anos de 1930, mas num Estado forte, repressor, controlador de todas as atividades humanas, num aparente consenso autoritário, com as massas pedindo fim dos partidos, da democracia representativa e ao mesmo tempo da “ordem”. Abaixo republico o Capítulo VI do Livro, sendo a minha contribuição para a reflexão, para separar bem os que indignação positiva de coloboração direta, mesmo que involuntária.


Luis Nassif

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