Jornal GGN – A América Latina entrou em nova fase da pandemia do novo coronavírus nesta semana. O anúncio foi feito pela Organização Panamericana de Saúde (OPS), que em pronunciamento feito nesta quinta (02), trouxe um balanço da região: enquanto Brasil e Chile lideram com a quantidade de contagiados, números de outros países chamam a atenção. Equador, República Dominicana, Panamá e México tiveram ápices de mortes e elevados casos por habitantes nestes territórios. A maioria tomou medidas tardias ou ainda não atendeu a recomendações de quarentena.
“Na última semana, a pandemia do Covid-19 se intensificou nas Américas”, foi a primeira frase da diretora da OPS, Carissa Etienne, no pronunciamento. Isso porque a América Latina alcançou a marca de 24.544 infectados, segundo as autoridades, até esta quinta. E se até três semanas atrás, a região detinha 0,1% dos casos no mundo, hoje já concentra 2,4%.
O Brasil foi o primeiro país a registrar um caso de coronavírus na América Latina e também um dos últimos a tomar medidas. Os dados mostram que esta falta de atuação é responsável também por fazer o país liderar no número de mortos: 327 até esta quinta e 332 hoje.
Desde a primeira confirmação, o Brasil foi o que apresentou também a curva mais alta e inclinada de contágios, como se pode verificar no gráfico publicado pela BBC News, com informações do Centro de Dados da Universidade Johns Hopkins, dos EUA:
Por outro lado, o que atingiu em menos tempo o nível dos 1.000 contagiados foi o Panamá, país de somente 4,5 milhões de habitantes. Em somente 22 dias, atingiu esta marca de riscos, um dia a menos que o Chile e dois a menos que o Equador, que também tiveram rápido avanço da pandemia. O Panamá determinou a quarentena obrigatória de maneira tardia, somente no dia 24 de março, quatro dias depois de atingir 1 mil infectados.
E pela pequena população, hoje, é também o que possui a maior quantidade de contagiados pelo número de habitantes, como se verifica nos dados abaixo. Logo em seguida, aparecem Equador e Chile, ambos com pouco mais de 18 infectados por cada 100 mil habitantes, e República Dominicana, com 12,9. Nesse mesmo cálculo, o Brasil, maior país da América Latina, registra 3,8 casos para cada 100 mil pessoas.
Covid-19 en América Latina, casos por 100.000 habitantes | |
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País | Casos |
Panamá | 35,3 |
Equador | 18,5 |
Chile | 18,1 |
República Dominicana | 12,9 |
Uruguai | 10,6 |
Costa Rica | 7,9 |
Peru | 4,4 |
Brasil | 3,8 |
Argentina | 2,8 |
Colômbia | 2,3 |
Honduras | 2,3 |
Cuba | 2,0 |
Paraguai | 1,3 |
Bolívia | 1,2 |
México | 1,2 |
El Salvador | 0,7 |
Venezuela | 0,5 |
Guatemala | 0,3 |
Haiti | 0,2 |
Nicarágua | 0,07 |
Dados da Universidade de Johns Hopkins, no dia 3 de abril de 2020. |
Apesar de servirem como métrica, estes dados não necessariamente refletem a realidade, uma vez que usam como base os números de testes realizados e informados pelas autoridades respectivas, e que países como o Equador já apresentam grande nível de sub-notificação, que são os casos não numerados – basta lembrar que 78 mortos foram diagnosticados neste país com coronavírus sem ter realizado o exame, e que centenas de corpos estão sendo enterrados semanalmente no país (leia mais aqui).
O próprio presidente do país, o impopular Lenín Moreno, admitiu a sub-notificação: “Sabemos que tanto em número de contágios, como de mortes, os registros oficiais são pequenos. A realidade sempre supera o número de testes e a velocidade com que se presta atenção”, disse, ontem, o mandatário do Equador.
É também o Panamá que registra a maior quantidade de vítimas fatais por 100 mil habitantes, chegando ao nível de 0,88. Valor alto também se verifica no Equador (0,7) e República Dominicana (0,56). Em números, o Brasil é o que lidera, atingindo 332 mortos por Covid-19 entre os números informados oficialmente.
Mortalidade por Covid-19 na América Latina |
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País | Mortos por 100.000 habitantes |
Panamá | 0,88 |
Equador | 0,70 |
República Dominicana | 0,56 |
Peru | 0.17 |
Brasil | 0,15 |
Honduras | 0,15 |
Uruguai | 0.11 |
Chile | 0,09 |
Argentina | 0,08 |
Bolívia | 0,08 |
Cuba | 0,05 |
Paraguai | 0,04 |
Costa Rica | 0,04 |
México | 0,03 |
Colômbia | 0,03 |
El Salvador | 0.03 |
Venezuela | 0,01 |
Nicarágua | 0,01 |
Guatemala | 0,005 |
Haiti | 0 |
Dados da Universidade de Johns Hopkins, no dia 3 de abril de 2020.
Enquanto por tamanho de população em relação aos números divulgados, o Brasil está à frente destes países, quando se verifica o número de mortos por contagiados, o maior país da América Latina não somente lidera o ranking, como também traz dados alarmantes: os brasileiros mortos por Covid-19 representam 4% sobre o total de infectados, enquanto que o segundo país com a maior quantidade de casos, o Chile, tem uma mortalidade de 0,5% sobre o número de contagiados.
O Peru é o sexto na lista dos mais infectados da América Latina, e entre os dados de mortos, é o quarto com 55 falecidos por coronavírus, atrás somente da República Dominicana, Equador e Brasil, e tem quase o mesmo índice que o Brasil na relação mortos por contágios (3,9%). O país foi o primeiro da região a determinar a quarentena obrigatória, no dia 15 de março.
Já o país que apresenta, em posição geográfica, o maior risco de aumento na pandemia pela fronteira com os Estados Unidos -líder no mundo em número de confirmados-, o México tem 1.510 casos na data de hoje, o que o coloca como 4º na América Latina, e 50 mortos.
Similar às posturas do Brasil, o México e a República Dominicana também vem sendo resistentes em atender as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e, juntamente com países como Honduras, Guatemala, Nicarágua e Haiti, são dos poucos países da região que ainda não adotaram a quarentena como política de proteção sanitária.
A República Dominicana, com o terceiro maior número de mortos por coronavírus, determinou apenas o toque de recolher no dia 20 de março. O México, somente nesta segunda (30), decidiu suspender “atividades não essenciais”. Juntamente com o Brasil, nenhum deles adotou quarentena ou recomendou à população o isolamento social.
“Nossa região entrou em uma nova fase, com muitos países já reportando o contágio comunitário. A pandemia na América irá escalar até que piore, antes de diminuir, como vimos acontecer em outras regiões ao redor do mundo”, alertou a diretora da Organização Panamericana de Saúde (OPS), Carissa Etienne.
Os dados utilizados nesta reportagem podem ser acessados aqui:
Abaixo, o relatório da Organização Mundial da Saúde, com o balanço das regiões:
20200403-sitrep-74-covid-19-mp
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