Polícias militares não são a “Coluna Prestes” de Bolsonaro, diz especialista em Segurança

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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À TVGGN, a antropóloga Jacqueline Muniz afirma que as polícias militares e as milícias têm muito mais a perder do que a ganhar se envolvendo no 7 de setembro

Jornal GGN – Antropóloga, professora da UFF e especialista em segurança pública, Jacqueline Muniz não acredita em “insubordinação” das polícias militares no dia 7 de setembro, dia em que o bolsonarismo convoca protestos em mais um ataque às instituições democráticas e à eleição de 2022.

Para ela, as ameaças constantes de golpe feitas por Jair Bolsonaro constituem uma “narrativa do medo” que serve muito bem ao projeto de “terceira via” idealizado pelo establishment. Mas, na prática, o extremista de direita ainda está longe de reunir as condições ideias para se perpetuar no poder por meio da força.

Segundo Jacqueline, os policiais militares – mesmo os radicalizados, que são bolsonaristas antes mesmo do bolsonarismo existir – e as milícias do Rio de Janeiro podem até ter afinidades com Bolsonaro. Mas daí a partir para a “ação direta” que possa lhes custar os cargos ou o faturamento milionário, há uma distância considerável.

No caso das PMs, há uma série de procedimentos administrativos que podem ser acionados para punir rigorosamente aqueles que aderirem ao 7 de setembro golpista.

“Não consigo olhar para as polícias militares – cerca de 650 mil policiais militares no Brasil – e achar que eles são a nova ‘Coluna Prestes’ desvairada, a serviço de um discurso lunático, caminhando pela BR-101 decepando a sociedade”, diz Jacqueline. A alusão à Coluna Prestes remete ao movimento rebelde liderado por tenentistas que percorreram o País na década de 1920, contra elementos da República Velha.

“Tudo depende apenas de uma ‘caneta Bic’. Essa caneta pode ter a tinta do governador. Se o governador resolver brincar de biruta de posto de gasolina em vez de governar, aí temos um problema. [Caso contrário], ele tem todos os expedientes para acabar com uma sublevação”, apontou.

“Há um conjunto de ferramentas de natureza administrativa [que pode ser acionado] e não viola nenhuma garantia individual dos policias.”

Jacqueline lembra que a maior parte da PM mora longe do local de trabalho, não é branca, começou a trabalhar aos 12 anos, veio da periferia, depende de emprego público e é arrimo de família. “Por que um cidadão que ganha de dois a cinco mil reais vai arriscar seu trabalho para brincar de ‘tiro, porrada e bomba’ e ainda correr o risco de ser mandato embora?”, questiona.

“A PM de São Paulo proíbe motim e manifestação política de policiais, pois é deliberada violação e pode levar à desoneração ou sindicância. O governador pode reconvocar todo mundo [que endossar atos bolsonaristas] que hoje está em cargo comissionado [ganhando melhor do que no batalhão]; pode suspender férias; pode mexer em escalas [o que vai prejudicar o segundo emprego dos militares que fazem bico] ou fazer transferências.” Com uma canetada, um policial subversivo pode sair bastante prejudicado.

Da mesma forma, as milícias são uma organização que visa fins lucrativos acima de tudo, e a empreitada golpista ao lado de Bolsonaro poderia prejudicar seus negócios.

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Assista à entrevista completa:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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