Da Folha
Disposição para negociar com Irã foi curta
Menos de dois meses após a posse, governo Obama já afirmava que manteria uma abordagem “de mão dupla”
A INTENÇÃO DE OBAMA ESBARROU NA DIVISÃO DO PRÓPRIO GABINETE E NA OPOSIÇÃO DE ISRAEL E ALIADOS EUROPEUS
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Durou pouco tempo a disposição do americano Barack Obama de apostar em uma saída negociada, “sem precondições”, para a questão nuclear iraniana, confirmam telegramas divulgados pela WikiLeaks.
A intenção anunciada por ele na campanha esbarrou na divisão do próprio gabinete -a secretária de Estado, Hillary Clinton, sempre favoreceu linha mais dura com o Irã- e na oposição de Israel, das monarquias árabes e de aliados europeus.
EmmaEm março de 2009, menos de dois meses após a posse e antes da mensagem do Ano Novo persa em que ele propôs diálogo aos iranianos, seu governo já duvidava do “engajamento” e buscava ampliar as sanções ao Irã.
O fato consta de um telegrama “secreto” da Embaixada dos EUA em Bruxelas, de 8 de abril de 2009.
O documento relata conversa “confidencial” em 2 e 3 de março do secretário assistente do Tesouro para Crimes Financeiros, Daniel Glaser, com especialistas reunidos pela União Europeia.
Glaser garantiu que Washington manteria a “abordagem de mão dupla” -aceno à negociação conjugada com punições- e disse esperar que a UE designasse novos alvos para as sanções determinadas pelo Conselho de Segurança da ONU.
“O engajamento sozinho tem pouca chance de funcionar”, disse Glaser, acrescentando que a proposta de diálogo não era por prazo indeterminado. “O tempo não está do nosso lado.”
Na resposta à mensagem de Obama, Teerã pediu “atos concretos”. Na época, estrategistas próximos à Casa Branca defendiam que o Irã tivesse reconhecido o direito de enriquecer urânio, em troca de garantias adicionais de não militarização do programa nuclear.
Essa opção não prosperou. A eleição iraniana de junho, com a contestada reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, complicou o cenário.
Em outubro, o Grupo de Viena (EUA, França e Rússia), por intermédio da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), entregou ao Irã a proposta de troca do estoque de urânio de baixo enriquecimento por combustível para o reator de uso médico de Teerã.
Depois de resposta inicial positiva, o Irã passou a exigir a troca simultânea.
No mês seguinte, quando a AIEA iniciou consultas sobre a possibilidade de a Turquia intermediar a transação, a embaixada americana em Paris relatou conversa de Obama com o presidente Nicolas Sarkozy em que este se dizia preocupado com a posição pró-negociação de Turquia, Brasil e China.
Em janeiro deste ano, a embaixada cita um conselheiro presidencial francês dizendo que o Brasil era “ingênuo” e desconhecia os “limites do engajamento” de Obama.
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