
do Observatório de Geopolítica
O VAR das relações internacionais
por Felipe Bueno
Era junho de 2019, mundo pré-pandemia, auge das bravatas da gestão passada da Presidência da República. Setores da imprensa e do Estado celebravam o suposto encerramento de uma negociação não só positiva como definitiva para o Brasil, a colocação da nação enfim no patamar mais civilizado do planeta: o acordo de livre-comércio Mercosul-União Europeia.
Não houve FHC, nem Lula, nem Dilma. Seria o ex-capitão, recém-chegado ao clube dos direitistas latinos em voga, o responsável por encerrar vinte anos de negociações, com plenas vantagens para nós. Afinal, o então mandatário garantia ter demonstrado a Angela Merkel, Emmanuel Macron e outros que eram apenas sintomas de “psicose ambientalista” as críticas, fundamentadas em fatos e números, feitas ao governo federal na questão da preservação do meio ambiente.
Gênios locais, ignorantes dos ensinamentos oferecidos pela peça de realismo fantástico latinoamericano chamada Mercosul, comemoravam a vitória de uma nova maneira de fazer relações internacionais. Uma maneira anti “globalismo”, terraplanista e persecutória.
As conversas entre Mercosul e União Europeia começaram em 1999. O mundo era extremamente diferente, não existiam YouTube, Instagram, Telegram, WhatsApp, Facebook – até o veterano Orkut ainda demoraria cinco anos para aparecer. Um mundo mais lento e menos superficial.
De 1999 a 2004, os blocos regionais caminharam pouco um em direção ao outro. As conversas pararam e foram retomadas com a lentidão própria dos acordos internacionais até a tal assinatura em 2019. Agora vai, Brasil, agora vai, Mercosul.
Em tempo: você se lembra do que aconteceu em 26 de março de 1991? Sabe onde estava? O que jantou?
Além do nascimento do flamejante togolês Komlan Agbégniadan, craque do Mimosas, da Costa do Marfim, o calendário aponta a data como a da assinatura do Tratado de Assunção, o capítulo inicial da história do Mercosul – excelente quando esquecemos o passaporte em casa numa viagem a Buenos Aires, mas pouco mais que isso em termos práticos na vida cotidiana de seus cidadãos.
Neste momento é importante lembrar que a União Europeia surgiu oficialmente em 1993, mas teve sua semente plantada mais de quarenta anos antes, com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, unindo o que era possível no continente destroçado pela guerra e dividido entre capitalistas e socialistas.
De volta a 2023, eis que recebemos a visita de Ursula von der Leyen, que não vem para participar das festas juninas tão caras a vários de nossos políticos, mas sim questionar o Executivo sobre o que, de fato, será feito para colocar em pé e em marcha o tal acordo bilateral.
Era junho de 2023, ano em que os fogos de artifício de 2019 não são mais vistos nem ouvidos, até porque até agora não houve vitória nenhuma. O VAR das Relações Internacionais flagrou que o Brasil estava impedido. De novo.
Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.
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