O balão e a repercussão

Em jornalismo há um velho expediente de, “jogar o balão e consolidar com a repercussão”. Divulga-se uma notícia não confirmada, e depois se vai atrás de qualquer tipo de repercussão que a valide.

No “Estadão” de hoje há uma versão desse expediente. Apurou-se em Brasília que haverá a criação de uma Secretaria de Democratização da Informação, que ficará sob a chefia da Casa Civil. Ponto.

Quem acompanhou as discussões sobre a TV digital sabe que estão entrando novas tecnologias, desde a Internet até a webtv, iptv, rádio sob ip, que exigirão novas regulamentações.

Todo país moderno já tem sua nova Lei Geral das Comunicações. Com a convergência digital, se terá que juntar legislação das telecomunicações e da radiodifusão. Há tempos a Casa Civil tem um grupo estudando o tema, e assumiu de fato as rédeas do processo. A nova Secretaria será apenas a institucionalização desse grupo e o reconhecimento da relevância do tema.

Foi interpretada como mais uma tentativa de “calar a mídia”, como foi a Ancinav -soterrada por interpretações intencionalmente incorretas. E toca a buscar repercussão. Todas as associações diretamente envolvidas com o tema –ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Abert (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) e ANJ (Associação Nacional dos Jornais), recusaram-se a comentar sob o argumento de que “as informações não são oficiais”. Ora, se houvesse qualquer indício de que as informações tivessem algum fundamento, mesmo que não fossem oficiais, é evidente que cairiam matando em cima.

Quem repercutiu? Adivinhem?

O Senador Arthur Virgílio, para quem “na prática o Planalto quer repetir o Departamento de Imprensa e Propaganda da ditadura Vargas”. E o senador Jefferson Peres, que lembrou que “as ditaduras no Leste Europeu eram chamadas de democracias populares”. Ou seja, como a Secretaria é de “democratização da informação”, e as ditaduras do Leste Europeu eram chamadas de “democracias populares”, ufa!, conseguimos a repercussão que manteve no ar o balão.

Manchete: “Oposição ataca criação de secretaria para a mídia”.

Luis Nassif

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