A morte do psicanalista Antonio Lancetti, defensor da luta anti-manicomial

Jornal GGN – Faleceu nesta quarta (14) o psicanalista argentino Antonio Lancetti. Exilado político no Brasil desde 1979, Lancetti foi um dos principais personagens da luta anti-manicomial no país, especialista em ações de enfrentamento da dependência do crack e consultor do programa De Braços Abertos, da Prefeitura de São Paulo.

Quando chegou ao Brasil, o psicanalista entrou na causa de saúde mental, trabalhando com a questão das drogas e do crack, inclusive como consultor do Ministério da Saúde.

Em postagem no Facebook, Rogério Sotilli prestou homenagem a Lancetti, afirmando que ele foi “imprescindível” em seu trabalho à frente da Secretaria Municipal do Direitos Humanos de São Paulo.

“Lancetti não acreditava que um psicanalista alienado politicamente ou de direita, tivesse condições de cuidar de alguém. Ele dizia que compaixão, empatia e visão dos dramas é a linha mínima para alguém poder cuidar de uma pessoa, e esses atributos não estavam ao alcance de pessoas do campo da direita ou que não entendessem a política como algo inerente e necessário para a vida das pessoas”, escreveu Sotilli.

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Da Brasileiros

Perdemos hoje o psicanalista e parceiro Antonio Lancetti

Personagem central da luta anti-manicomial no Brasil e especialista em ações de enfrentamento da dependência do crack, o psicanalista argentino Antonio Lancetti era um dos profissionais que atuavam como consultor do programa De Braços Abertos em São Paulo e frequente colaborador da Brasileiros.

Nascido na Argentina e exilado político no Brasil desde 1979, Lancetti mergulhou na causa da saúde mental, liderando a intervenção que transformou Santos na primeira cidade brasileira sem manicômios. Consultor do Ministério da Saúde, trabalhava com a problemática das drogas e do crack — o grande desafio para as cidades e para a saúde pública em São Paulo e no Brasil. Sua significativa contribuição inclui também a direção da coleção SaúdeLoucura, hoje com 50 títulos, publicada pela editora Hucitec. É autor de “Clínica Peripatética” e “Contrafissura e plasticidade psíquica” entre outros títulos. 

Antônio Lancetti formou-se em 1975, época de grande efervescência política em seu país. Ainda como militante estudantil, começou a ler a obra de Marx ao mesmo tempo em que descobria Sigmund Freud. Embora houvesse grande valorização da psicanálise, surgia no cenário argentino a discussão sobre as práticas de grupo. 

Nesse contexto, Lancetti começou a trabalhar em instituições públicas, embora vivesse o conflito de grande parte dos analistas de esquerda de sua geração. Viveu com um pé no consultório particular e outro no serviço público. No hospital onde trabalhava na Argentina, atuava com crianças. Como era grande o número de pacientes, os profissionais começaram a reuni-los em grupos, constatando melhoras consideráveis.

Foi nesse clima que veio para o Brasil, onde sua primeira atividade foi a apresentação de um trabalho em um congresso internacional sobre psiquiatria e pediatria, em que questionava a narrativa da psicanálise. Embora continuasse atendendo em consultório particular, manteve suas atividades voltadas para o serviço público. Foi o primeiro supervisor da Coordenadoria de Saúde Mental do Estado, na administração Franco Montoro. Foi professor do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, e do Instituto Brasileiro de Psicanálise (Ibrapsi), no Rio de Janeiro, atividades que deixou de exercer para ministrar um curso para formação de agentes de saúde mental com o objetivo de criar quadros para o trabalho na saúde pública. 

Recentemente foi o primeiro entrevistado da série intitulada Psicanalistas Que Falam. Lancetti Brasileiro, idealizada pela psicanalista Heide Tabacof, sua companheira, o projeto reuni registros com profissionais notórios por levar os conceitos da psicanálise ao campo social e humanitário. Todos os capítulos estão disponíveis gratuitamente no Youtube.

Leia matéria sobre o projeto Psicanalistas Que Falam – Lancetti Brasileiro  e o último artigo de Lancetti na Brasileiros defendendo a continuidade do De Braços Abertos.

Redação

3 Comentários

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  1. Descansa em paz

    Precisamos tanto de gente com a cabeça de Lancetti neste mundo… Uma vez, sentada num banco de um parque, um senhor puxou conversa e se saiu com um papo tão reacionario. O que me espantou é que ele disse ser psicologo aposentado… Professor, médico, juiz, psicanalista e psicologo deveriam sempre estar à frente da média.

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