MPF investiga contaminação de rios no Acre por mercúrio com danos às comunidades indígenas

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Órgãos foram contactados para informações; estudo aponta que ingestão de mercúrio na região está 31,5 vezes acima do recomendado pela OMS

No Alto Rio Purus, os problemas relacionados a questões sanitárias são constantes e com alto índice de mortalidade. Foto: Rosenilda Padilha/Cimi

O Ministério Público Federal (MPF) aguarda respostas a ofícios a órgãos e entidades, enviados no final da última semana, pedindo informações e dados que possam contribuir no inquérito que investiga possível contaminação de rios e peixes pelo metal pesado mercúrio no estado do Acre.

Para o MPF, há potenciais consequências às comunidades indígenas, que sobrevivem desses rios. Estudos indicam que a ingestão de mercúrio em peixes no Acre estaria 31,5 vezes acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), colocando em risco, sobretudo, os povos indígenas.

Segundo o procurador da República Lucas Costa Almeida Dias, esses estudos foram elaborados por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e de outras entidades. Os altos rios Juruá e Purus estão entre os alvos da investigação.  

Consumo de peixe

O consumo de peixes é tradicional e essencial para a sobrevivência da maioria da população indígena no Acre e essa contaminação pode causar doenças neurológicas, além de outras moléstias com sintomas gastrointestinais, renais, e até a morte.

Foram enviados ofícios à Polícia Federal, à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Secretaria de Estado da Saúde do Acre, WWF (Fundo Mundial para a Natureza) e Fiocruz, para que no prazo de 15 dias forneçam as informações de que tenham conhecimento sobre o assunto.

Alto Rio Juruá 

O Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Alto Rio Juruá fica localizado no município de Cruzeiro do Sul, uma cidade rodeada pela Amazônia. Pelo Dsei, é possível acessar as informações populacionais mais atualizadas em face da necessidade da compra de insumos e atendimentos médicos e sanitários. 

O Dsei atende a uma população indígena de 7.224 indivíduos dispersos em 82 aldeias. São cerca de 10 povos, além de população indígena em situação de isolamento voluntário. Todos estes povos são signatários de rios, furos, igarapés e veredas que têm no rio Juruá sua principal artéria. 

Alto Rio Purus 

O Alto Rio Purus está entre os municípios de Santa Rosa do Purus e Manoel Urbano, tendo origem nos Andes. Na Terra Indígena vivem três povos compondo uma população de quase 2 mil indígenas. Em algumas épocas do ano, com as cheias do Purus, o rio é uma fonte essencial de alimentação.  

Não é possível precisar o número de aldeias porque um dos povos, os Madja, as mudam com regularidade por razões de seu modo de vida. No entanto, há cerca de 50 aldeias conforme declarações de lideranças indígenas. Nas cheias, o rio irriga terras agricultáveis tornando ainda mais danosa sua contaminação.  

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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