SP: o Haiti, o Maranhão e a Cote D’Azur são aqui

Por Obelix

Comentário ao post “Com invasão da Cracolândia, Alckmin insiste em demonstrar que São Paulo é o túmulo da política

Prezados e prezadas,
 
Um dos problemas da indignação cívica e das reivindicações justas (neste caso uma abordagem diferente do caso da cracolândia) é escapar do controle da idealização dos olhares sobre o território e seus problemas.
 
O Governador Alckimin, por óbvio, não é um extra-terrestre que caiu na terra da garoa. Ele é o produto do consenso político da população deste estado, que aceitou seus cacoetes provincianos (aliás, que coisa demodé dividir o mundo em cosmopolitas e provinicianos, parece coisa de coluna social).
 
Vejam o trecho proposto pelo Senhor Nassif:
 
São Paulo é a cidade dos movimentos de saúde mental, a cidade que abriga brasileiros e estrangeiros de todos os lugares, a cidade de movimentos e organizações sociais relevantes, de grupos de opinião modernos, o estado abriga as melhores consultorias, universidades, institutos de pesquisa, as maiores e melhores empresas, a melhor estrutura de cidades médias, as mais amplas estruturas sindicais, da Fiesp-Ciesp, Fecomercio à CUT.
 
Ué, então podemos supor que o conservadorismo atávico, o preconceito racial e social hidrófobo, a partição das cidades em guetos periféricos e centros de urbanismo europeus, as chachinas, o Carandiru, o PCC, O PInheirinho, o pânico sobre rolezinhos, enfim, a violência do trânsito, a reação a tentativa de justiça tributária (IPTU), etc, etc, são acidentes, meras exceções que pulam do meio de um povo capaz, ordeiro, solidário, pesquisador, que geram as melhores soluções, as consultas mais inteligentes, e têm entidades empresariais que se preocupam antes de tudo com o bem estar coletivo, e não com o sucesso negocial de seus pares ou suas visões particulares de mundo?

 
E se assim for, imaginemos então que SP tem tais vantagens como um prêmio divino a boa índole dos descendentes dos primeiros bugres da terra, e não como resultado de um processo de acumulação e exploração permanente das assimetrais capitalistas no interior do país, e com alianças com as elites internacionais, e que ao menor sinal de ruptura deste sistema de privilégios regionais, SP põe-se em Marcha com Deus, ou vai às armas como em 32, ou enfim, vai aos tribunais como fez a FIESP?
 
Podemos chamar de “acolhimento” o tratamento dispensado a gigantesca leva de “baianos” que aqui chegou para lavar, passar, construir, esfregar, desestupir, abrir portas, dirigir, e toda sorte de trabalhos subalternos que os “amigos paulistanos” enriquecidos não queriam fazer?
 
Ou podemos dizer que é “acolhimento” o que acontece com os bolivianos? Será que lhes falta (além do contexto histórico) olhos azuis e algum tipo de “charme” europeu?
 
Pois é.
 
Por outro lado, a idealização sobre outros governadores é igualmente estranha.
 
Sérgio Cabral vai deixar como legado uma ação militarizada e brutal, de ocupação de território (UPP), que depois do sucesso rápido que legitimou a ampliação, chegou onde era previsto: um fracasso por onde quer que se olhe, pelo alto custo humano e material de se manter faixas urbanas ocupadas, e pelo motivo menos óbvio: que não adianta colocar band-aid em hemorragia.
 
Não há uma ação de humanização na abordagem com o usuário, e nem uma visão modernizadora do combate ao comércio de drogas.
 
Nem no RJ, muito menos em MG da Anastasia ou no Pernambuco de Eduardo Campos.
 
Onde quer que se olhe, só há mais do mesmo, e que não difere muito do que Alckimin faz por aqui.
 
Vai ver Alckmin está agindo em nome do povo extra-terrestre que representa, ou de algum povo bárbaro de outro estado ou país, quem sabe do Maranhão?
Redação

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Cadê os ‘especialistas’ que

    Cadê os ‘especialistas’ que pediram intervenção no Maranhão.

