Médico brasileiro enfrenta vírus Ebola em Serra Leoa

Enviado por JNS
 
Médico brasileiro corre o risco de morte ao tratar de doentes com o virus Ebola
 
Por Rui Martins, para o Correio do Brasil
 
 
O médico brasileiro Paulo Sérgio Leal Reis, formado pela UniRio, trabalhou com os índios no norte do Brasil e, faz 10 anos, trabalha com a organização internacional Médicos sem Fronteiras em missões diferentes. Ele está num centro de atendimento da MSF em Serra Leoa, enfrentando o vírus Ebola.
O número de mortos no pior surto de Ebola no mundo subiu, nesta quarta-feira, para 932, depois que 45 pacientes morreram entre 2 e 4 de agosto, informou a Organização Mundial de Saúde (OMS).
 
Com 108 novos casos suspeitos, prováveis ​​ou confirmados no mesmo período, o número total chega a 1.711. Das mortes recentemente notificadas, 27 foram na Libéria, que teve 516 casos e 282 mortes pela doença desde que o surto começou, em fevereiro.
 
A Guiné, onde foi identificado o primeiro foco, teve 10 novos casos e 5 mortes, enquanto em Serra Leoa, 45 novos casos aumentaram o número total para 691, com 13 mortes recentemente notificadas, elevando o número de mortos no país para 286.

 
Na Nigéria, o quarto país a ser afetado, o número de casos suspeitos subiu de 4 para 9. Os dados da OMS incluem uma morte na Nigéria, de um homem que passou mal ao chegar no país de avião, em um voo que saiu da Libéria, via Gana e Togo.
 
– Quais as maiores dificuldades locais?
 
– Podemos dividi-las em dois grupos: uma tem relação com a comunidade, que não tem muita informação, tem muito medo e desconfiança, e isso dificulta o acesso e detecção dos caos de Ebola, dificultando o controle da epidemia. A outra dificuldade é a nossa relação com os próprios pacientes, pois temos de usar uma roupa de proteção muito forte, que dificulta o nosso trabalho. A roupa de proteção não permite que fiquemos muito tempo no isolamento com os pacientes, não permite que façamos um exame melhor do paciente e o tratamento fica difícil.
 
– Quanto tempo o senhor aguenta ficar com essa roupa de astronauta?
 
– Isso depende se o dia está quente ou não. Num dia não muito quente é de uma hora. Mas se o dia for quente, em uma hora já fico completamente esgotado. O pessoal que vem de fora fica, geralmente, doze horas por dia, com intervalos para se recuperar. Podemos recomeçar 3 a 4 vezes, mas o pessoal nacional faz umas duas entradas por turno.
 
– Um médico disse na televisão que seria preciso mudar os hábitos culturais, pois a infecção ocorre no enterro ou nas visitas aos doentes, é isso?
 
– Realmente, a influência cultural é muito grande. Eu não diria que é necessário mudar os hábitos culturais, mas ensinar às pessoas que nesses momentos é preciso mudar os hábitos tradicionais. Se não conseguirmos mudar os hábitos, não teremos como controlar a propagação da doença. Uma grande parte dos pacientes se infecta na fase funerária, quando se enterram os mortos por Ebola.
 
– Um cientista disse que a propagação dessa epidemia vai ser como fogo na floresta. Existe realmente esse risco?
 
– O risco existe e é real em termos regionais. Em termos desta parte da África, e da África em geral, a epidemia está se espalhando e vai se espalhar mais ainda. Mas o risco que se espalhe para a Europa é pequeno e poderão ser registrados apenas casos isolados que serão rapidamente controlados, sem impacto em termos de saúde pública.
 
– Mas, se o vírus chegasse às periferias pobres das cidades europeias e nas favelas brasileiras e latino-americanas, com pobreza semelhante à da África, a doença não se propagaria?
 
– Não. Mesmo no Brasil, nas áreas bem pobres, a mentalidade é um tanto diferente e a pessoa que morresse poderia infectar no máximo uma ou duas pessoas que seriam rapidamente isoladas. Por isso, saindo destas regiões, não vejo muito risco para se espalhar para outros países com uma estrutura um pouco mais organizada.
 
