Aparência saudável em fumantes não os isenta de dano celular, diz estudo

Jornal GGN – Um estudo feito por pesquisadores da Weill Cornell Medical College, de Nova York, mostrou que o aspecto saudável de alguns fumantes não significa que o hábito não tenha causado danos celulares nas vias respiratórias com aspectos similares a de um câncer maligno nos pulmões. De acordo com a pesquisa, divulgada nesta terça-feira (16) na revista científica Stem Cell, os danos podem estar presentes mesmo em pacientes que foram atestados em boa saúde pelos médicos.

O estudo fez uma comparação das células que revestem as vias respiratórias de pessoas fumantes consideradas saudáveis com os de fumantes não tão saudáveis, mas sem doença pulmonar detectável. No primeiro grupo, os pesquisadores observaram os primeiros sinais do que os médicos chamam de “imparidade” – estado parecido ao encontrado em pulmões com evidências de câncer. O resultado mostrou que fumar causa danos de qualquer modo, mesmo quando não há nenhuma evidência clínica de que algo está errado.

“O estudo não diz que essas pessoas têm câncer, mas que as células já estão começando a perder o controle e se tornar desordenadas”, diz o pesquisador Ronald Crystal, presidente e professor de medicina genética do Weill Cornell Medical College. “O fumante acha que eles está normal, e o exame do seu médico é normal, mas sabemos que, em nível biológico, os pulmões de todos os fumantes de cigarro são anormais em algum grau”, salienta.

Mudança genética

Os problemas nos fumantes “saudáveis” começa quando as células que revestem as vias aéreas dos pulmões haviam se “ligado” aos genes de células-tronco embrionárias. Segundo os pesquisadores, esses genes normalmente se expressam em embriões em desenvolvimento para, pouco tempo depois da fertilização do óvulo, especificar a atribuição das células do novo indivíduo. São justamente esses genes que podem ser ativados tardiamente no processo de mudança celular dos fumantes.

“Ficamos surpresos ao ver que os fumantes estavam expressando esses genes de células-tronco embrionárias humanas muito primitivos”, diz Cristal. “Esses genes não funcionam normalmente em um pulmão saudável”, diz. Células de pulmões saudáveis, como as demais do corpo, têm funções específicas. São os genes das células-tronco que ativam a função de cada célula posterior. Mas, com os danos causados pelo fumo, há uma perda de controle nessa função.

Os cientistas explicam que a perda de controle das funções celulares permite que as células cancerosas se multipliquem sem qualquer restrição, levando o câncer para outros órgãos uma vez que a programação genética que os manteria em funções específicas está em desordem. Segundo a pesquisa, as células das vias aéreas dos fumantes “saudáveis” estavam nos primeiros estágios desse descontrole.

“Quando você fuma um cigarro, um pouco da programação genética de suas células de pulmão está perdida. Suas células assumem a aparência de uma célula mais primitiva. Isso não significa necessariamente que você vai desenvolver câncer, mas que o solo é fértil para o desenvolvimento da doença”, explica o pesquisador que coordenou o estudo.

Método

Para chegar ao resultado, os pesquisadores avaliaram 21 pessoas que não fumavam e eram classificadas como saudáveis e 31 pessoas que fumavam, mas que não tinham nenhum sintoma de doença pulmonar e apresentavam radiografias normais, assim como exames de tórax com resultados igualmente normais. Os médicos coletaram amostras das células que revestem as vias aéreas dos pacientes e as analisaram em laboratório. São essas células que entram em contato com a fumaça aspirada no fumo e é por elas que começa a manifestação do câncer de pulmão.

Os resultados dos testes mostraram que exames de rotina não são suficientes para mostrar um real estado de saúde, levando os fumantes a acharem que o cigarro não está causando problemas em seus corpos. “Os exames físicos, testes de função pulmonar e radiografia de tórax não são sensíveis o suficiente para revelar essas primeiras mudanças”, adverte Cristal. “A mensagem para levar para casa é: não fume. Fumar é ruim e, se você fuma, você está em risco”, diz.

Os pesquisadores envolvidos no estudo afirmam que mais testes são necessários para determinar porque a exposição ao fumo gera tais mudanças. O objetivo é identificar áreas específicas no corpo mais sensíveis às mudanças celulares para criar novos modos de tratamento. “Esse estudo nos dá pistas sobre como as células se comportam no desenvolvimento do câncer de pulmão, o que pode nos ajudar a desenvolver terapias”, diz Cristal.

Além dos tratamentos, os pesquisadores esperam que a recente pesquisa possa lançar as bases para a prevenção do câncer de pulmão. Segundo ele, 20% da população dos EUA continua a fumar, apesar dos altos impostos e de informações sobre os perigos do cigarro. “Entender esses primeiros eventos, portanto, nos dará pistas para nos ajudar a desenvolver maneiras de proteger os pulmões”, destaca.

Redação

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