“Pandemia na América Latina irá escalar até que piore”: os dados da região

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

O que revelam os países que tardaram em dar respostas ou até agora não adotaram a quarentena? GGN apresenta os dados da OMS e da OPS. Nova fase se inicia

Jornal GGN – A América Latina entrou em nova fase da pandemia do novo coronavírus nesta semana. O anúncio foi feito pela Organização Panamericana de Saúde (OPS), que em pronunciamento feito nesta quinta (02), trouxe um balanço da região: enquanto Brasil e Chile lideram com a quantidade de contagiados, números de outros países chamam a atenção. Equador, República Dominicana, Panamá e México tiveram ápices de mortes e elevados casos por habitantes nestes territórios. A maioria tomou medidas tardias ou ainda não atendeu a recomendações de quarentena.

“Na última semana, a pandemia do Covid-19 se intensificou nas Américas”, foi a primeira frase da diretora da OPS, Carissa Etienne, no pronunciamento. Isso porque a América Latina alcançou a marca de 24.544 infectados, segundo as autoridades, até esta quinta. E se até três semanas atrás, a região detinha 0,1% dos casos no mundo, hoje já concentra 2,4%.

O Brasil foi o primeiro país a registrar um caso de coronavírus na América Latina e também um dos últimos a tomar medidas. Os dados mostram que esta falta de atuação é responsável também por fazer o país liderar no número de mortos: 327 até esta quinta e 332 hoje.

Desde a primeira confirmação, o Brasil foi o que apresentou também a curva mais alta e inclinada de contágios, como se pode verificar no gráfico publicado pela BBC News, com informações do Centro de Dados da Universidade Johns Hopkins, dos EUA:

Por outro lado, o que atingiu em menos tempo o nível dos 1.000 contagiados foi o Panamá, país de somente 4,5 milhões de habitantes. Em somente 22 dias, atingiu esta marca de riscos, um dia a menos que o Chile e dois a menos que o Equador, que também tiveram rápido avanço da pandemia. O Panamá determinou a quarentena obrigatória de maneira tardia, somente no dia 24 de março, quatro dias depois de atingir 1 mil infectados.

E pela pequena população, hoje, é também o que possui a maior quantidade de contagiados pelo número de habitantes, como se verifica nos dados abaixo. Logo em seguida, aparecem Equador e Chile, ambos com pouco mais de 18 infectados por cada 100 mil habitantes, e República Dominicana, com 12,9. Nesse mesmo cálculo, o Brasil, maior país da América Latina, registra 3,8 casos para cada 100 mil pessoas.

Covid-19 en América Latina, casos por 100.000 habitantes
País Casos
Panamá 35,3
Equador 18,5
Chile 18,1
República Dominicana 12,9
Uruguai 10,6
Costa Rica 7,9
Peru 4,4
Brasil 3,8
Argentina 2,8
Colômbia 2,3
Honduras 2,3
Cuba 2,0
Paraguai 1,3
Bolívia 1,2
México 1,2
El Salvador 0,7
Venezuela 0,5
Guatemala 0,3
Haiti 0,2
Nicarágua 0,07
Dados da Universidade de Johns Hopkins, no dia 3 de abril de 2020.

 

Apesar de servirem como métrica, estes dados não necessariamente refletem a realidade, uma vez que usam como base os números de testes realizados e informados pelas autoridades respectivas, e que países como o Equador já apresentam grande nível de sub-notificação, que são os casos não numerados – basta lembrar que 78 mortos foram diagnosticados neste país com coronavírus sem ter realizado o exame, e que centenas de corpos estão sendo enterrados semanalmente no país (leia mais aqui).

O próprio presidente do país, o impopular Lenín Moreno, admitiu a sub-notificação: “Sabemos que tanto em número de contágios, como de mortes, os registros oficiais são pequenos. A realidade sempre supera o número de testes e a velocidade com que se presta atenção”, disse, ontem, o mandatário do Equador.

É também o Panamá que registra a maior quantidade de vítimas fatais por 100 mil habitantes, chegando ao nível de 0,88. Valor alto também se verifica no Equador (0,7) e República Dominicana (0,56). Em números, o Brasil é o que lidera, atingindo 332 mortos por Covid-19 entre os números informados oficialmente.

Mortalidade por Covid-19 na América Latina
País Mortos por 100.000 habitantes
Panamá 0,88
Equador 0,70
República Dominicana 0,56
Peru 0.17
Brasil 0,15
Honduras 0,15
Uruguai 0.11
Chile 0,09
Argentina 0,08
Bolívia 0,08
Cuba 0,05
Paraguai 0,04
Costa Rica 0,04
México 0,03
Colômbia 0,03
El Salvador 0.03
Venezuela 0,01
Nicarágua 0,01
Guatemala 0,005
Haiti 0

Dados da Universidade de Johns Hopkins, no dia 3 de abril de 2020.

Enquanto por tamanho de população em relação aos números divulgados, o Brasil está à frente destes países, quando se verifica o número de mortos por contagiados, o maior país da América Latina não somente lidera o ranking, como também traz dados alarmantes: os brasileiros mortos por Covid-19 representam 4% sobre o total de infectados, enquanto que o segundo país com a maior quantidade de casos, o Chile, tem uma mortalidade de 0,5% sobre o número de contagiados.

O Peru é o sexto na lista dos mais infectados da América Latina, e entre os dados de mortos, é o quarto com 55 falecidos por coronavírus, atrás somente da República Dominicana, Equador e Brasil, e tem quase o mesmo índice que o Brasil na relação mortos por contágios (3,9%). O país foi o primeiro da região a determinar a quarentena obrigatória, no dia 15 de março.

Já o país que apresenta, em posição geográfica, o maior risco de aumento na pandemia pela fronteira com os Estados Unidos -líder no mundo em número de confirmados-, o México tem 1.510 casos na data de hoje, o que o coloca como 4º na América Latina, e 50 mortos.

Similar às posturas do Brasil, o México e a República Dominicana também vem sendo resistentes em atender as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e, juntamente com países como Honduras, Guatemala, Nicarágua e Haiti, são dos poucos países da região que ainda não adotaram a quarentena como política de proteção sanitária.

A República Dominicana, com o terceiro maior número de mortos por coronavírus, determinou apenas o toque de recolher no dia 20 de março. O México, somente nesta segunda (30), decidiu suspender “atividades não essenciais”. Juntamente com o Brasil, nenhum deles adotou quarentena ou recomendou à população o isolamento social.

“Nossa região entrou em uma nova fase, com muitos países já reportando o contágio comunitário. A pandemia na América irá escalar até que piore, antes de diminuir, como vimos acontecer em outras regiões ao redor do mundo”, alertou a diretora da Organização Panamericana de Saúde (OPS), Carissa Etienne.

Os dados utilizados nesta reportagem podem ser acessados aqui:

 


Abaixo, o relatório da Organização Mundial da Saúde, com o balanço das regiões:

20200403-sitrep-74-covid-19-mp

 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador