Reforma ministerial: um bom começo; por Saturnino Braga

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Bom começo

Por Saturnino Braga

Gostei muito das primeiras escolhas. Joaquim Levi é um economista de linha ortodoxa mas bastante inteligente e sensível para respeitar os compromissos da Presidenta e se adaptar à diretriz política do novo desenvolvimentismo intervencionista e redutor das desigualdades. Trata-se de uma compatibilização nada impossível que Lula conseguiu com Meireles no Banco Central. E Nelson Barbosa no Planejamento faz bem o contraponto na composição da linha principal.

Katia Abreu é uma liderança do agronegócio que não seguiu a fazendeirada retrógrada comandada por Caiado mas apoiou a candidatura de Dilma na disputa histórica. E o Brasil, até que a indústria se recupere minimamente, vai precisar ainda muito do bons resultados do agronegócio. Katia Abreu no Desenvolvimento Agrário seria realmente uma aberração; na Agricultura acho que é uma escolha certa, na linha de unir os brasileiros.

Armando Monteiro é outro nome que se encaixa na preocupação de buscar uma união política de espectro largo com vistas ao enfrentamento das dificuldades graves dos próximos anos: a situação econômica verdadeiramente complicada e a oposição política estimulada pelos poderosos interesses externos que querem derrubar a Petrobrás e dissolver os BRICS.

Unir os brasileiros, para sobrepujar essas enormes dificuldades é a missão maior da Presidenta, e o que se espera dela é que seja, doravante, mais atenta ao seu dever político e menos ocupada com as decisões técnicas. Uma boa notícia para esta expectativa teria saído da conversa amiga e proveitosa que teve com duas lideranças importantes dos movimentos sociais, Frei Beto e Frei Boff. O encontro com eles, somente o encontro já avança nesta direção.

Uma peça decisiva na composição desta frente larga com a Sociedade é o Partido dos Trabalhadores. Um apoio incondicional, uma colaboração ativa e positiva, tão desinteressada quanto possível partidariamente falando, é o que a Presidente Dilma precisa do seu partido neste momento. Há mostras dessa disposição, não obstante as notícias que a mídia veicula e explora sobre descontentamentos internos. A força da liderança de Lula, que compreende perfeitamente esta exigência, e aposta nela, é um trunfo de valor inestimável para o novo Governo.

Será um Governo intervencionista, sim, desenvolvimentista no sentido novo da expressão; um Governo que não se curvará ao deus-mercado, mas um Governo que respeitará a realidade das coisas, a realidade política, a realidade econômica e a realidade internacional; um Governo democrático e progressista mas não um Governo revolucionário; um Governo que venceu uma eleição extremamente difícil mas não fez uma revolução socialista. Um Governo que guarda a memória dos tempos de João Goulart e da experiência de Salvador Allende; um Governo que observa, com simpatia e solidariedade mas com preocupação e discernimento, os embaraços da Venezuela.

Neste governo, os ajustes fiscais necessários não prejudicarão o cumprimento dos objetivos sociais e criarão as condições para a retomada dos investimentos na proporção do que foi realizado nos primeiros dez anos do Novo Desenvolvimento. Joaquim Levi é o ministro certo para isto.

A violência do embate da última campanha presidencial foi extremamente rica em termos de ensinamento político, para o povo brasileiro e para o Partido dos Trabalhadores. E, com certeza, quem mais aprendeu foi a própria Presidenta Dilma, sobre a essência das suas funções, muito mais política e menos administrativa. Esclarecida por esta nova luz, saberá enfrentar e sobrepassar as escarpas montanhosas que se apresentam no início deste seu novo mandato.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. Saturnino Braga

    Há muito não tinha notícias de Saturnino Braga. Em excelente momento ele vem a público defender as escolhas da Presidente Dilma. Embora não concorde com tudo que escreveu, foi muito bom ler o texto desse político que sempre considerei honrado e sério. Minha maior discordância diz respeito à escolha de Kátia de Abreu. É a velha história, ela jé está marcada por atitudes tomadas no passado. Quanto ao Joaquim Levy, espero que Saturnino esteja certo. 

  2. Bem lembrado

    E eu pensei que o homem tinha morrido …  Sory. Seja bem vindo senhor Saturnino Braga, campeão da luta pela redemocratização do Brasil ..

  3. O que é isso Saturnino?????????

    O senhor disse que Kátia Abreu não é retrógada, a Dilma ainda vai nomear-la depois de elogiar o Gilmar Mendes????

    Dizer que o Meireles foi uma boa escolha do Lula, ele foi o maior lobista dos bancos, se não fosse a pressão de um governo do PT e do saudoso José De Alencar os juros estariam ainda mais altos.

    Cadê o nacionalismo PT???? Quem depende do investimento externo para crescer é colônia.

    Infra-estrutura é dever do estado, esperar que o setor privado invista mais que o governo é voltar a “Belle Epóque”.

  4. “Austeridade” branda não traz desenvolvimento

    Concordo completamente com Saturnino no que tange a suas preocupações com a Petrobras e BRICS. No resto, concordo pouco.

    Não há como, via “austeridade”, se alcançar desenvolvimento, e a nova equipe econômica é sinal de “austeridade”: a satisfação de Lagarde com a equipe ratifica o prenúncio. “Austeridade”, em vez de alavancar desenvolvimento, tem provocado miséria mundo afora. Essa equipe, portanto, não está aí para promover desenvolvimento, e o aumento da Selic em 0,5% mostra bem a que veio.

    Nossa política cambial é suicida, o refresco inflacionário que provoca vem acompanhado da desnacionalização da economia. Os capitais que ingressam no país serão sucedidos por crescentes remessas de lucro e, eventualmente, saída dos capitais em si. Afora isso, tais capitais vêm sempre acompanhados de intervenções externas dos países nos quais se originam, como comprovam as intervenções militares e políticas na América Latina. Ademais disso tudo, o rombo cambial só tem feito aumentar com o dólar desvalorizado artificialmente, sufocando as exportações.

    A saída não é arrocho “austero” disfarçado, ou brando, como diria a Folha, mas câmbio realista e adesão decidida ao BRICS e à chamada geopolítica sul-sul.

    (e a inflação, heim? Com todo esse aumento da Selic que já vem de longe, só tem feito aumentar. Parece que os teóricos de política fiscal não se acertaram com os russos, não é mesmo?)

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