    Ah! Aqui no estado de São Paulo não pode. Se o interventor nomeado cancela o imprensalão, a ‘grande’ mídia acaba.

  2. Somos um povo de m… mesmo,

    Somos um povo de m… mesmo, não produzimos nada de bom! Como disse o missivista:

    “Nem no RJ, muito menos em MG da Anastasia ou no Pernambuco de Eduardo Campos.”

    Eu complemento com nem no Oiapoque e nem no Chuí, somos um povo que só produz mesmice.

    Bom mesmo é la no primeiro mundo, temos tantos exemplos de bons governantes, só pessoas de bem, vamos esquecer a história de exploração, de guerras e de saques aos povos africanos, sulamericanos e asiáticos na história. Esqueçam que a situação de países como o Brasil, vem de séculos de exploração, nós queremos ser americanos agora! De uma hora pra outra. Lets go Brazil!

    1. Meu caro,
      Por óbvio

      Meu caro,

      Por óbvio produzimos muita coisa boa. O texto não remete a uma síndrome de vira-latas ou qualquer outra expressão de inferioridade.

      O que há é uma necessidade de cessar a idealização para enfrentar os desafios.

      Somos o que somos, para o bem e para o mal, resultado de todas as explorações ditas pelo Senhor, mas é bom lembrar que o papel de vítima não nos cai bem:

      Nossas elites escolheram a exploração, e nós, a nosso modo preferimos a sublimação de conflitos a construir uma alternativa histórica mais dramática, o que também não nos livrou de outro tipo de violência.

      Não há países-modelo! Nunca.

      Há países onde a violência “deu certo”, como os EEUU, seja para definir em secessão como seriam, seja para se imporem ao mundo (todas as guerras que promoveram).

      Em outros deu errado, como é o nosso caso, com 50 mil mortos por ano.

      Há tentativas como a da Alemanha e do Japão.

      Da Coreia.

      Enfim, temos uma enormidade de casos e cada um com sua especificidade.

      Mas daí a tentarmos construir e alimentar mitos (como o paulistano solidário e inovador, avançado e empreendor, do texto do Senhor Nassif), ou a ilusão do “carioca afável e cordial, receptivo e boa gente”, ou o “mineiro matreiro, ladino e esperto”, etc, etc, só servem para esconder a perspectiva de um olhar sério sobre nós mesmos.

      Foi só isto a que me referi.

      No entanto, cada um acredita no que quiser.

      Eu não quero ser estadunidense (americano eu já sou) ou holandês. Quero ser brasileiro, com todas as contradições a que tenho direito, e tendo a exata compreensão delas.

      Saudações.

       

  3. De certo que o Alkimin não
    De certo que o Alkimin não está lá assim do nada. Características formadoras do perfil político do paulistano médio explicam isso.No entanto a hsitória é dinâmica e esacapa de análises estanques. Acho que estamos assistindo em SP a grande batalha civilizatória do país hoje. Nas figuras do prefeito e do governador De um lado, um esforço para fazer políticas públicas corajosas, todas em benefício da população que precisa do estado. Do outro, um esforço da inércia para manter a modernidade de Sampa acessível a minoria, marginalizando a grande maioria a uma baixa qualidade de vida. Começou com as faixas exclusivas, depois o reajuste do Iptu com foco social. Tudo devidamente boicotado pela elite através do pig. E da justiça (?), claro. E agora a banda podre da policia de Alkmin ataca uma das ações mais humanitárias já feitas por um governante.Se Haddad segurar o tranco, continuar seu projeto e for reeleito, será uma vitória estrondosa para os progressistas, com repercussão para o todo país.Não deixem o Haddad só. Ele está sendo cercado por todo o lado. É a grande chance de São Paulo tornar-se agora sim a locomotiva do progresso social e civilizatório do Brasil. Antes era a do progresso econômico excludentePS: Gunter, o Haddad agora tem mais autonomia. Ele é o topo na linha de comando da gestão de qual faz parte. Quando ministro tinha que responder à orientações superiores. Além do que não era da cúpula que dá as diretrizes do governo, ao conrário do atual ministro da edicação, o Mercadante  

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador