Não devemos julgar a classe médica, nem simplificar a saúde

Poslúdio  – A questão da vinda dos Médicos Cubanos para o Brasil

Nesses dias tivemos uma acalorada discussão sobre a vinda de médicos formados no exterior para o Brasil e sobre a saúde pública brasileira nesse espaço democrático que é o Blog de Luis Nassif.

Foi muito importante, pois apesar de alguns excessos, houve o debate.  Com isso verdades desconhecidas por muitos e experiências sinceras de diversos atores envolvidos na saúde mundial e brasileira puderam ser evidenciadas.  Foi gerado conhecimento a ser utilizado por quem governa municípios, estados e o Brasil. E outra função, talvez ainda mais efetiva, é criar consciência real sobre a medicina e a saúde no Brasil, na população brasileira.

Posso afirmar que meu contato com a medicina acontece de forma intensa há cerca de 28 anos. Tudo começou em 1985 quando aos 18 anos entrei no primeiro ano da FMUSP. Essa vivência é tão intensa que em grande parte do tempo sobrepõe minha vida pessoal.  Nossa tarefa é prevenir doenças,  cuidar de pessoas doentes, lutar contra a morte e muitas vezes amenizar o sofrimento de quem está partindo dessa vida. Por viver isso intensamente, acredito que quem escolheu ser profissional da área de saúde deve ser considerado, a princípio, uma pessoa de bem.  Isso me faz também respeitar todos os médicos formados em todas as faculdades e de todos os países.  Tenho segurança nesse sentimento mesmo sem ter tido a oportunidade de conhecer a medicina de outros países.

Não podemos julgar a classe médica, nem tão pouco colocar todas as mazelas da saúde brasileira no fato de existirem maus médicos. Nem simplificar a questão da saúde pública brasileira achando que ela vai ser resolvida com a vinda de médicos estrangeiros de bom caráter. Profissionais de caráter bom e ruim existem em todas as áreas: Jornalismo, Economia, Política, Educação, Engenharia, Sociologia, Direito, Artes, etc. O caráter é uma característica inerente ao ser humano não à profissão.  Para se aprimorar a economia de um país não adianta ficar caçando e culpando economistas de mau caráter, sem planejar e agir. Isso é fugir da questão central e ir ao periférico.  Aprimora-se a economia de um país fazendo um projeto que contemple todos com emprego e renda, que estimule atividades produtivas compromissadas com a sustentabilidade e inovação, garanta uma infraestrutura satisfatória e; educando e dando saúde de qualidade para sua população. E que se criem mecanismos sociais para que os economistas de mau caráter não possam agir.

Por outro lado, todo país tem uma organização institucional para garantir justiça e a proteção à sua população.  Essas instituições têm falhas maiores ou menores.  Necessitam de aprimoramento constante, mas precisam ser respeitadas. Em todos os países existe um rito para validação de diplomas de médicos formados no exterior, é a melhor forma encontrada para possibilitar que profissionais formados em escolas não fiscalizadas por seu governo atenda com segurança seus cidadãos. Romper com isso é causar um descompasso de consequências imprevisíveis e se negativas inaceitáveis, pois se trata da saúde de pessoas.    

Levo para minha vida uma grande lição da Presidenta Dilma, que em seu discurso de despedida na campanha eleitoral de 2010, falou que apesar de tudo que passou: perseguição, prisão, tortura… Não guardava mágoas. Isso foi muito forte, pois com rancor não se constrói nada.

Ministro Alexandre Padilha o senhor é médico, por isso é mais fácil nos compreender.

Presidenta Dilma a senhora é a Presidenta de Todos Brasileiros. É a Presidenta de Nós Médicos Brasileiros. Precisamos dialogar. 

Luis Nassif

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