– Ao nível da infecção, isso vem do morcego frutívoro e das frutas que ele infecta, mas igualmente dos próprios morcegos que os seres humanos comem um tanto cru, mal assado, é isso?
 
– O reservatório inicial do vírus não está ainda muito claro, mas parece ser o morcego. A contaminação das frutas é pouco provável e não está muito claro. A causa mais provável está no consumo do próprio morcego, ou por comerem o macaco contaminado pelo morcego. Não exatamente por ter comido as frutas mordidas pelo morcego. Acho que está mais relacionado com a infecção do macaco pelo morcego.
 
– E como está o contágio homem para homem?
 
– O contágio homem para homem existe, mas só pode ser direto. Não se trata de um vírus que se propaga pelo ar. Não é um vírus que se adapta rapidamente. É um vírus muito estável; já com uns dois mil anos e que não muda. Eu acredito que não existe risco de mutação. O contágio continua sendo direto com uma pessoa infectada.
 
– O senhor acha que na África existe o risco de ocorrer como aconteceu com a Peste na Europa, quando morreram milhões de pessoas?
 
– Não acredito que morram tantas pessoas quanto na Europa, devido à característica do vírus e a maneira de transmissão, mas certamente vai se espalhar e vai matar muitas pessoas – quanto a isso não dúvida. Se não houver intervenção de órgãos governamentais e não governamentais, é certo que essa epidemia vai continuar. Vai ser preciso muito esforço para impedir que ela continue avançando.
 
– No contato com os humanos, o vírus perde força e os próximos humanos se imunizam naturalmente?
 
– Não. O corpo humano, por si só, não teria a capacidade de adaptação a esse vírus, mas é possível que se faça uma vacina. Sabemos que uma pessoa contaminada por vírus cria anticorpos e fica por eles protegida, mas não se sabe se essa proteção dura toda a vida. Em todo caso, sabemos que uma vacina seria possível com investimentos e pesquisas.
 
– Houve um filme, Outbreaks, com Dustin Hoffman, sobre um vírus que ameaçava a humanidade a ponto do Exército estar disposto a matar os infectados. Pode acontecer algo assim?
 
– Eu penso que não, mas é muito difícil se prever como as pessoas vão reagir. Aqui, as pessoas ficam com medo e, em algumas famílias, até expulsam os infectados; mas em termos de militares ou governo eu acho muito difícil, mesmo porque as pessoas podem esconder para fugir à ameaça. Ameaçar as pessoas não funciona; o que funciona é deixar as coisas bem claras.
 
– Qual é a diferença dessa epidemia de agora com as outras e por que esta parece mais ameaçadora?
 
– As outras ocorreram em lugares isolados, onde as pessoas tinham dificuldade para viajar e logo foram localizadas – se os casos forem logo identificados não se espalham. Agora, os casos ocorreram numa região menos isolada, onde as pessoas viajam muito, numa fronteira de três países. Quando o Ebola foi identificado já tinha se espalhado e saído da área central.
 
– O senhor lembrou que as famílias expulsam os mortos, mas há, também, a tradição de se lavar os mortos…
 
– Sim, existe essa tradição de se lavar o corpo antes de enterrar e convidar toda família para ser reunida antes do enterro. Isso pode levar até uma semana e se torna um ponto importante na contaminação das pessoas. Neste caso, são os cristãos que esperam a família para enterrar, enquanto os muçulmanos enterram nas 24 horas seguintes da morte.
 
 
Governo descarta casos de ebola no Brasil, mas reforça prevenção
 
Da Agência Brasil
 
 
Diante do aumento da preocupação mundial com a epidemia de ebola, o governo brasileiro está reforçando, a partir desta sexta-feira (8/8), os procedimentos em portos e aeroportos para a identificação de casos suspeitos e ativando um centro de operações de emergência para monitorar as informações sobre a doença no Brasil e no mundo. O ministro da Saúde, Arthur Chioro, descartou qualquer suspeita de casos de ebola no Brasil e considerou “improvável” a entrada de alguma pessoa infectada no país. “Não há risco de proliferação da doença no nosso país, neste momento”, frisou.
 
Segundo ele, na hipótese de alguma pessoa vinda dos países em que está ocorrendo o surto chegar ao país com sintomas da doença, ela será isolada e levada a hospitais de referência. “O Brasil tem seguido todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde. É fundamental entender que a elevação do quadro de emergência internacional significa um alerta mundial para manutenção da cooperação internacional para que se restrinja o problema aos países que estão tendo o surto”, disse Chioro.
 
Como precaução, o governo ativou o Nível 2 do Centro de Operação de Emergência em Saúde. Nesse nível uma equipe fica em alerta para agir na eventualidade de um caso suspeito da doença. “O Nível 0 é de monitoramento de casos infeccioso no Brasil e no mundo. O Nível 1 é quando estão ocorrendo casos no Brasil que possam exigir a presença de equipes do ministério”, explicou o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa.
 
O secretário disse que não há restrição de viagem aos países afetados. Segundo ele, a restrição é apenas para pessoas que queiram sair dos países do Oeste da África, onde está localizado o surto. Em Serra Leoa, Guiné-Conacri e Libéria as autoridades fazem triagens nos aeroportos para evitar que pessoas que tiveram contato com doentes deixem os países.
 
O ministro da Saúde recomendou que profissionais de saúde brasileiros só viagem para as áreas afetadas em missões oficiais do Brasil ou da Organização Mundial da Saúde (OMS).
 
Apesar do baixo risco da entrada de pessoas contaminas no Brasil, o Ministério da Saúde fará, como prevenção, a partir de amanhã (9) um alerta no aeroportos para os viajantes internacionais que possam estar com sintomas de febre, diarreia, tosse e hemorragia para procurarem as autoridades de saúde.
 
Barbosa ressaltou que a contaminação do ebola se dá pelo contato com sangue, órgãos ou fluídos corporais de animais infectados. A transmissão de humanos para humanos ocorre através do contado direto com sangue e fluídos corporais dos doentes ou mortos. “A transmissão só se inicia após o início dos sintomas. Pessoas em estágio de encubação não transmitem o vírus”, ressaltou o secretário.
 
De acordo com o Ministério da Saúde, o período de incubação do vírus é de um a 21 dias, sendo que os sintomas da doença surgem na maioria dos casos entre 7 e 14 dias após a contaminação. Uma das característica do ebola é que o início é abrupto e a doença se agrava rapidamente. Não há medicamentos específicos ou vacina e a letalidade é 68%.
 
Barbosa alertou que não há necessidade de temor da doença no brasil, principalmente porque a transmissão só ocorre por contato direto com doente. “Quem corre o maior risco nos surtos da África são os profissionais de saúde, parentes, vizinhos e membros da mesma comunidade. Não há porque ter preconceito contra uma pessoa vinda da África do Sul, por exemplo. Isso acaba criando pânico e preocupação exagerada.”
 
O ministro da Saúde reforçou que o aumento dos cuidados estão sendo tomados por precaução para que eventualmente uma pessoa em viagem internacional não se descuide caso apresente sintomas que possam estar associados ao ebola, caso ela tenha passado por países onde está havendo o surto.
 
O Ministério da Saúde informa que, de dezembro de 2013 a 4 de agosto deste ano, foram notificados no mundo 1.711 casos da doença (1.070 confirmados, 436 prováveis e 205 suspeitos) e 932 mortes.
 
Para ajudar no combate ao vírus no Oeste da África, o governo brasileiro fará uma doação de R$ 1 milhão para a OMS, além de cinco kits de medicamentos e material médico para Serra Leoa e cinco para Libéria, totalizando 15 toneladas. Quatro já foram enviados para Guiné-Conacri.
Redação

1 Comentário

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  1. Médicos Sem Fronteiras, esse

    Médicos Sem Fronteiras, esse é o DEUS eficiente, não corrupto, não capitalista, não fundamentalista. Esse é o DEUS que salva vidas e o mundo agradece por existir. De deuses desumanos e mui capitalistas, virtuais, estamos cansados e enojados de ver..

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